EUA - não há recuperação sem empregos
Para os incuráveis otimistas americanos que estão a tagarelar quanto à possibilidade de estar havendo uma "recuperação sem criação de empregos", convido-os a se juntarem a mim para comermos uma refeição composta de "bacon sem gordura", "omelete sem ovos" e "pão sem carboidrato". Por mais insossa que tal refeição pareça, ela ainda assim teria mais substância do que o contraditório conceito de renascimento econômico sem criação de empregos.
Aqueles
que realmente aderem à crença absurda de que - fora ganhos exponenciais de
produtividade - a economia pode se expandir ao mesmo tempo em que trabalhadores
estão sendo demitidos em massa, terão suas convicções submetidas a um grande
teste agora que está mais do que claro que a situação do emprego está
desoladora. Na semana passada, números
piores que o esperado mostraram que 263.000 empregos foram cortados nos EUA
Considerando-se que os pedidos de auxílio-desemprego - também divulgados na semana passada - vieram acima do esperado (o número de pessoas que pela primeira vez pediram auxílio subiu 17.000, indo para 551.000 pessoas), os números atuais deixam claro que o mercado de trabalho dos EUA ainda está em contração, mesmo que alguns indicadores como PIB e confiança do consumidor estejam se movendo na direção oposta.
Sim, não há dúvidas de que a sensação de pânico temporariamente se apaziguou. Porém, em entrevistas recentes, o Secretário do Tesouro Timothy Geithner tem aparentado estar falando de outro planeta quando faz suas descrições sobre a fictícia recuperação na qual o país se encontra - ao mesmo tempo em que credita às suas próprias políticas o mérito de ter evitado o desastre. Os americanos estão mais uma vez mordendo a isca do governo: estão gastando dinheiro que não têm para comprar coisas que não podem bancar. Evidências desse comportamento estão contidas nos dados da semana passada, que mostram que, mesmo com a renda praticamente estagnada, os consumidores americanos incorreram, de agosto para setembro, no maior aumento dos gastos pessoais dos últimos dez anos! Considerando-se que esse mesmo relatório mostrou uma queda de 25% na taxa de poupança, a fonte dessa gastança está clara: o endividamento. Mas o problema é que exaurir a poupança e aumentar o endividamento não gera uma recuperação econômica.
Para que realmente haja uma recuperação, o governo americano tem de permitir que as forças de mercado reestruturem a economia. Tanto o governo quanto os indivíduos devem refrear seus gastos, para que o estoque de poupança seja reposto; as taxas de juros devem ter sua ascensão liberada (que é o que ocorreria em um livre mercado, posto que praticamente não há poupança disponível); os preços dos ativos devem ser reajustados à realidade econômica; os negócios insolventes devem quebrar; e os salários devem refletir a produtividade - e não decretos do governo. Para atingir esses objetivos, subsídios que distorcem as forças de mercado devem ser removidos e as regulamentações que solapam a competitividade da economia americana devem ser abolidas.
Porém nada disso pode ser consumado sem algum grau de aflição econômica de curto prazo. Entretanto, se os indivíduos conseguirem suportar essa dor, o retorno será uma real recuperação econômica, com vários novos empregos que não dependem de pacotes de estímulo governamentais. Caso se recusem a permitir que a economia americana vivencie uma verdadeira recessão, nunca haverá o benefício de uma verdadeira recuperação. Ao contrário: haverá apenas essa "recuperação sem empregos", uma camada de indicadores aparentemente positivos que apenas obscurecem a podridão subjacente.
Ao longo das últimas décadas, o mercado de trabalho industrial dos EUA se atrofiou ao mesmo tempo em que os empregos no setor de serviços e no setor público cresceram insustentavelmente. O equilíbrio anterior terá de ser restaurado. Novos empregos terão de vir de áreas que produzem bens; os inchados setores de serviço e governamental terão de encolher. Ao estimular justamente aqueles setores que precisam se contrair, e ao incorrer em estonteantes déficits orçamentários, o governo destrói o capital necessário para financiar os setores que precisam se expandir.
A verdade é que muitos dos empregos do setor de serviço que existem atualmente nos EUA, tais como venda de imóveis, financiamento de hipotecas, reforma imobiliária e venda de automóveis, foram criados em um ambiente de crescimento contínuo do setor imobiliário, dos preços das ações e do acesso praticamente ilimitado ao crédito barato voltado para o consumo. Com o setor imobiliário nas cinzas, o mercado de ações estagnado e o crédito exaurido, os americanos repentinamente se descobriram na posição de ter de poupar ao invés de gastar. Mas Washington vem implementando políticas que contrariam e impedem essa postura racional.
Enquanto os EUA voltavam sua economia para a gastança com consumo supérfluo, a maior parte do resto do mundo estava poupando para o futuro. Sendo assim, os EUA precisam começar a produzir mais para a exportação, de modo que possam vender bens para aqueles que possuem a poupança para comprá-los. Essa é a única maneira na qual o país poderá pagar suas dívidas, repor seu estoque de poupança, reparar sua infraestrutura e reconstruir sua base industrial.
Outro pré-requisito para qualquer real expansão econômica é o potencial de as empresas obterem lucros. Com mais regulamentações e mais impostos a caminho, este incentivo está sendo aniquilado. Com efeito, por causa de um fenômeno chamado "incerteza regimental", as atuais políticas estão na verdade incentivando as empresas a se contraírem a fim de se preparar para um ambiente de negócios mais hostil no futuro.
Economias robustas utilizam toda a sua capacidade ociosa ou a reestruturam para uma melhor utilização. Ter 17% de sua população capacitada deitada no sofá de casa ou trabalhando meio expediente na fabricação de doces é um indicativo de que as atuais políticas adotadas pelo governo americano estão debilitando a economia - ainda que os PIB esteja crescendo. Não existe algo como "recuperação sem empregos"; mas existe estupidez estimulada.
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