A casta superior e a nossa obrigação de financiá-la
Ontem foi promulgada a emenda que cria mais de 7.700 novas vagas de vereadores. Algo importantíssimo e extremamente demandado pela população.
Além das vagas, o presidente da Câmara Michel Temer (PMDB-SP) elaborou uma pauta beneficiando um grande leque de categorias com aumento salarial, atendendo a tribunais do trabalho e permitindo um trem da alegria nos cartórios.
Como diz a notícia, durante a aprovação das novas vagas de vereador, centenas de suplentes (que agora serão empossados nas novas vagas criadas) "lotaram as galerias do Senado e cantaram o Hino Nacional na sessão solene do Congresso Nacional".
O Hino provavelmente foi cantado com os olhos marejados de emoção, tão ávidos estavam esses distintos para assumir seus cargos e sacrificarem-se pelo bem comum.
Muito bem.
Dizem que a democracia é o melhor sistema representativo existente, pois é nela - e somente nela - que você, o povo, está no poder. Deve ser por isso que ontem toda a população foi consultada para opinar e chancelar tal medida. E é por isso também que o 'povo', essa massa amorfa, tem todo o poder de reverter tais medidas. Certo? Hum...
Mas democracia é isso mesmo. Trata-se de um sistema formado por uma casta minoritária, porém altamente poderosa, perfeitamente cônscia do poder escravizador que tem sobre os outros mortais.
Sim, é verdade que, em teoria, qualquer um pode se tornar membro dessa casta, deixando de ser o escravo para se tornar o senhor de engenho - basta para tal fazer um concurso público, ou ser eleito político, ou conhecer algum político que lhe arrume uma boquinha.
Entretanto, tal particularidade, ao invés de amenizar, apenas acentua o problema: vivemos em um sistema que legitimou a segregação de castas, como se fosse extremamente natural ter um arranjo no qual alguns poucos vivem à custa de todo o resto. Em uma sociedade civilizada, isso seria repudiado como escravagismo. Na nossa, diz-se apenas que isso "faz parte do jogo democrático" e que é "obrigação do eleitor votar com consciência para impedir desmandos". Já conseguiu parar de rir?
Outra variante comum é "Não gostou? Então vá às ruas, proteste, faça sua voz ser ouvida e corrija a situação!" - como se fosse uma coisa extremamente banal reverter decisões de cunho político e, pior!, cumpridas e executadas pelo estado, justamente a entidade que detém o monopólio da coerção e da violência.
Pois, então, caro leitor, trate de ir trabalhando duro e poupando bastante, pois tem mais 7.700 parasitas para você bem nutrir (além de todos os outros inchaços e aumentos salariais já promulgados). É do seu suor que vai depender a boa vida da casta que está no comando. É obrigação sua "manter a máquina funcionando". Você não vai ser egoísta, vai? Apenas curve-se e alimente seus amos.
E não se esqueça: todas as medidas que legitimam uma tungada maior do seu dinheiro são medidas tomadas democraticamente, não obstante você sequer tenha sido chamado a participar.
P.S.: e depois tem gente que reclama injuriadíssima quando Hans-Hermann Hoppe fala que a monarquia é bem menos pior que a democracia.
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