Dia mundial sem carro (Concurso IMB)
Nota do IMB: o artigo a seguir faz parte do concurso de artigos promovidos pelo Instituto Mises Brasil (leia mais aqui). As opiniões contidas nele não necessariamente representam as visões do Instituto e são de inteira responsabilidade de seu autor.
Que tal um dia mundial sem ambulância? Por que não, já não temos o dia mundial sem carro?
Pois é, da mesma forma que é absurdo deixarmos equipamentos usados para a locomoção
de pacientes (ou simplesmente, ambulâncias) parados, também é um absurdo
deixarmos os carros envelhecendo sem funcionar.
Mas, quando é que isso ocorre com carros? No dia mundial sem carro existe a ideia
das pessoas buscarem usar meios de transporte alternativos. Alternativo é uma
palavra que está em moda para falar de tudo que um grupinho ou outro julga ser
o melhor, mas muitas vezes acaba sendo justamente um menos eficiente.
Ou seja, a ideia é justamente trocar o mais eficiente carro por um menos
eficiente patins, bicicleta, ou sapatos de cooper. Ora, quem decide se algo é
eficiente ou não? Justamente o usuário. Ele é quem tem a facilidade de descobrir
o que é melhor para si.
Claro que pensar em modos melhores de transporte para si pode ser uma boa, mas
uma medida universal assim, que chega ao ponto de proibir a circulação de
carros em certas regiões, não é nada senão uma espécie de agenda política, que
mesmo bem intencionada, não apenas não satisfaz as necessidades reais dos
indivíduos como pode os agredir.
Então, o que realmente precisamos? De um dia da carona? Não. Deixar o carro em
casa uma vez ou outra pode ser uma ideia boa, mas o ideal é que qualquer meio
de transporte capaz de existir fosse possível de ser considerado por um
potencial usuário. Em outras palavras: o fim das reservas de mercado que
prejudicam toda a sociedade em benefício de uma pequena elite de burocratas
parasitas da sociedade.
Muito se fala em um suposto fetiche pelo automóvel como status. Não, não existe
esse fetiche. Isso é invenção de mentes arrogantes que acham que sabem como a
sociedade se comporta, como se a sociedade fosse uma entidade senão o conjunto
de várias entidades subjetivas: os indivíduos. As pessoas, em geral, não
dirigem a todo o momento apenas porque gostam de dirigir; elas dirigem porque é
o meio de fato mais eficiente de ir de um ponto a outro em muitas circunstâncias,
assim como usam
elevadores, aviões, esteiras rolantes e os próprios pés para percorrer outras
distâncias.
E o que pode ser considerado eficiente? Não dá para responder. Não existe uma
resposta satisfatória para todos os casos. Sempre depende do ambiente e do
indivíduo. Uma pessoa pode preferir usar metrô sempre, mas simplesmente morar
em um local onde metrô não seja uma alternativa inteligente para existir. Como
saber isso? A única maneira é através do mercado: se as pessoas estão dispostas
a bancar aquilo
voluntariamente é porque aquilo vale a pena aos olhos delas, e se ela assim
consegue existir não há mais nada o que se questionar.
Agora imagine que a partir de amanhã o mercado de transporte urbano seja desregulamentado,
e passa a não ser mais proibido (a questão não é liberar, mas deixar de
proibir, visto que o Estado não tem direito algum de existir, e quem não tem
direito de existir, não tem direito a nada).
Algumas pessoas podem achar que isso geraria um caos (erroneamente, a palavra
certa seria bagunça pois a sociedade por si só é caótica: a informação está
espalhada nos diversos agentes - indivíduos - que a compõe, pois eles agem)
pensando em cenários como o do transporte ilegal que ocorre em algumas cidades
usando "carroças" como a Kombi.
O que elas não notam é que na verdade aconteceria justamente o contrário: os
nossos ônibus atuais poderiam ser vistos no mesmo patamar da Kombi, pois a
proibição ao livre mercado nivela por baixo o nível da qualidade dos serviços
oferecidos aos usuários. Um monopólio jamais pode nivelar por cima, caso
contrário a possibilidade do monopólio não seria sequer considerada pelo
monopolista, pois o mesmo já teria o consumidor garantido, não fazendo sentido
algum fazer qualquer investimento (seja ele qual for, mas no caso,
apadrinhamento de políticos) para tentar manter os consumidores fiéis aos seus
produtos, pois os mesmos o seriam voluntariamente.
E quanto às Kombis, que funcionavam na ilegalidade? Pois bem, agora os
"kombeiros" competentes teriam garantias de que poderiam investir em
algo maior e não iriam sofrer com ameaças de aprisionamento; eles não teriam
que bancar propinas para manter o negócio funcionando (logo, menos um custo
onerando o sistema do transporte urbano) e o futuro não seria roleta-russa.
Passaria a fazer sentido investir no setor (alguém caindo de um alto edifício
para a morte certa iria calçar o sapato?).
E quanto aos automóveis, às fábricas e aos empregos atuais que movimentam a
economia no setor? Não existe uma resposta única para como o mercado se comportaria,
pois cada pessoa iria reagir a mudanças assim de uma forma diferente, a única
coisa certa é que com certeza haveria inúmeras mudanças.
A quantidade de táxis (e em carros melhores) aumentaria muito, os preços dos
combustíveis despencaria com o tempo (seriam mais abundantes, uma vez que a
demanda seria menor, o que dá ao consumidor poder de negociação), assim como os
custos de aluguel de veículos. Os pobres
(por exemplo, cortadores de cana de áreas isoladas) teriam mais chances de
adquirirem um carro (uma vez que as pessoas valorizariam menos os mesmos,
haveria mais oferta), muitos carros poluentes antigos iriam ser finalmente
aposentados, teríamos mais maquinário para ser usado por outros setores e o
melhor de tudo: mão de obra livre (também conhecido pelo preconceituoso nome de
desemprego) para utilizarmos em outras atividades a partir de então mais nobres
(quem decide a nobreza das coisas é cada um de nós e isso pode depender de
muitas coisas. Por exemplo, no deserto
um galão d'água pode ser mais nobre do que um diamante) para satisfazer nossos
desejos.
E provavelmente a indústria de entretenimento automotivo também ficaria mais
forte. Pessoas que hoje utilizam moto, bicicleta ou andam em áreas perigosas, e
que por um motivo ou outro decidissem não mais utilizar o serviço de transporte
urbano público, poderiam mais facilmente utilizar uma alternativa que poderia
ser mais segura, confortável e saudável: o carro.
Infelizmente a curto ou médio prazo esse parece ser um cenário difícil de
acontecer (felizmente cada vez mais o longo prazo se torna menor graças ao
avanço tecnológico), ainda mais agora com esses trilhões de dólares (moeda que
a cada dia vale menos) sendo destruídos para salvar indústrias falidas como a GM,
penalizando também com a concorrência desleal empresas que satisfazem melhor os
consumidores como Toyota ou Honda. Ou seja, fazendo exatamente tudo de ruim
para a sociedade.
Metrô estatal? Metrô é um atraente meio de transporte, mas sem o Estado, é
claro. Com mais de um século desde a primeira linha, o metrô de Nova Iorque
continua a funcionar, mas cada vez pior. Praticamente sem inovações desde
quando passou para as mãos governamentais, após o Estado levar as empresas que
os criou à falência.
A propósito: a MTA (agência metropolitana de transporte) cobra um preço de
ticket duas vezes maior do que quando o metrô iniciou suas operações, corrigida
a inflação (aliás, se inflação é boa, por que corrigem?). Pois é, convenientemente
se esquecem de que quando era privado dava lucro, e hoje dá prejuízo: só consegue
manter-se funcionando com um alto subsídio.
Acho que fica bem claro do que realmente precisamos após falar tudo isso: de
uma era sem intervencionismo. Só isso pode trazer benefícios reais e duradouros
para o transporte urbano e, consequentemente, para o nosso bem-estar.
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