Mises sobre Fascismo, de novo
Lá vamos nós de novo. Há alguns anos, o estatista-nacionalista Michael Lind, que escreve em Salon, aproveita uma passagem do livro Liberalismo de Mises para argumentar que Mises era um cripto-autoritário (o que é uma baita de uma acusação para Lind, de todas as pessoas, fazer; Lind escreveu um livro inteiro que busca reviver o nacionalismo como ideologia política – lamentando até que o fascismo tenha desacreditado o nacionalismo).
A passagem de Mises como seletivamente citada:
Não se pode negar que o fascismo e movimentos similares que visam a instauração de ditaduras estão cheios das melhores intenções e que a sua intervenção salvou por enquanto a civilização europeia. O mérito que o fascismo conquistou para si mesmo viverá eternamente na história.
E é aí que Lind termina, deixando de acrescentar a conclusão real de Mises:
Mas, embora sua política tenha trazido salvação para o momento, não é do tipo que poderia prometer sucesso contínuo. O fascismo foi uma emergência improvisada. Encará-lo como algo a mais seria um erro fatal.
A passagem faz parte do livro de Mises que foi publicado em 1927, logo após Mussolini assumir o poder. Mises poderia facilmente discernir que muitas pessoas consideravam o fascismo como um salvador, e esta passagem está apenas reconhecendo essa visão comum. Essa visão durou muitos anos. Por exemplo, seis anos depois, a New York Times Magazine publicou (em 19 de março de 1933) uma enorme homenagem às glórias do professor Mussolini. O NYT escreve:
Num período em que todos os políticos ou estão sem graça ou não estão dispostos a romper com a rotina – "tradição"; quando parece que em todas as nações ocidentais a fonte da imaginação está seca, Mussolini dá a impressão de uma fonte sempre em abundância. Pode-se opor-se a qualquer forma de ditadura, mas não se pode deixar de ser estimulado pela vitalidade fenomenal desse homem que, em seu papel de ditador, comandou o solo estéril da Itália para produzir trigo dentro de um determinado tempo; ordenou que seu território fosse expandido (recuperando pântanos) sem estender suas fronteiras; e, não contente em convocar novas cidades para a existência, está mudando a face da Cidade Eterna ao desenterrar as glórias enterradas da Roma Imperial...
Para criar uma nova Itália, ele está retornando às antigas fontes de força e dominação romana. Ele deseja ressuscitar os vestígios materiais da Roma antiga porque eles são belos e inestimáveis, mas também, e principalmente, porque ao fazê-lo ele espera reviver as velhas virtudes dos homens rudes que, sob a disciplina de ferro, moldaram o poder romano ... Aqui, tive a sensação de que não há nenhum limite imposto a nenhum projeto fascista; uma estranha impressão de que tudo o que Mussolini manda é executado sem ser prejudicado por problemas, práticos ou financeiros.
E assim por diante. O NYT não estava sozinho cantando hinos a Mussolini. Quase todo o establishment foi enganado por esse golpe.
Mises, por outro lado, não se enganou. Ele foi um profeta na compreensão do mal do fascismo – e seis anos antes todos os outros ainda anunciavam as glórias desse FDR italiano (que era como as pessoas viam Mussolini). Sim, maldade. Essa é a palavra que Mises usa e que se pode facilmente ver em toda a seção, que você pode e deve ler. Os fascistas e comunistas usam os mesmos "métodos inescrupulosos... Outros ainda, com pleno conhecimento do mal que a política econômica fascista traz consigo, vêem o fascismo, em comparação com o bolchevismo e o sovietismo, como pelo menos o mal menor. Para a maioria de seus apoiadores e admiradores públicos e secretos, no entanto, seu apelo consiste justamente na violência de seus métodos".
Mises condena claramente essa visão, apontando que é puro acidente histórico que o fascismo seja menos perverso que o comunismo; ambas são ideologias de violência que rejeitam o liberalismo – exatamente o que Mises procurou defender contra o socialismo e o fascismo. O comunismo era apenas mais desenvolvido; Mises prevê que o fascismo acabará sendo o mesmo.
O grande perigo que ameaça a política interna do lado do fascismo reside em sua plena fé no poder decisivo da violência. Para garantir o sucesso, é preciso estar imbuído da vontade de vencer e proceder sempre com violência. Este é o seu princípio mais elevado. O que acontece, porém, quando o oponente, igualmente animado pela vontade de ser vitorioso, age com a mesma violência? O resultado deve ser uma batalha, uma guerra civil.
Graças a Deus por textos online e a capacidade de compartilhá-los. Artistas difamatórios como o cara que escreveu essa peça no Salon não podem mais se safar das bobagens. Quanto ao resto do artigo de Lind, é típico desse tipo de jornalismo – um credo deliberadamente incompreensivo, desonesto e anti-intelectual, e de um escritor que é ele próprio um apologista do Estado e suas guerras (até mesmo do Vietnã!).
*Este artigo foi originalmente publicado em Mises Institute.
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Nota: as visões expressas no artigo não são necessariamente aquelas do Instituto Mises Brasil.
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