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O financiamento público das universidades é imoral e ineficiente

23/04/2025

O financiamento público das universidades é imoral e ineficiente

Recentemente, o presidente da Universidade de Princeton, Christopher Eisgruber, publicou no The Atlantic sua defesa do financiamento federal para universidades de pesquisa com o título O custo do ataque do governo à Colômbia. Quais são seus argumentos?

Eisgruber afirma que o sucesso do sistema universitário americano se baseia em dois fatores. Primeiro, "o desenvolvimento de fortes princípios de liberdade acadêmica" antes da Segunda Guerra Mundial, que impulsionou o progresso científico por meio da competição de ideias. Segundo, o financiamento federal às universidades de pesquisa após a guerra que acelerou os avanços acadêmicos.

Não vejo razão para contestar o primeiro argumento de Eisgruber, em princípio.

A segunda afirmação de Eisgruber não tem base racional nem moral. Subsídios governamentais podem melhorar a oferta de um bem em casos em que o setor privado sistematicamente não investe o suficiente em sua produção. A explicação econômica para esse problema está no conceito de “bens públicos”. Alguns bens beneficiam automaticamente toda a sociedade assim que são disponibilizados para apenas uma ou algumas pessoas. Dois exemplos clássicos de bens públicos são a defesa nacional e as transmissões de rádio. Se algumas pessoas pagam para defender as fronteiras de um país, aqueles que não contribuem ainda assim se beneficiam. Da mesma forma, se algumas pessoas financiam transmissões de rádio, quem sintoniza gratuitamente também aproveita. Coletivamente, todos estaríamos em melhor situação se cada um contribuísse com sua parte. No entanto, o problema dos caronas ["free riders" no termo utilizado na teoria econômica para classificar aqueles que se beneficiam de algo sem arcar com os custos] leva a um financiamento insuficiente e, consequentemente, a uma oferta abaixo do ideal de bens públicos. A tributação obriga os caronas a pagar por esses bens, desde que o governo utilize os recursos de forma eficiente na provisão desses serviços.

Esse debate sobre o financiamento público das universidades levanta duas questões óbvias. Primeiro, a pesquisa universitária é realmente um bem público? Segundo, se assumirmos que ela é, o financiamento federal investe na quantidade certa de pesquisa universitária?

As pesquisas em áreas de STEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemática) atraem financiamento privado porque são economicamente viáveis. Para evitar o problema dos caronas na pesquisa de físicos, engenheiros ou químicos, basta a aplicação da lei de patentes. Além disso, as universidades também formam alunos, e aqueles que estudam nessas áreas conseguem arcar com os custos de sua educação.

O mesmo vale para estudantes de direito, administração e economia, que podem pagar por sua formação. Mas e a pesquisa nessas áreas? Como economista, posso afirmar com total confiança que o valor marginal da pesquisa em economia é inferior a zero. Pesquisadores dessa área, tanto em universidades públicas quanto privadas, produzem milhares de artigos por ano, publicados em centenas de periódicos acadêmicos. No entanto, não há um avanço significativo na ciência econômica há mais de 50 anos. Economistas fazem pequenos ajustes em modelos teóricos existentes e atualizam estudos empíricos com novos dados. Porém, se ao menos 5% dos novos artigos de economia trouxessem insights realmente importantes, seria necessário revisar profundamente todos os livros didáticos da área a cada ano.

Os livros didáticos de economia mudaram pouco nos últimos 50 anos porque a teoria econômica também mudou pouco nesse período. Embora economistas contemporâneos publiquem alguns estudos relevantes, o financiamento estadual e federal acaba reduzindo a "relação sinal-ruído", tornando mais difícil encontrar as poucas pesquisas realmente valiosas em meio a uma crescente massa de publicações irrelevantes.

Não posso avaliar o valor líquido atual da pesquisa em direito, administração ou ciência política, mas os mesmos princípios se aplicam. As pessoas investem dinheiro privado em pesquisas que têm potencial de gerar benefícios práticos e patenteáveis. Muitos professores de faculdades de Artes Liberais conduzem pesquisas com financiamentos externos ou até sem nenhum financiamento. O financiamento público para as "principais universidades estaduais" já deve ter atingido retornos decrescentes. Se os benefícios marginais da pesquisa nessas áreas ainda não caíram abaixo dos custos marginais, isso acontecerá em breve. Além disso, algumas universidades privadas de pesquisa, como Princeton, onde Eisgruber é presidente, possuem fundos patrimoniais que chegam a dezenas de bilhões de dólares.

Eisgruber reconhece que o financiamento federal das universidades de pesquisa traz o risco de imposições políticas atreladas, mas ignora os graves vieses políticos e ideológicos que já existem entre os professores universitários. Hoje, muitas universidades funcionam como verdadeiras fábricas de propaganda. O problema mais sério, porém, é que marxistas conquistaram influência em diversas áreas das ciências sociais e humanas. Economistas rejeitam universalmente o marxismo porque ele é logicamente incoerente e empiricamente refutado. Se os marxistas estivessem apenas promovendo mitos inofensivos, essa questão não seria tão relevante. No entanto, a verdade é que o movimento marxista do século XX foi responsável pela criação dos piores regimes totalitários da história, o que não foi acidental.

A crença de Eisgruber na livre concorrência de ideias entre acadêmicos é admirável, mas também irrelevante para o ensino superior contemporâneo. Os marxistas de áreas como Sociologia, História ou Estudos de Gênero não conseguiram envolver os economistas em um debate sobre os “méritos” da análise marxiana. A competição sobre pontos muito delicados da teoria econômica continua entre os economistas. Muitos outros acadêmicos continuam a disseminar ideias que não estão apenas erradas, mas são perigosas.

Os contribuintes dos EUA estão sendo forçados a apoiar financeiramente a disseminação de propaganda de esquerda por professores universitários, grande parte da qual é neomarxista. A maioria dos americanos se opõe ao marxismo, mas não tem se oposto ao financiamento estadual e federal de professores marxistas. Os protestos anti-judaicos em Columbia desencadearam uma reação contra as universidades de “pesquisa”. O financiamento público de instituições educacionais que têm como alvo um único grupo religioso ou étnico é imoral. Entretanto, o financiamento público de uma agenda política partidária ou de um movimento ideológico é igualmente imoral.

Devemos observar também que houve um enorme aumento nas burocracias das faculdades americanas nas últimas décadas. Antes da recente expansão burocrática, as faculdades ofereciam melhor educação a custos mais baixos de mensalidades.

As faculdades modernas têm financiamento excessivo e estão gastando dinheiro de forma insidiosa. A solução para esses problemas não é simplesmente cortar o financiamento público da Universidade de Columbia. O financiamento público da pesquisa e da educação universitária não é necessário por motivos econômicos práticos nem defensável por motivos morais. Ele deve ser 100% cortado.

 

Este artigo foi originalmente publicado no Mises Institute.

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Nota: as visões expressas no artigo não são necessariamente aquelas do Instituto Mises Brasil.

Sobre o autor

D.W. MacKenzie

É professor assistente no Carroll College, em Montana, EUA.

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