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Nosso pesadelo de cinco anos finalmente acabou?

10/03/2025

Nosso pesadelo de cinco anos finalmente acabou?

A confirmação de Robert F. Kennedy Jr. como Secretário de Saúde e Serviços Humanos dos EUA representa a rejeição definitiva à resposta adotada para a Covid.

A estratégia de lockdown até a vacinação foi o maior esforço já registrado na história envolvendo governos e indústrias em escala global. Tudo foi estruturado para transferir riqueza para setores “vencedores” (indústria farmacêutica, lojas de compras online, serviços de streaming e educação a distância), fragmentar e controlar a população e fortalecer o poder da parte administrativa do estado.

Até 2021, Robert F. Kennedy Jr. havia se tornado o crítico mais vocal, erudito e bem-informado do esquema. Em dois livros brilhantes – The Real Anthony Fauci e The Wuhan Cover-Up –, ele documentou toda a operação e traçou a evolução da indústria pandêmica desde sua criação no pós-guerra até os dias atuais. Era impossível ler essas obras e continuar enxergando o conluio corporativista da mesma forma.

As circunstâncias que levaram à sua nomeação para o Departamento de Saúde e Serviços Humanos (HHS) foram, por si só, improváveis e notáveis. Percebendo que o presidente Biden era um candidato fraco – alguém que impôs máscaras e vacinas à população e promoveu uma censura brutal na tecnologia e na mídia –, Kennedy decidiu concorrer à presidência, presumindo que haveria uma disputa aberta dentro do partido. Não houve, e ele foi forçado a lançar uma candidatura independente.

Esse esforço foi prejudicado pela dinâmica política de sempre que inviabiliza candidaturas de terceiros partidos – barreiras excessivas para inclusão nas cédulas eleitorais, somadas à lógica implacável da Lei de Duverger. Isso deixou sua campanha em uma situação difícil. Ao mesmo tempo, duas grandes mudanças políticas ficaram evidentes: o Partido Democrata havia se transformado essencialmente em um braço do Estado administrativo, com um verniz ideológico progressista, enquanto o Partido Republicano estava sendo tomado por dissidentes dos democratas, na prática criando um novo Partido Trump a partir dos fragmentos dos dois anteriores.

O restante se tornou lendário. Trump se aliou a Elon Musk para fazer com o governo federal o que fez ao assumir o Twitter: tornar a empresa privada, eliminar ativos infiltrados do Estado e demitir quatro em cada cinco funcionários. No meio disso tudo, enfrentando uma onda assustadora de ataques legais, Trump escapou por pouco de uma tentativa de assassinato. O episódio trouxe à tona memórias terríveis sobre o pai e o tio de RFK Jr., o que acabou gerando conversas sobre uma possível união de forças.

Em questão de semanas, surgiu uma nova coalizão que reuniu antigos adversários, quando muitos grupos e figuras perceberam, quase simultaneamente, que tinham um interesse comum em desmantelar o cartel corporativista. Com a plataforma X agora livre para alcançar o público, nasceu o movimento MAGA/MAHA/DOGE.

Trump venceu e escolheu RFK Jr. para liderar a agência de saúde pública mais poderosa do mundo. O último obstáculo era a confirmação pelo Senado, mas ela foi garantida por meio de uma triangulação política brilhante que tornou extremamente difícil votar contra.

No panorama geral, a magnitude dessa mudança sísmica na política americana pode ser medida pelo alinhamento dos votos no Senado. Todos os republicanos, menos um, votaram a favor do herdeiro mais proeminente do clã democrata para comandar a saúde pública, enquanto todos os democratas votaram contra. Isso, por si só, já é impressionante – e um testemunho do poder do lobby farmacêutico, que, durante as audiências, foi exposto como a mão invisível por trás dos oponentes mais fervorosos da confirmação.

Nosso pesadelo acabou? Ainda não. Escrevendo com menos de dois meses do segundo mandato presidencial de Donald Trump, ainda não está claro quanta autoridade ele realmente exerce sobre o gigantesco poder executivo. Aliás, nem há consenso sobre o tamanho exato desse setor: algo entre 2,2 milhões e 3 milhões de funcionários e algo entre 400 e 450 agências. O desperdício financeiro nesse sistema é inimaginável e muito pior do que até o mais cínico poderia supor.

Cinco ex-secretários do Tesouro publicaram um artigo no New York Times com uma revelação chocante. “O sistema de pagamentos da nação sempre foi operado por um pequeno grupo de funcionários de carreira apartidários.” Isso inclui um cargo chamado de fiscal assistant secretary – uma posição que, por oito décadas, foi reservada exclusivamente a servidores de carreira para garantir imparcialidade e confiança pública no manuseio e pagamento de fundos federais.

Não há necessidade de ler nas entrelinhas. Isso significa que nenhuma pessoa eleita pelo povo, e ninguém nomeado por um presidente eleito, teve acesso direto às contas do governo federal desde 1946. Essa realidade é inacreditável. Nenhum dono de empresa aceitaria ser impedido de acessar os registros contábeis e os sistemas de pagamento. E nenhuma companhia pode vender ações ao público sem auditorias independentes e transparência financeira.

No entanto, quase 80 anos se passaram sem que essas regras se aplicassem a essa gigantesca entidade chamada governo federal. Isso significa que US$ 193 trilhões foram gastos por uma instituição que nunca passou por uma fiscalização detalhada do público e que nunca atendeu às exigências normais enfrentadas por qualquer empresa diariamente.

A rotina em Washington sempre foi tratar líderes eleitos e seus nomeados como figuras temporárias e transitórias, pessoas que vêm e vão sem perturbar o funcionamento normal da máquina governamental. Esta nova administração parece determinada a mudar isso, mas a tarefa é incrivelmente difícil. Apesar do amplo apoio que MAGA/MAHA/DOGE tem neste momento e do número crescente de pessoas desse movimento sendo inseridas na estrutura de poder, elas ainda são superadas em número e estratégia por milhões de agentes do antigo regime.

Essa transição não será fácil – se acontecer de fato.

A inércia do sistema tradicional é imensa. Mesmo na questão da saúde e pandemias, já há sinais de confusão. A CBS News noticiou que Gerald Parker, um leal a Fauci e defensor das vacinas de mRNA, será o chefe do Escritório da Casa Branca para Preparação e Resposta a Pandemias (OPPR). A reportagem citou apenas “autoridades de saúde” anônimas e a nomeação foi celebrada por Scott Gottlieb, membro do conselho da Pfizer e um dos responsáveis por convencer Trump a apoiar os lockdowns em 2020.

Enquanto isso, a Casa Branca ainda não confirmou essa nomeação. Não sabemos sequer se o OPPR, criado por mandato do Congresso, será financiado. O repórter se recusa a revelar suas fontes – o que levanta a questão: por que qualquer nomeação ligada à saúde deveria estar envolta em tamanha aura de sigilo e intriga?

Se o Dr. Parker de fato assumir esse cargo e uma nova emergência sanitária for declarada – desta vez por gripe aviária –, o HHS e Robert F. Kennedy Jr. não terão qualquer poder de decisão.

Os problemas maiores giram em torno de uma questão fundamental: o presidente realmente comanda o poder executivo? Ele pode contratar e demitir? Ele pode decidir como gastar ou não gastar dinheiro? Ele pode definir políticas para as agências?

Poderíamos supor que a resposta a todas essas perguntas está no Artigo 2, Seção 1 da Constituição: "O Poder Executivo será investido em um Presidente dos Estados Unidos da América." No entanto, essa frase foi escrita quase 100 anos antes de o Congresso criar algo chamado serviço público, que não aparece em lugar algum na Constituição. Esse quarto ramo do governo cresceu tanto em tamanho e influência que agora domina tanto a Presidência quanto o Legislativo.

Os tribunais terão que resolver essa questão, e já há uma avalanche de processos contra o novo governo por ousar assumir o controle das agências e de suas atividades – algo pelo qual o presidente deveria, necessariamente, ser responsabilizado. Os tribunais federais inferiores parecem querer reduzir o presidente a uma figura meramente simbólica, enquanto a Suprema Corte pode ter uma visão diferente.

A tão alardeada “crise constitucional” nada mais é do que uma tentativa de restaurar o desenho original do governo conforme previsto na Constituição.

É nesse cenário que RFK Jr. assume o comando do HHS e de todas as suas subagências – as mesmas que desempenharam um papel crucial na supressão da liberdade e dos direitos nos últimos cinco anos. Sua confirmação é uma rejeição simbólica das políticas públicas mais abusivas já registradas. E, ainda assim, essa rejeição é apenas implícita: não houve comissão investigativa, nenhum reconhecimento oficial de erros, ninguém foi realmente responsabilizado e não há nenhuma prestação de contas real.

O momento atual nos dá razões para brindar com champanhe, mas fiquem sóbrios rapidamente. Ainda há um longo caminho pela frente e barreiras imensas a serem superadas antes que possamos nos considerar verdadeiramente protegidos do complexo corporativista/estatista e de suas tentativas constantes de roubar direitos e liberdades do público. Enquanto isso, como se costuma dizer, mantenham esses novos indicados em seus pensamentos e orações.

 

Este artigo foi originalmente publicado no Brownstone Institute.

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Nota: as visões expressas no artigo não são necessariamente aquelas do Instituto Mises Brasil.

Sobre o autor

Jeffrey Tucker

É Diretor-Editorial do American Institute for Economic Research. Ele tambÉm gerencia a Vellum Capital, é Pesquisador Sênior do Austrian Economic Center in Viena, Áustria.

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