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Economia

Um comentário moral sobre Lula e o FGTS e um fio de esperança

15/10/2009

Um comentário moral sobre Lula e o FGTS e um fio de esperança

Acho incrível a capacidade do governo brasileiro em criar siglas que não significam nada. São nomes criados ao acaso, mas com um único significado comum: roubo. Uma CPMF e um IPVA cujo "P" deveria significar provisório, obviamente, virou permanente. Hoje, descobri mais um sigla cujo significado não é o que deveria ser. Trata-se do FGTS que, em tese, significa "Fundo de Garantia do Trabalhador Assalariado". Ou seja, o FGTS é um fundo compulsório que deveria servir como reserva para o trabalhador, proprietário daquela conta, caso ele ficasse desempregado. Sem entrar no mérito da validade do FGTS, em resumo e em tese, seria isso. Eu pago certa quantia, a empresa na qual eu trabalho, idem e, caso eu fique desempregada, saco os recursos que foram acumulados junto à Caixa Econômica Federal. Logo, o FGTS deveria ser um fundo de proteção pessoal de cada trabalhador (porque, como sabemos, as pessoas não são capazes de poupar recursos sozinhas e, por isso, o governo deve obrigá-las a fazer o melhor para elas).

Mas, segundo Luís Inácio Lula da Silva, a coisa não é bem assim. O FGTS não tem como prioridade ser um fundo de amparo ao trabalhador. Segundo o nosso presidente, a finalidade primária dessse instrumento seria "o financiamento de projetos de infraestrutura urbana e saneamento básico". Está na Folha de hoje, em matéria sobre a "permissão" governamental (olha como os governantes são bonzinhos) para que os trabalhadores possam usar os "seus" recursos aplicados no fundo para sorteios e quitação de dívidas de consórcios, dispositivo que já tinha sido vetado pelo presidente e pelo Ministério da Fazenda, que temiam que a fuga de recursos do Fundo causasse problemas para o financiamento de tais obras.

De novo, minha crítica não é sobre a obrigatoriedade do FGTS. Também não sou inocente em achar que o governo seria bonzinho e deixaria o dinheiro dos indivíduos aplicado no FGTS em paz. O que me choca e deveria ser motivo de comoção geral é a falta de vergonha e pudor do governo. Afinal, dizer escancaradamente que a proteção ao trabalhador é só uma desculpa para o Estado financiar seus projetos compulsoriamente, projetos que ele (o Estado) considera "bons", é o mesmo que admitir que está roubando a todos para beneficiar uma minoria. Mas, não, além de não ficar enrubescido, o presidente do Brasil acha que está fazendo algo bom, sob os aplausos dos papagaios de pirata de plantão que bradam aos quatro ventos que "nunca antes na história deste país se teve uma política econômica tão boa". 

Nota-se.

Nem tudo está perdido

Ainda na Folha, vejo uma notinha de pé de página dizendo que o Senado aprovou ontem um projeto de lei que elimina a multa de 40% para o empregador doméstico que demite uma empregada sem justa causa. Pena que os senadores não aproveitaram e não acabaram de uma vez com esta cláusula bizarra da CLT para TODOS os empregadores. Afinal, qual a diferença, além da quantidade, entre uma pessoa que possui uma empregada e outra que emprega mil pessoas em uma fábrica? Em tese, não somos todos "iguais" perante a lei?

Sobre o autor

Nubia Tavares

É jornalista e foi diretora de operações do Instituto Ludwig von Mises Brasil.

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