Filosofia
Sim, Marx defendia a violência política e a repressão
E nós podemos provar
Sim, Marx defendia a violência política e a repressão
E nós podemos provar
Recentemente, fiquei surpreso ao ler um longo artigo (de forma bastante inusitada) no Wall Street Journal. Jacob Berger, professor de filosofia no Lycoming College, em Williamsport, Pensilvânia, publicou um artigo no WSJ em 23 de janeiro com o título “Por que os apoiadores do MAGA deveriam ler Marx”, no qual escreveu:
“Diante do histórico de regimes comunistas sanguinários, como a Rússia de Stálin, a China de Mao e o Camboja de Pol Pot, é tentador concluir que Marx incentivava a tirania. No entanto, Marx não defendia a violência nem a repressão política e certamente ficaria horrorizado com as atrocidades cometidas em seu nome. Ele pregava a revolução, mas idealizava uma transição do capitalismo para o comunismo de forma pacífica e democrática, semelhante à Revolução de Veludo, que libertou a Tchecoslováquia do domínio soviético em 1989.”
O Marx ao qual o professor Berger se referia era Karl, não Groucho. Então, reli esse parágrafo, achando que talvez meus olhos estivessem me pregando uma peça. Karl Marx “não defendia a violência nem a repressão política”? Essa não é a lembrança que tenho, e creio já ter lido tudo o que esse escriba boêmio escreveu, seja com canetas ou giz de cera. Ele “idealizava que a transição do capitalismo para o comunismo fosse pacífica e democrática”? Será que perdi alguma coisa em tudo que li sobre o marxismo? Marx defendia a “ditadura do proletariado”. Ditadura pode, em algum momento, ser consensual e pacífica?
Meu grande amigo e editor do Spectator, Paul Kengor, sempre incentiva as pessoas a lerem O Manifesto Comunista. Foi nesse texto que Marx e seu benfeitor e colaborador Friedrich Engels atacaram o capitalismo e traçaram sua visão para um futuro socialista/comunista. Paul costuma repetir uma famosa observação de Ronald Reagan: “Como saber se alguém é comunista? Ele é alguém que lê Marx e Lenin. E como saber se alguém é anticomunista? Ele é alguém que entende Marx e Lenin.”
O que me pareceu um revisionismo descarado no artigo do professor Berger me levou a seguir a sugestão de Paul. Reli O Manifesto Comunista, provavelmente pela terceira ou quarta vez – e cada uma delas foi dolorosa. Cheguei à conclusão inevitável de que o professor Berger simplesmente não o compreende.
Apesar da recorrente idolatria a Marx por parte da academia de esquerda, O Manifesto soa, para uma pessoa razoável e reflexiva, como um absurdo inacreditável. É um emaranhado de bobagens escritas em tom grandioso, como se tivessem sido inventadas por completos ineptos. Parece algo que um curandeiro inventaria ao diagnosticar erroneamente um problema e prescrever o tratamento totalmente errado – como se um paciente com dor de dente precisasse ter os pés amputados.
O texto é uma sucessão de simplificações grosseiras: tudo, incluindo o que uma pessoa pensa e como pensa, é reduzido à rígida “classe” econômica na qual nasceu. Todos são ou opressores ou vítimas indefesas da opressão. A vida se resume a conflito.
As generalizações do livro são tão amplas e infundadas que chegam a ser ridículas e vazias – como a afirmação de que, se você for um patrão capitalista do sexo masculino (um “burguês”, no termo pejorativo de Marx), verá sua esposa apenas como “um mero instrumento de produção”. Ao mesmo tempo, você e seus colegas capitalistas “sentem o maior prazer em seduzir as esposas uns dos outros”. As pessoas são reduzidas a caricaturas e homogeneizadas no liquidificador marxista, de modo que nenhuma exceção possa comprometer os estereótipos pré-concebidos que sustentam a narrativa marxista.
Em certo ponto, Marx e Engels soltam esta baboseira pretensiosa: “Mas o trabalho assalariado cria alguma propriedade para o trabalhador? Nem um pouco.” Isso mesmo. “Nem um pouco”, proclamam os dois pseudo-intelectuais. Ninguém, em lugar nenhum, conhece um trabalhador que, depois de receber seu salário, possua alguma coisa. Nunca ninguém viu ou ouviu falar de um trabalhador que economiza, investe, abre um negócio ou melhora sua condição econômica acumulando patrimônio.
Ah, pensei, com certeza Marx e Engels colocaram uma nota de rodapé sobre isso. Vou olhar no final da página para descobrir a fonte desse absurdo… Ops, nenhuma nota de rodapé. Nada! Os autores desse panfleto raivoso, disfarçado de “manifesto”, esperam que você simplesmente acredite neles. E é melhor não discordar, pois, com arrogância desmedida, eles afirmam: “As críticas ao comunismo feitas sob uma perspectiva religiosa, filosófica ou, de modo geral, ideológica não merecem um exame sério.”
Voltemos ao parágrafo que citei do artigo do professor Berger. Ele quer nos convencer de que Marx era um sujeito pacífico. Ao reler O Manifesto Comunista, procurei qualquer indício de que Marx se opunha à violência. Encontrei o oposto - página após página.
Marx desprezava a religião, mas posava de profeta. A história, segundo ele, marchava inevitavelmente para um futuro comunista, no qual todo governo magicamente “desapareceria” após um período de “ditadura do proletariado”. Ele nunca explicou por que alguém com poder absoluto decidiria, de repente e por conta própria, declarar: “Valeu, pessoal, estou indo embora.” Marx sabia disso por meio de cartas de tarô, leitura de mãos ou um tabuleiro Ouija? Ele consultava entranhas de animais? De onde vinha essa certeza absoluta sobre o futuro?
Não me pergunte. Eu não acredito em feitiçaria nem em previsões esotéricas. Mas fica óbvio em O Manifesto que Marx (e seu camarada Engels) viam a violência como um elemento inevitável para alcançar o objetivo comunista. Considere este trecho:
“O proletariado usará sua supremacia política para arrancar, gradualmente, todo o capital da burguesia, centralizar todos os instrumentos de produção nas mãos do Estado, ou seja, do proletariado organizado como classe dominante; e aumentar o total das forças produtivas o mais rapidamente possível.”
É possível centralizar todos os instrumentos de produção nas mãos do Estado de forma pacífica? O professor Berger pode achar que sim, mas Marx não. Continue lendo:
“Claro, no começo, isso não pode ser realizado exceto por meio de incursões despóticas sobre os direitos de propriedade e sobre as condições da produção burguesa; por meio de medidas, portanto, que parecem economicamente insuficientes e insustentáveis, mas que, no decorrer do movimento, superam a si mesmas, necessitam de novas incursões sobre a antiga ordem social e são inevitáveis como um meio de revolucionar completamente o modo de produção.”
Isso é um eufemismo para “Vamos ter que arrebentar muita gente.”
O Manifesto afirma que “a teoria dos comunistas pode ser resumida em uma única frase: Abolição da propriedade privada.” Talvez Marx tenha previsto que um futuro professor Berger ignoraria esse trecho, então fez questão de reforçá-lo com esta afirmação categórica: “Vocês nos acusam de querer acabar com sua propriedade. Exatamente: é exatamente isso que queremos.”
Marx critica os socialistas que não entendem a necessidade da violência revolucionária. Ele zomba daqueles que ingenuamente “desejam alcançar seus objetivos por meios pacíficos”, dizendo que essa abordagem está “condenada ao fracasso”. Ao ler esse trecho de O Manifesto, você pensa em um pacifista como Mahatma Gandhi ou em um fanático com tendências violentas?
“Em resumo, os comunistas em todos os lugares apoiam todo movimento revolucionário contra a ordem social e política existente. (…) Eles declaram abertamente que seus objetivos só podem ser alcançados pela derrubada à força de todas as condições sociais existentes.”
A “derrubada violenta” não de algumas, mas de “todas as condições sociais existentes”. Como o professor Berger consegue afirmar que um homem que assinou uma declaração tão assustadora era um pacifista?
Talvez a parte mais famosa de O Manifesto seja a lista de declarações concisas sobre o que os comunistas querem - conhecida como os “Dez Princípios” do documento. Seriam apenas sugestões inofensivas para uma vida melhor ou instruções explícitas para a violência que o professor Berger nega? Vamos analisar algumas delas:
Abolição da propriedade da terra e destinação de todas as rendas fundiárias para fins públicos. Como essa “abolição” deve acontecer? Ou todo mundo entrega voluntariamente suas terras ao governo, ou o governo aparece armado para tomá-las. A primeira opção é coisa de conto de fadas infantil; a segunda é a única realista - e está longe de ser pacífica.
Imposto de renda fortemente progressivo ou escalonado. Experimente não pagar seus impostos. Você logo descobrirá se eles são contribuições voluntárias ou não. E nem precisará ler O Manifesto Comunista para entender o que Marx queria dizer com isso.
Abolição de todos os direitos de herança. Como impedir que pais passem seus bens para os filhos? Entregando-lhes um panfleto explicando por que não deveriam fazê-lo? Boa sorte com isso. Acho melhor virem armados.
Confisco da propriedade de todos os emigrantes e rebeldes. Nada de mais aqui. Com certeza, Marx pretendia que essas expropriações fossem, no mínimo, “majoritariamente pacíficas”.
Centralização dos meios de comunicação e transporte nas mãos do Estado. Quando o governo controlar o rádio, a televisão, os jornais, a Internet e todos os outros meios pelos quais transmitimos nossos pensamentos ou nos deslocamos, com certeza nos permitirá dizer o que quisermos e ir para onde quisermos. Acorda, professor Berger.
Obrigação igual de trabalho para todos. Criação de exércitos industriais, especialmente para a agricultura. Quando os marxistas estão no poder, você vai trabalhar, queira ou não. E pode muito bem ser como um peão em algum grande exército agrícola recrutado à força.
Combinação da agricultura com a indústria; abolição gradual de toda distinção entre cidade e campo por meio de uma distribuição mais equilibrada da população pelo território. Lembra daquela cena do filme Os Gritos do Silêncio (1985), em que os comunistas cambojanos forçam os moradores das cidades a trabalhar nos campos de arroz? Eles levaram Marx a sério. Ele queria que o Estado decidisse onde você vive e trabalha. Isso pode, de alguma forma, ser feito sem violência?
Infelizmente, acho que estou insistindo demais no óbvio. Se precisar de mais provas de que Karl Marx não era apenas um “Sr. Rogers Vermelho”, leia The Devil and Karl Marx, de Paul Kengor.
Será que alguém no Lycoming College vai cobrar o professor Berger por esse atentado intelectual? Talvez algum de seus colegas acadêmicos? Não vou prender a respiração esperando por isso.
Este artigo foi originalmente publicado na Foundation for Economic Education.
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Nota: as visões expressas no artigo não são necessariamente aquelas do Instituto Mises Brasil.
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