E o preço da carne bovina?
Em setembro de 2023, analisamos o alto preço da carne bovina e como um governo grande tem sido prejudicial para o orçamento das famílias americanas. Com os índices de ações ainda mais elevados, a situação para os consumidores de carne bovina piorou.
Nos Estados Unidos, o preço da carne moída terminou o ano passado perto de um recorde, chegando a US$ 5,60 por libra. Apenas cinco anos antes - antes da pandemia de Covid -, o preço era de US$ 3,88 por libra. Entre o início da década de 1980 e o ano 2000, a carne moída custava, em média, US$ 1,50 por libra. Isso significa que, ao longo desse período de mais de 40 anos, o preço da carne moída quadruplicou.
Embora esse aumento pareça expressivo - e de fato é -, a taxa de crescimento do preço da carne é apenas um pouco maior do que o governo alega ter sido o aumento geral dos preços ao consumidor ao longo desse período, conforme medido pelo Índice de Preços ao Consumidor (CPI, na sigla em inglês). Assim, a carne bovina tem sido um indicador bastante preciso do impacto das políticas do governo e do Federal Reserve na economia doméstica. Os aumentos mais rápidos nos preços da carne e dos bens de consumo em geral ocorreram após os grandes gastos de emergência promovidos pelos governos Trump e Biden durante a pandemia de Covid, além, é claro, da enorme expansão monetária realizada pelo Federal Reserve a partir de 2020.
Como a maioria dos negócios, a pecuária e as atividades relacionadas enfrentaram aumentos significativos de custos, principalmente devido às pressões inflacionárias. Os grãos usados na alimentação do gado são impactados pela inflação monetária. Durante a inflação monetária causada pelo Fed na pandemia de Covid, houve um grande pico nos preços dos grãos. Embora muitos atribuam isso à invasão da Ucrânia pela Rússia, um grande produtor de grãos, os preços dos grãos, na verdade, atingiram o pico por volta da época da invasão, depois se estabilizaram e até recuaram com a contração da economia global. Mesmo com a queda dos preços dos grãos, o tamanho dos rebanhos sofreu enorme pressão devido à inflação gerada pela pandemia: conforme o preço dos grãos disparava, os rebanhos encolhiam. O consumo de carne bovina também caiu na contração inflacionária que se seguiu à crise financeira global.
Com os preços relativamente altos e a redução tanto nos preços dos grãos quanto no tamanho dos rebanhos, os produtores de carne bovina vivem um momento favorável temporário. No entanto, consumidores e outros elos da cadeia de suprimentos, como processadores e atacadistas, continuam pressionados. O setor é altamente competitivo e sujeito a ciclos de incerteza.
Outro impacto inflacionário na oferta e nos preços da carne bovina, muitas vezes ignorado, é a política monetária do Federal Reserve. O Fed tem mantido as taxas de juros artificialmente baixas por décadas, gerando inflação de preços. Durante a pandemia, essa política foi aplicada em uma escala massiva e só recentemente começaram as tentativas de “normalizar” as taxas de juros.
Todo corretor, investidor e agente do mercado imobiliário sabe que as taxas de juros são um fator crucial para o setor. Em meu livro The Skyscraper Curse, exploro como taxas de juros artificialmente baixas aumentam a demanda por terras, elevando seus preços. Com terras mais caras, algumas áreas antes usadas para pecuária podem ter sido compradas e convertidas para outros usos. Além disso, terrenos que poderiam servir para a expansão da criação de gado podem simplesmente ter ficado caros demais para aquisição e conversão para a produção pecuária.
É possível criar gado e produzir carne bovina com pouca terra, como os japoneses fazem com grande eficiência. No entanto, do ponto de vista econômico, é muito mais barato criar gado em pastagens naturais, desde que essas terras sejam abundantes e próximas ao mercado consumidor. A necessidade de terra também seria menor se o milho e outros grãos para ração fossem extremamente abundantes. Porém, a realidade atual é que as terras são escassas e caras, e os grãos para alimentação animal também estão custando caro - com possibilidade de ficarem ainda mais caros. Ambas essas condições de mercado são, em grande parte, impulsionadas pela inflação monetária promovida pelo Federal Reserve.
Também suspeito que a intervenção do governo em favor de ambientalistas radicais esteja desempenhando um papel nesse cenário. Esses grupos defendem com fervor a ideia de que a emissão de gases pelas vacas é um problema catastrófico e acreditam que todos deveriam ser obrigados a seguir suas convicções alimentares, como o vegetarianismo ou o veganismo. Essa postura já prejudicou seriamente a indústria de carne bovina na Europa, onde o consumo foi drasticamente reduzido e os preços dispararam. Esse tipo de interferência deve ser combatido.
Dados do site Our World in Data.
A indústria de carne bovina - incluindo todos os setores de processamento e produtos finais - também enfrenta uma base de consumidores que está experimentando uma queda na renda ajustada pela inflação. O resultado líquido é que menos americanos sequer se dão ao trabalho de parar no balcão de carnes, escolhem cortes de carne bovina mais baratos e optam por carne suína, frango e outros substitutos de proteínas mais baratos.
“A indústria de carne bovina americana está passando por uma das maiores quedas de dois anos na produção. Isso terá ramificações significativas para todos, desde os consumidores até os produtores de gado. Os consumidores enfrentarão preços de varejo mais altos do que os que tiveram em 2023.”
O consumo per capita de carne bovina nos Estados Unidos vem caindo desde que o país abandonou o padrão-ouro de Bretton Woods, mas, nos últimos anos, a queda tem sido ainda mais acentuada. Com a redução dos rebanhos e os preços nas alturas, parece improvável que essa tendência se reverta em 2025. Podemos ter algum alívio no médio prazo, mas temo pelo declínio nutricional a longo prazo que essas tendências indicam.
Com base em minhas próprias observações, o alto preço de bifes e assados deixa as pessoas irritadas. Além disso, prejudica a saúde, já que a carne bovina é altamente nutritiva e fornece proteína de altíssima qualidade. Pessoalmente, não aceito a campanha de relações públicas do governo contra a carne e a manteiga.
Uma coisa é certa: os americanos seguiram as diretrizes nutricionais oficiais, mas os resultados esperados não vieram - pelo contrário. Os índices de diabetes e obesidade atingiram recordes históricos. As mortes por ataque cardíaco diminuíram, mas isso se deve muito mais aos avanços na detecção e no tratamento, às centenas de milhares de cirurgias de ponte de safena e implantes de stents realizadas anualmente e à melhoria dos serviços médicos de emergência.
Existe uma solução mágica para os preços altos da carne bovina, suína e de frango? Na verdade, sim. Para começar, deveríamos retornar ao padrão-ouro ou, pelo menos, impedir que o Federal Reserve manipule as taxas de juros ou expanda a oferta monetária. Isso eliminaria as oscilações extremas do mercado e tornaria os investimentos mais previsíveis. No segundo dia, deveríamos liberar vastas áreas de terras controladas pelo governo federal e encerrar o programa de etanol, que desvia o milho da alimentação para a produção de combustível. A paz na Ucrânia e no Oriente Médio também liberaria mais alimentos e energia para a população global, beneficiando diretamente as pessoas mais impactadas e o mundo como um todo. Além disso, seria essencial reverter restrições ambientais e expandir a produção de petróleo e gás, o que reduziria os custos da agricultura e dos fertilizantes, além de impulsionar a produção e o emprego de forma geral.
A combinação dessas medidas aumentaria a renda real da população, reduziria significativamente o custo da carne bovina e estimularia sua produção. Em um único ciclo de produção, as famílias americanas poderiam voltar a desfrutar de seus tradicionais jantares semanais com bife.
Este artigo foi originalmente publicado no Mises Institute.
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Nota: as visões expressas no artigo não são necessariamente aquelas do Instituto Mises Brasil.
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