Economia
O que torna a Escola Austríaca de Economia única?
O foco está no ser humano como indivíduo
O que torna a Escola Austríaca de Economia única?
O foco está no ser humano como indivíduo
No artigo a seguir, escrito pelo professor Antony P. Mueller, umas das principais referências contemporâneas da Escola Austríaca de Economia, você vai encontrar uma descrição geral da mais tradicional escola de pensamento e entender por que ela é superior às demais escolas. As novas turmas da Pós-Graduação em Escola Austríaca estão abertas. Inscreva-se agora e saiba mais!
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A economia austríaca é uma das escolas de pensamento econômico mais distintas e intelectualmente rigorosas. Tem uma longa história que remonta ao século XVI e vem experimentando um renascimento impressionante há décadas. A Escola Austríaca, no verdadeiro sentido da palavra, originou-se no final do século XIX e recebeu o nome do fato de que os fundadores da escola vieram da Áustria. A Escola Austríaca oferece uma perspectiva única sobre a ação humana, o papel do empreendedor, o mercado, o capital e a importância da liberdade individual.
Uma das características marcantes da Escola Austríaca de Economia é a importância que a teoria atribui ao capital e ao empreendedorismo. É também a ênfase nesses fatores que distingue a economia da Escola Austríaca mais claramente do que geralmente é ensinado nas universidades hoje como "economia". Especialmente na chamada "macroeconomia", desenha-se o quadro de uma economia que sobrevive sem capital e empreendedores. É um pouco como tentar explicar a função de um automóvel, mas ignorando o papel do motor e do motorista. Mesmo na teoria do crescimento, o empreendedorismo está ausente, e o papel do capital é mistificado como algo que se expande e encolhe sem estrutura e automaticamente de acordo com a quantidade de investimento líquido dependente da renda nacional.
Outra diferença principal é que o modelo explicativo da Escola Austríaca parte do indivíduo. Não são os agregados estatisticamente construídos (como o volume de poupança e investimento, por exemplo) que são as forças causais, mas o ator econômico individual. Esse chamado "individualismo metodológico" afirma que os fenômenos sociais devem ser explicados em termos de ações e decisões de indivíduos e não em categorias coletivas abstratas, como "sociedade" ou "estado". Em outras palavras, a Escola Austríaca enfatiza que é o ser humano individual, com todas as suas preferências, restrições e conhecimentos únicos, que impulsiona a atividade econômica.
Para os seguidores da Escola Austríaca, a análise econômica é baseada na suposição de que as pessoas agem de maneira proposital, ou seja, que as decisões são tomadas intencionalmente. Essa abordagem é conhecida como praxeologia, o estudo da ação humana. A praxeologia pressupõe que as pessoas são atores, não objetos passivos ou meramente autômatos que reagem a estímulos. Cada ação que um indivíduo realiza é orientada para um objetivo e, portanto, o agente escolhe os meios que lhe parecem melhores para atingir o objetivo. A escolha de objetivos e meios é o cerne de toda ação humana, não estímulo e resposta, como afirma o chamado behaviorismo.
A Escola Austríaca enfatiza que a apreciação é subjetiva. Os indivíduos tomam suas decisões com base em suas preferências, necessidades e circunstâncias pessoais. Como cada pessoa tem preferências, objetivos e desejos distintos, ela atribui valores diferentes a diferentes bens e ações. É precisamente dessa circunstância que surgem os atos de troca, pois em uma troca não são trocados valores iguais, mas valores desiguais são expressos. O motivo da troca é que se dá o bem que se valoriza menos, a fim de obter o bem ao qual se concede uma utilidade maior. Os atos de troca são, portanto, voluntários, pois cada participante da troca ganha.
A Escola Austríaca compartilha o princípio da utilidade marginal com a teoria neoclássica da economia. De acordo com isso, o valor subjetivo que o indivíduo atribui a um bem ou serviço diminui quando mais dele está imediatamente disponível. A lei da utilidade marginal decrescente afirma que a satisfação adicional que uma pessoa obtém ao consumir cada unidade adicional de um bem ou serviço diminui à medida que mais unidades dele são consumidas. A utilidade marginal refere-se ao benefício adicional que um consumidor recebe ao consumir outra unidade de um bem ou serviço. Em outras palavras, o princípio da utilidade marginal decrescente afirma que, todas as outras coisas sendo iguais, ela diminui à medida que a quantidade consumida aumenta.
Os indivíduos escolhem diferentes recursos (meios) para satisfazer seus desejos ou objetivos (propósitos). Os recursos podem ser materiais (como dinheiro, terra ou ferramentas) ou intangíveis (como conhecimento, tempo ou trabalho). Na tomada de decisões, a utilidade marginal deve ser equilibrada com os custos marginais de uma ação. Esses custos existem como um custo de oportunidade e incluem o valor da próxima melhor alternativa que deve ser sacrificada quando uma decisão é tomada em favor de uma determinada ação.
A ação é orientada para o futuro e, portanto, está sujeita à incerteza e não apenas a riscos calculáveis. A ação humana ocorre em um mundo de incerteza e contingência. Os indivíduos agem com base em expectativas, não em certezas, e é por isso que o planejamento e a tomada de decisões são inerentemente dinâmicos. O erro é um componente inseparável da ação humana. O mercado em si é um processo constante de correção e, portanto, contrasta com o estado, no qual o imutável (estado, do latim "status") já é inerente à origem da palavra.
Como as ações humanas se desdobram ao longo do tempo, elas estão sujeitas ao princípio da preferência temporal, segundo o qual os indivíduos preferem desfrutar dos bens quanto mais próximo seu consumo estiver do presente. A interação das preferências atuais e futuras influencia a decisão sobre investimentos e poupança. O conceito de preferência temporal também é a base para explicar a taxa de juros e o curso da economia.
De acordo com a Escola Austríaca de Economia, as conjunturas são causadas por distorções na estrutura de capital, que por sua vez são o resultado da expansão excessiva do crédito pelos bancos centrais. Quando as autoridades monetárias reduzem as taxas de juros abaixo da taxa natural (a taxa de juros que corresponde à preferência temporal), isso leva a um boom nos investimentos financiados por crédito. No entanto, esses investimentos são equivocados porque as taxas de juros artificialmente baixas sinalizam informações falsas sobre as verdadeiras preferências dos poupadores. Como resultado, as empresas investem em projetos que não são economicamente sustentáveis, levando a uma correção ou colapso quando o banco central aumenta as taxas de juros ou a expansão do crédito desacelera. A teoria austríaca sublinha, portanto, a importância da moeda sólida e os perigos da intervenção do estado na economia.
A Escola Austríaca também possui uma perspectiva única sobre a teoria do capital. A abordagem enfatiza a estrutura temporal da produção, segundo a qual a conclusão dos produtos deve ser imaginada como um processo de vários estágios no qual diferentes tipos de bens de capital (ferramentas, máquinas, infraestrutura etc.) são combinados ao longo do tempo para formar um bem de consumo. O capital não é um recurso homogêneo isolado, mas é composto por vários bens de produção que são usados em diferentes estágios da produção.
Na visão da Escola Austríaca, os empreendedores desempenham o papel central no sistema econômico capitalista, reconhecendo oportunidades de lucro, antecipando mudanças no mercado, identificando necessidades não atendidas e direcionando recursos para a produção de bens e serviços para atender a essas necessidades. O empreendedorismo é baseado na incerteza sobre o futuro. O lucro empresarial específico ocorre por meio do gerenciamento bem-sucedido da incerteza. Os empresários têm de basear as suas decisões em conhecimentos imperfeitos, mas a concorrência empresarial leva à descoberta de novas oportunidades e à melhoria do atendimento ao consumidor. Nesse sentido, o processo de mercado serve como um processo de descoberta.
O próprio mercado deve ser entendido como uma ordem espontânea, como um sistema no qual a ordem surge naturalmente das ações dos indivíduos, sem a necessidade de planejamento ou direção central. Nos mercados, os indivíduos que perseguem seus próprios interesses inadvertidamente criam uma alocação eficiente de recursos. Os preços servem como sinais que ajudam os indivíduos a coordenar suas ações de maneira descentralizada.
Esse conceito é decisivo para a crítica ao planejamento central. Os economistas da Escola Austríaca argumentam que os planejadores centrais não podem ter todo o conhecimento necessário para uma distribuição eficiente de recursos em uma economia. É preciso preços de mercado que são determinados pela oferta e demanda e são o resultado das ações espontâneas de indivíduos responsáveis pela coordenação em uma economia complexa. Ao se concentrar na ação humana, a economia austríaca chega à conclusão de que o planejamento econômico central deve necessariamente falhar. Como os planejadores não têm as informações necessárias na forma de preços de mercado, eles não podem realizar uma alocação racional de capital, mesmo com a melhor vontade do mundo. A complexa teia de relações econômicas só pode ser mantida por processos de mercado impulsionados pelas ações voluntárias dos indivíduos.
Finalmente, o conceito de ordem espontânea deve ser mencionado. Essa ideia afirma que sistemas complexos, como mercados, podem ser criados e funcionar de forma eficiente sem planejamento ou gerenciamento central. Do ponto de vista da Escola Austríaca, instituições como mercados, direitos de propriedade, sistemas jurídicos e dinheiro surgem organicamente das ações e interações dos indivíduos e não são o produto do projeto estatal. Esses sistemas evoluem ao longo do tempo por meio de um processo de tentativa e erro, com normas e convenções sociais surgindo naturalmente. Por exemplo, o desenvolvimento de direitos de propriedade é visto como um processo espontâneo que ajuda os indivíduos a resolver conflitos sobre recursos escassos sem a necessidade de uma autoridade central. Essa compreensão da ordem na sociedade está em contraste direto com a visão de cima para baixo da intervenção estatal, que é central para muitas outras escolas de pensamento econômico. Embora reconheçam a necessidade de algumas estruturas legais básicas (como a proteção da propriedade privada), os economistas austríacos argumentam que a maioria das outras formas de intervenção governamental distorce a ordem natural e regularmente leva a consequências negativas não intencionais.
Infelizmente, os valiosos insights da Escola Austríaca permanecem fechados para a maioria das pessoas porque são contrários aos interesses políticos do poder. Muito desastre poderia ter sido evitado no passado até hoje se houvesse mais pessoas que enfrentassem as falsidades que são incessantemente proclamadas pelos políticos crentes no estado e sua comitiva.
Uma introdução detalhada à Escola Austríaca é fornecida pelo curso recém-publicado pelo autor na UDEMY: "Introduction to Austrian Economics. Principles of Austrian Economics and their application to the real world".
Este artigo foi originalmente publicado em Freiheitsfunken.
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Nota: as visões expressas no artigo não são necessariamente aquelas do Instituto Mises Brasil.
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