Esse site usa cookies e dados pessoais de acordo com os nossos Termos de Uso e Política de Privacidade e, ao continuar navegando neste site, você concorda com suas condições.

< Artigos

Economia

Há apenas uma causa possível da próxima recessão, e não são as tarifas

10/04/2025

Há apenas uma causa possível da próxima recessão, e não são as tarifas

A bolsa de valores sofreu uma queda acentuada na semana passada e no início desta semana, após o presidente Trump anunciar a implementação de uma série de novas tarifas de importação, com valores mais altos do que a maioria dos analistas de mercado esperava. A forte onda de vendas levou muitos políticos, comentaristas e instituições financeiras a afirmarem que é mais provável do que nunca que uma recessão comece ainda este ano.

Alguns apoiadores do presidente responderam, corretamente, que o desempenho da bolsa não representa necessariamente a economia como um todo. No entanto, a maioria das principais figuras do governo e defensores de destaque da agenda de Trump admite que a política comercial adotada pode, sim, provocar um período de dificuldades econômicas. Eles argumentam que é necessário o presidente conduzir o país por um momento de dor no curto prazo se quisermos, de fato, alcançar melhorias estruturais significativas na nossa economia.

Essa é uma posição surpreendentemente honesta, e até revigorante, para um governo assumir. E é verdade. Infelizmente, a equipe do presidente adotou essa postura para justificar o aumento drástico de tarifas sobre importações, algo que não é necessário para consertar de forma significativa a economia e que só tende a provocar uma dor econômica prolongada.

Ainda assim, o fato de a equipe da Casa Branca estar disposta, ao menos, a enfrentar um período desconfortável de transição econômica já representa um avanço, especialmente num momento em que o país caminha para mais uma recessão. Isso porque esse tipo de mentalidade e firmeza política será essencial se quisermos, de fato, resolver aquilo que talvez seja o maior e mais destrutivo problema no centro da nossa economia: as próprias recessões.

Mas o primeiro passo para resolver um problema, depois de reconhecer que ele existe, é entender exatamente o que está causando esse problema. E a retórica que vimos dos dois lados ao longo da última semana sugere que ainda há muito a ser compreendido nesse sentido.

Para esclarecer um ponto que claramente causa confusão: embora seja possível que a nova rodada de tarifas anunciada por Trump venha a desencadear a próxima recessão, elas, por si só, não são capazes de causar uma recessão.

As tarifas reduzem a oferta de determinados produtos, o que eleva seus preços. Isso é doloroso para as pessoas que desejam ou precisam desses bens, mas também pode beneficiar as empresas que competem com as firmas atingidas pelas tarifas. Na prática, trata-se de uma transferência de riqueza da maioria dos consumidores e empresas para um grupo restrito de companhias “protegidas”.

Existe apenas um fator capaz de causar o tipo de desaceleração econômica generalizada que caracteriza uma recessão: a expansão artificial do crédito.

Em resumo, quando novos dólares são criados e injetados nos mercados de crédito como fundos para empréstimos, eles distorcem toda a estrutura da produção, pois não são baseados em poupança real. Isso significa que os projetos viabilizados por esses novos recursos e pelas taxas de juros artificialmente baixas não podem ser concluídos com os recursos disponíveis e, além disso, não estão alinhados com os desejos reais dos consumidores. A produção é estimulada, o que dá a impressão de que a economia está forte. Mas esse crescimento vai além do que pode, de fato, ser finalizado e vendido, e isso acaba exigindo uma correção em escala econômica. Essa correção é o que chamamos de recessão.

Hoje em dia, esse processo ocorre em larga escala graças aos cartéis bancários que chamamos de bancos centrais. Aqui nos Estados Unidos, trata-se do Federal Reserve.

E não pense que isso é algum tipo de acidente. Embora praticamente todos na economia sejam prejudicados, pelo menos em algum grau, por uma recessão, para os grandes bancos, funcionários do governo e empresas com conexões políticas que iniciam e/ou lucram com a inflação e a expansão artificial do crédito, o processo é tão lucrativo que enfrentar a recessão ainda vale muito a pena.

Embora as tarifas sejam certamente uma transferência de riqueza destrutiva para determinadas empresas nacionais que, no longo prazo, deixam o país inteiro em situação pior, o processo de expansão do crédito vai tão além que é quase difícil de compreender. Somente nas últimas décadas, ele transferiu trilhões de dólares dos americanos comuns para algumas das empresas mais ricas do setor financeiro e de outros setores politicamente conectados, bem como para os funcionários do governo e políticos que participam de todo o processo.

E, apesar do que provavelmente te ensinaram na escola, esse esquema foi a causa de todas as recessões da história dos Estados Unidos. A Grande Depressão foi desencadeada pelo colapso da bolsa em 1929 e agravada pelo intervencionismo de Hoover e FDR, além das sufocantes tarifas Smoot-Hawley, mas, sua verdadeira causa foi a intensa expansão de crédito durante os “loucos” anos 20.

A Grande Recessão de 2008 foi desencadeada pelo colapso da bolha imobiliária subprime, mas foi causada pela expansão de crédito que ocorreu nos anos 1990 e início dos anos 2000. E, embora a próxima recessão possa muito bem ser iniciada pela reação do mercado às tarifas impostas por Trump, sua causa real será a agressiva expansão de crédito que aconteceu nos anos posteriores à crise de 2008 e, principalmente, durante a pandemia de covid-19.

Essa distinção entre o gatilho e a causa é fundamental, porque, por mais prejudiciais que tenham sido os colapsos do mercado, as tarifas e as bolhas especulativas, nenhum deles teria provocado uma recessão completa sem todos os investimentos malsucedidos (ou malinvestiments, na terminologia austríaca) gerados pela expansão artificial do crédito. É como a diferença entre jogar um fósforo aceso sobre uma laje úmida de concreto ou em um campo seco, tomado por capim inflamável ao vento.

Todos os malinvestiments gerados nos últimos anos pela política de expansão artificial de crédito do Fed tornaram inevitável uma correção econômica grande e dolorosa em algum momento. Se quisermos realmente escapar desse pesadelo recorrente de inflação permanente e recessões intermináveis, precisamos de um governo, e de uma população, que compreenda a verdadeira causa do problema e que tenha resiliência e disciplina para enfrentar a dor econômica de curto prazo que uma solução definitiva exige.

 

Este artigo foi originalmente publicado no Mises Institute.

_____________________________________________

Nota: as visões expressas no artigo não são necessariamente aquelas do Instituto Mises Brasil.

Sobre o autor

Connor O’Keeffe

Possui mestrado em economia e bacharelado em geologia.

Comentários (8)

Deixe seu comentário

Há campos obrigatórios a serem preenchidos!