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Economia

O primeiro ministro do Reino Unido está matando o crescimento econômico

14/03/2025

O primeiro ministro do Reino Unido está matando o crescimento econômico

O primeiro-ministro Keir Starmer prometeu "garantir o maior crescimento sustentado entre as nações do G7" antes das eleições gerais do ano passado. No entanto, sob o novo governo, a economia do Reino Unido continua enfrentando dificuldades para crescer. O PIB apresentou crescimento positivo na primeira metade de 2024, mas estagnou na segunda. No terceiro trimestre de 2024, o crescimento foi de 0,0% em relação ao trimestre anterior, apesar das previsões indicarem pelo menos 0,1%. O setor de serviços do Reino Unido registrou uma queda de 0,1%, com o setor financeiro e de seguros – que representa 8% do PIB britânico – sofrendo uma redução de 0,6% na atividade.

Isso é relevante porque o setor financeiro tem sido uma das vantagens comparativas do Reino Unido desde o final da década de 1980. Embora o investimento empresarial tenha aumentado 1,9% no terceiro trimestre, esse crescimento foi parcialmente anulado por uma queda de 0,6% na formação bruta de capital fixo, um indicador crucial do clima econômico geral e dos incentivos à expansão dos negócios.

Starmer e a chanceler Rachel Reeves afirmaram que os desafios econômicos herdados da pandemia, do Brexit e da invasão russa da Ucrânia dificultaram o cumprimento de suas promessas de crescimento. No entanto, o setor da construção cresceu 0,7% no terceiro trimestre de 2024, e o governo anunciou recentemente reformas, como a flexibilização de algumas restrições ambientais (green belt) e a redução da influência dos chamados NIMBYs (movimento "Not in My Backyard"), que tradicionalmente se opõem a novos empreendimentos e mudanças no planejamento urbano. Essa reforma pode facilitar a construção de moradias, impulsionando ainda mais o setor da construção e fomentando o crescimento econômico. A decisão demorou a ser tomada, mas antes tarde do que nunca.

O Reino Unido ainda está longe de ter um ambiente propício para um crescimento econômico sólido. De acordo com a teoria econômica, o crescimento não é um fenômeno conduzido diretamente pelo governo. Medidas governamentais podem ajudar ou atrapalhar, mas, no geral, o crescimento é um fenômeno multifatorial impulsionado por indivíduos e empresas.

Um dos fatores essenciais é a segurança dos direitos de propriedade privada. Isso incentiva empreendedores e investidores a se engajarem em atividades econômicas legais e a alocar recursos nos setores que consideram mais atraentes e rentáveis. Quando há menos riscos de intervenção governamental ou interferência política, o ambiente de negócios se torna mais previsível e favorável ao investimento. A intervenção do governo, muitas vezes, se manifesta por meio de regulamentações excessivas, altas cargas tributárias e políticas ambientais que elevam os custos de energia e impõem encargos financeiros às empresas. Isso resulta no aumento do custo de capital e na redução dos incentivos para investir, especialmente em novos negócios.

Outro fator crucial é um mercado de bens e serviços funcional, regido pela oferta e demanda. O mecanismo de preços deve atuar como um sinal para empreendedores e investidores, indicando o que os consumidores desejam e quanto custaria atender essa demanda. Isso permite um cálculo econômico eficiente, avaliando os riscos envolvidos na formação ou alocação de capital, na contratação de mão de obra, na compra de equipamentos e insumos produtivos, e no tempo de espera pelo retorno sobre o investimento.

Por fim, um mercado financeiro desenvolvido é fundamental para fornecer crédito a quem precisa. Um sistema bancário regulado pelas forças de mercado (e não excessivamente burocratizado) deve garantir o cumprimento de contratos e oferecer taxas de juros competitivas que sejam atraentes tanto para credores quanto para tomadores de empréstimo.

Uma avaliação da posição do Reino Unido em relação a esses fatores é essencial para determinar se a prioridade do governo no crescimento econômico pode ser levada a sério.

O Reino Unido sempre teve uma reputação de destaque na preservação dos direitos de propriedade ao longo de sua história moderna, provavelmente porque foi um dos berços do Iluminismo, movimento que consolidou os princípios de uma sociedade liberal baseada em direitos naturais - entre os quais a propriedade é um dos mais centrais. No entanto, de acordo com o Índice de Liberdade Econômica de 2024 da Heritage Foundation - que avalia 12 indicadores de liberdade em uma escala de 0 a 100 -, a pontuação do Reino Unido em direitos de propriedade caiu ligeiramente de 95,1 em 2023 para 94,6 em 2024. Embora essa queda não seja alarmante, ainda vale a pena questionar os motivos por trás dela.

O índice de carga tributária do Reino Unido foi de 65,4 em 2021 e 2022, mas caiu para 62,3 em 2024, indicando um aumento no peso dos impostos para empresas e indivíduos, o que pode impactar negativamente o investimento e o desenvolvimento dos negócios. Embora o país esteja em uma situação melhor nesse quesito do que algumas nações europeias como França e Alemanha, outros países do continente, como Irlanda (78 pontos em 100), Islândia (73,6 pontos) e Suíça (70,4 pontos), apresentam um desempenho superior.

O indicador de gastos governamentais, que mede o tamanho do governo, caiu de 41,9 em 2023 para 34,3 em 2024, refletindo um aumento na participação dos gastos públicos no PIB. Em termos gerais, quanto maior o governo e seus custos, menos recursos restam para a atividade econômica privada. Isso ocorre porque o governo tende a aumentar os empréstimos para financiar seus programas e déficits orçamentários, reduzindo o capital disponível para que as empresas invistam e cresçam.

A liberdade empresarial e a liberdade do mercado de trabalho são dois indicadores que vêm apresentando tendências positivas nos últimos anos. Em 2024, a primeira atingiu 82,7 pontos e a segunda 63,2, em comparação com 79,1 e 62,2, respectivamente, em 2023. No entanto, as notícias vindas do setor empresarial e de potenciais investidores que poderiam impulsionar o mercado não são animadoras. Segundo o Telegraph, “mais de 6.000 milionários deixarão o Reino Unido rumo à União Europeia até o final de dezembro para evitar o aumento de impostos promovido pelo Partido Trabalhista…”. Já o Investment Migration Insider, outra fonte que monitora o clima de negócios no país, relatou que o “Reino Unido perdeu 10.800 milionários em 2024” - o equivalente a um milionário deixando o país a cada 45 minutos! Esse êxodo representa uma tendência preocupante e um mau sinal tanto para o ambiente de negócios britânico quanto para o crescimento econômico como um todo.

Se o Reino Unido deseja alcançar crescimento econômico e elevar o padrão de vida da população - como afirma ser a prioridade do governo -, será necessário aumentar significativamente seus índices de liberdade econômica. Só assim o país poderá criar um ambiente atrativo o suficiente para aqueles dispostos a gerar valor para a sociedade por meio do empreendedorismo e do investimento.

 

Este artigo foi originalmente publicado no Mises Institute.

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Nota: as visões expressas no artigo não são necessariamente aquelas do Instituto Mises Brasil.

Sobre o autor

Roham Jaberi

É mestre em Finanças pela University of Kent, Reino Unido. Foi jornalista econômico no Irã antes de vir para o Reino Unido, e esteve envolvido na tradução de obras de Deirdre McCloskey, Ayn Rand e Johan Norberg para o farsi. Atualmente, é assistente de pesquisa no Institute of Economic Affairs, um think tank de livre mercado sediado no Reino Unido.

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