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Filosofia

Mulheres e Liberdade

Uma reflexão a partir do livro “As seis lições” de Ludwig von Mises

08/03/2024

Mulheres e Liberdade

Uma reflexão a partir do livro “As seis lições” de Ludwig von Mises

Eu pessoalmente abomino o Dia Internacional das Mulheres por sua origem marxista, pelo seu coletivismo, pelo seu vitimismo, pela sua falta lógica e, principalmente, por ter o objetivo de usar as mulheres como massa de manobra da esquerda.

Contudo, ao reler “As seis lições” de Mises percebi que algo precisa ser dito. E o fato de este texto surgir no “mês da mulher” o torna ainda mais necessário. Então, que tal fazer desse limão uma deliciosa limonada?

“Mas que ’diabos’ o livro ‘As seis lições’ tem a ver com as mulheres?”, você pode estar se perguntando. Ele simplesmente não existiria se não fosse por Margit von Mises, esposa de Ludwig von Mises. E hoje, no Brasil, é mais vendido que seu famigerado oposto, “O capital”, de Karl Marx.

O mundo talvez nunca se dê conta de que são mulheres como Margit que foram responsáveis por eternizar o trabalho de grandes homens. Li em algum lugar, acho que foi no livro “Titãs da Música - Volume 1”, que a segunda esposa de Bach foi quem “salvou” muitas de suas partituras. Bach tinha o hábito de compor várias obras de maneira despretensiosa e desapegada, deixando as partituras que julgava não tão importantes para seus filhos brincarem (ele teve ao menos 20 em seus dois casamentos). Sua dedicadíssima segunda esposa, Ana Magdalena, salvava com todo esmero as partituras de serem rasgadas e destruídas pelas mãozinhas de seus filhos – "deixe que brinquem”, dizia o marido. No entanto, algo nela dizia que eram preciosas demais para se perderem assim.

No romance biográfico “Mozart”, composto por quatro livros, o autor Christian Jacq nos conta que o compositor, já na fase de ascensão profissional de sua breve vida, ao se deparar com as obras de Bach, ficou tão chocado com a genialidade das partituras dele que julgou o seu próprio trabalho como “insignificante” até aquele momento. Podemos dizer que Ana Magdalena, ao reconhecer o talento de Bach e conservar seu trabalho, auxiliou de alguma forma na evolução do trabalho de Mozart.

Mozart, por sua vez, teve incontáveis altos e baixos em sua vida. Ora era patrocinado por um rico aristocrata, ora era perseguido por ser maçom. Essa situação fez com que mudasse seu padrão de vida em vários momentos, precisando, inclusive, mudar de casa diversas vezes. Mas nada em sua vida profissional teria fluido de maneira favorável se não fosse seu grande pilar: Constanze. Muito diferente do que ilustrada no filme “Amadeus”, a esposa de Mozart era uma exímia organizadora do lar, fazia a gestão das finanças com primazia, não se importava de ter que mudar seu padrão de vida em períodos de vacas magras, apoiava seu marido e lhe passava tranquilidade mesmo em suas maiores crises financeiras e políticas.

Sem este apoio diário, o gênio musical certamente não conseguiria um ambiente propício para continuar seus estudos e trabalhos. A criatividade precisa vir com certa “ordem no caos” e Constanze sabia como instaurar a paz até na pior das tempestades. “Uai, mas o filme Amadeus é mentiroso e machista?”. A resposta é NÃO! Ele é genial, pois muitos ignoram o fato principal: ele é narrado pelo invejoso concorrente de Mozart, Antônio Salieri. O romance biográfico que citei mostra todas as falácias que os inimigos do compositor espalhavam e também foram personificadas no personagem de Mozart e sua esposa Constanze no filme.

Com esses poucos exemplos podemos ter uma ideia de como grandes mulheres, mesmo que de forma “oculta”, foram essenciais para a imortalização do trabalho de grandes homens.

Acho que Margit nunca imaginou que, ao publicar e eternizar “As seis lições”, ela estaria munindo de poder e conhecimento não só uma sociedade, mas também milhões de mulheres.

O livro se trata da transcrição de seis palestras em que Ludwig von Mises, economista judeu que chegou a ser perseguido por nazistas, aborda seis temas: capitalismo, socialismo, intervencionismo, inflação, investimento estrangeiro e política e ideias.

Em “Capitalismo” e “Socialismo”, são tratadas as grandes diferenças da visão dos dois sistemas e como o socialismo é completamente inviável por ignorar o conceito e funcionamento do mercado. Na visão capitalista, o “líder supremo” é o cliente: aquele que compreende suas necessidades e as supre com mais qualidade é quem se destaca e se mantém no mercado. Nesse cenário, tanto o patrão quanto os empregados ganham, pois o crescimento da empresa acarreta no crescimento da riqueza e, consequentemente, mais pessoas são empregadas e com salários mais competitivos.

Este cenário foi fundamental para a entrada da mulher no mercado de trabalho, afinal, onde há necessidade de mão de obra há oportunidade! Lembro-me das minhas professoras de História ensinando sobre a Revolução Industrial com profunda indignação ao narrar as muitas horas de trabalho e as condições “desumanas” a que mulheres e crianças eram submetidas. Mas ninguém me contou que, neste período (1760- 1830), a população inglesa tinha dobrado. Ninguém me contou que as mulheres daquela época não tinham o que comer e nem como alimentar seus filhos. Nunca me foi dito na escola que a Revolução Industrial trouxe a elas a oportunidade de ganhar um sustento, de prover seu lar ou de aprender uma profissão e crescer dentro dela. O mesmo sobre as crianças: elas não foram arrancadas de suas casas e escolas. Elas estavam nas ruas morrendo de fome e aquelas oportunidades de trabalho as salvaram da desnutrição e lhes deram a oportunidade de crescerem e se tornarem homens e mulheres.

As mesmas professoras supracitadas também falharam ao nunca me contarem que numa sociedade socialista não há liberdade de escolha. O Estado escolhe por mim: ele dita o que irei estudar, o que devo consumir, o que pensar, onde trabalhar, como agir, tudo isso “visando o meu bem”. Ora, alguns dos gritos de guerra feministas não são “o lugar da mulher é onde ela quiser!” e “nós podemos!”? Como poderei ser o que quero num governo paternalista que diz o que é “melhor para mim”?

“Liberdade significa realmente liberdade para errar. Isso precisa ser bem compreendido. Podemos ser extremamente críticos com relação ao modo como nossos concidadãos gastam seu dinheiro e vivem sua vida. Podemos considerar o que fazem absolutamente insensato e mau. Numa sociedade livre, todos têm, no entanto, as mais diversas maneiras de manifestar suas opiniões sobre como seus concidadãos deveriam mudar seu modo de vida: podem escrever livros; escrever artigos; fazer conferências. Podem até fazer pregações nas esquinas, se quiserem - e isso ocorre em muitos países. Mas ninguém deve tentar policiar os outros no intuito de impedi-los de fazer determinadas coisas simplesmente porque não se quer que as pessoas tenham liberdade de fazê-las”, disse Mises, em sua palestra “Socialismo”.

Se, numa sociedade livre, nós mulheres tivemos que lutar muito para sermos ouvidas, num regime socialista seríamos caladas permanentemente (como milhares de mulheres o são nos dias de hoje), pois o intervencionismo do governo atua não só no mercado, mas em todas as áreas da vida. Na URSS, por exemplo, toda a ritualística do casamento precisou ser alterada, pois o Estado era ateu e as cerimônias não poderiam ser religiosas. Fotos dos recém-casados junto a um retrato ou busto de Lênin eram comuns. Imagine você, noiva, prestes a realizar a cerimônia que sonhou por toda vida e ter que adaptá-la aos moldes totalitários do seu governo! Não há cabimento em um governo ditar como realizar seu sonho matrimonial ou qualquer outra ambição pessoal.

A obra publicada pela esposa de Mises trouxe o pensamento que liberta nós, mulheres, de todas as amarras já vividas, pois traz a defesa de um mercado livre e competitivo, o ensinamento de que o conhecimento é disperso e que diferentes mentes trabalham melhor quando possuem liberdade de atuação, pensamento e expressão. Mises ensina que o mercado não é “machista”, ele não tem percepção “política e social”, mas sim de mérito. Quem oferece a melhor solução para as dores e necessidades do cliente é recompensado, não importando o gênero de quem criou a tal solução.

Graças a essa visão de liberdade, as mulheres puderam ocupar espaços que eram exclusivamente dos homens. Do chão das fábricas para cargos especializados. Da especialização para a chefia. Da chefia para a diretoria. Da diretoria para a presidência, CEO, CFO e outros grandes cargos de liderança. Essa ascensão só foi possível com o advento do capitalismo, em que há liberdade de mercado, além de liberdade individual e social citadas e defendidas por Mises. E só chegamos a conhecer a maioria de suas grandes obras e ensinamentos por causa de Margit von Mises. Uma mulher notável que talvez não tenha tido a dimensão da importância do trabalho que realizou junto de seu marido.

Mulheres jamais terão sua relevância diminuída por engrandecer um homem. E nem os homens são enfraquecidos por precisarem de mulheres como seus pilares. A parceria entre esses diferentes seres é o que torna os povos mais sábios e em constante evolução. Por mais lições de liberdade e parcerias entre os gêneros e menos políticas mesquinhas, separatistas e coletivistas!

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Nota: as visões expressas no artigo não são necessariamente aquelas do Instituto Mises Brasil.

Sobre o autor

Miriam Guzella

É formada em Comunicação Empresarial pela Una, possui Nanodegree em Marketing Digital pela Udacity e MBA em Branding pela PUC Minas. Já esteve à frente da comunicação do Diretório Estadual do Partido NOVO-MG e também da Arsae-MG. Atualmente, atua no Marketing Digital e Eventos Institucionais do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais - BDMG. Miriam também é associada do IFL-BH. Ficou em 1º lugar no Ranking de Formação IFL-BH no primeiro e segundo de 2023, foi Gerente de Comunicação do Fórum no segundo semestre de 2023 e atualmente é a Diretoria de Eventos do Instituto.

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