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Economia

Cortes nas taxas do Fed não vão salvar a economia

30/11/2023

Cortes nas taxas do Fed não vão salvar a economia

A federal funds rate (taxa de juros de referência da economia americana) implícita no mercado indica uma série de cortes que começam em janeiro de 2024 e culminam numa taxa de 4,492% em janeiro de 2025. Estas expectativas se baseiam na percepção de que o Federal Reserve promoverá um pouso suave e que a inflação cairá rapidamente.

Contudo, os participantes no mercado que assumem que ocorrerão cortes na taxa de juros podem estar correndo demasiados riscos pelas razões erradas.

As mensagens do Fed contradizem as estimativas anteriormente mencionadas. O presidente Jerome Powell continua repetindo que há mais probabilidade de aumentos das taxas do que de cortes e que a batalha contra a inflação ainda não acabou.

Os mercados não estão acompanhando os agregados monetários, e o que eles mostram não é bom para a economia. De acordo com o Fed, entre setembro de 2022 e setembro de 2023, a oferta monetária M1 caiu para US$ 18,17 trilhões, de US$ 20,281 trilhões, enquanto o M2 caiu para US$ 20,75 trilhões, de US$ 21,52 trilhões. No entanto, o total dos empréstimos aumentou para US$ 22,3 trilhões, contra US$ 20,3 trilhões. Estes são os empréstimos totais do banco central, incluindo aqueles dos “programas de crédito primário, secundário e sazonal da janela de descontos e outros empréstimos de linhas de crédito de emergência”.

O que isso significa para a inflação e a economia? Primeiro, a quantidade de dinheiro no sistema não está diminuindo; está basicamente aumentando para manter vivo o problemático sistema bancário. Assim, os agregados monetários estão caindo rapidamente, o crédito às famílias e às empresas está diminuindo e o custo da dívida está aumentando a taxas alarmantes, mas as injeções de liquidez do Fed nos bancos e credores estão em novos níveis recordes.

Sim, a impressão de dinheiro continua, mas o setor produtivo não vê nada disso. Na verdade, o setor privado está suportando todo o fardo da contração monetária.

Dado que os empréstimos do Fed continuam atingindo novos máximos, é pouco provável que a inflação caia tão rapidamente como o M2 indicaria, e o crescimento monetário excessivo segue gerando problemas na economia com poucas melhorias, uma vez que apenas mantém vivas as entidades financeiras zumbis.

Neste cenário, a menos que a economia comece a crescer rapidamente sem qualquer impulso de crédito significativo – algo que é demasiado difícil de acreditar –, não importa se o Fed reduz ou não as taxas. O Fed provavelmente continuará ignorando a fraqueza do setor privado, o fraco investimento e o consumo impulsionado pela dívida, e aceitando um valor do produto interno bruto inchado pela dívida, enquanto o desemprego deverá permanecer baixo, mas com um crescimento negativo dos salários reais.

Se a inflação persistir, o Fed não reduzirá as taxas e a deterioração do setor privado produtivo será pior, porque toda a contração nos agregados monetários virá das famílias e das empresas. No entanto, se o Fed decidir cortar as taxas, será porque vê uma diminuição significativa na demanda agregada. Assim, como a despesa pública não está diminuindo, a queda na demanda será totalmente gerada pelo setor privado, e os cortes nas taxas não farão com que as famílias e as empresas tomem mais crédito, porque já estão endividadas.

Nestas condições, é quase impossível criar um impulso de crédito sólido e positivo a partir de cortes nas taxas quando a economia perder o efeito placebo da acumulação de dívida. É difícil acreditar que o setor produtivo vai reagir aos cortes nas taxas no meio de uma recessão de rendimentos e salários em termos reais.

O Fed só vai cortar as taxas se houver uma queda na demanda agregada, e isto só pode ser a consequência de um colapso no setor privado. Quando o Fed decidir cortar as taxas, é pouco provável que o efeito negativo sobre os lucros e as margens provoque uma subida dos mercados, como muitos esperam.

Os cortes nas taxas do Fed, como impulsionadores de múltiplas expansões e mercados em alta, podem ser a miragem final. Se o Fed cortar as taxas, é porque não conseguiu alcançar um pouso suave e, então, a acumulação de risco na dívida e nos empréstimos do Fed será difícil de gerir.

 

Esse artigo foi originalmente publicado em Epoch Times.

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Nota: as visões expressas no artigo não são necessariamente aquelas do Instituto Mises Brasil.

Sobre o autor

Daniel Lacalle

É Ph.D. em economia, gestor de fundos de investimentos, e autor dos livros Escape from the Central Bank Trap

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