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Economia

Zona do Euro: um exemplo do fiasco do keynesianismo

As projeções não são nada boas para o continente

25/09/2023

Zona do Euro: um exemplo do fiasco do keynesianismo

As projeções não são nada boas para o continente

Os números econômicos da Zona do Euro mostram o risco de estagflação, e o impacto a curto prazo é claro não apenas na Alemanha e na França, mas estende-se para o resto dos países.

Por que a Zona do Euro ficou atrás dos Estados Unidos e de outras economias desenvolvidas nos últimos anos?

Os enormes pacotes de estímulo, incluindo o Plano de Crescimento e Emprego de 2009, o Plano Juncker, o New Green Deal e a Next Generation EU, estão provando que o planejamento central apenas proporciona um crescimento fraco, uma dívida elevada e, agora, uma inflação alta.

Os últimos números do BCE, o Banco Central Europeu, mostram que os agregados monetários estão retornando a níveis moderados, mas a inflação permanece elevada e, na última divulgação, está aumentando.

As estimativas consensuais de crescimento do PIB em 2023 situam-se em 0,6%, com uma inflação acima dos 5%, segundo a Bloomberg, e é importante lembrar que a inflação subjacente continua três vezes superior à meta da estabilidade de preços.

As mensagens de Christine Lagarde, presidente do BCE, sobre a inflação parecem claras, mas o objetivo do BCE tem de ser alcançado. Os aumentos das taxas de juros vieram para ficar, embora o mercado estime que o BCE comece a baixar as taxas de juros a partir de 2024.

O problema é que a Zona do Euro só aposta nos aumentos dos juros para moderar a inflação, enquanto os governos continuam a gastar bilhões de euros nos chamados Next Generation Funds e em déficits que significam mais inflação ou impostos no futuro.

Não devemos nos surpreender com o fato do crédito na Zona do Euro estar caindo juntamente com os agregados monetários. Todo o fardo da normalização monetária tem recaído sobre o setor produtivo, as famílias e as empresas, enquanto muitos governos continuam a aumentar os gastos deficitários.

Os números do crescimento na Zona do Euro são muito fracos, mas são ainda piores quando tomamos em conta que o progresso da Irlanda, tal como demonstrado pelo Eurostat, explica quase inteiramente a mais recente revisão para cima. O que a Zona do Euro faz? Em vez de incentivar o modelo de liberdade econômica, subsidia os países intervencionistas.

A economia deverá crescer ligeiramente em 2023, atormentada por uma inflação elevada, taxas de juros crescentes e exportações mais baixas. Os Next Generation Funds não têm qualquer efeito marginal ou multiplicador perceptível. A fraca situação dos índices da indústria e dos serviços confirma este receio. Os índices mostram uma tendência negativa generalizada em novas encomendas e investimentos.

Aumentar os juros não é suficiente quando o balanço do BCE é de 52% do PIB. A inflação caiu de 5,5% em junho para 5,3% em julho, devido ao efeito de base e ao declínio das matérias-primas. No entanto, as commodities estão em recuperação desde maio, quando o mercado começou a descontar o fim dos aumentos das taxas de juros.

Não podemos ignorar o fato de que os dados sobre as expectativas de inflação na Zona do Euro estão aumentando.

O BCE aumentou a sua taxa de juros de referência de 4% para 4,25%, um aumento acumulado desde julho de 2022 de 425 pontos-base. Acredito que terminará em 2023 em 4,43% e em 2024 em 3,68%, mas sem terminar a batalha contra a inflação.

Apesar dos trilhões de dólares em déficit e dos planos centrais de crescimento, a Zona do Euro enfrenta um ambiente de fraco crescimento e inflação elevada com fortes ventos contrários, liderados por um aumento nos custos da energia e pelo efeito defasado que o aumento dos juros pode gerar, uma vez que os aumentos das taxas de juros não mostrarão o seu pleno efeito na economia até 12-18 meses após a sua conclusão, de acordo com as estimativas do BCE.

Devemos lembrar também dos problemas tecnológicos da União Europeia (UE). Embora os EUA e a China liderem os avanços tecnológicos globais, parece que a UE ficou para trás em termos de crescimento e investimento, mas sobretudo em patentes e empresas tecnológicas. A UE não tem gigantes tecnológicos que possam desafiar os líderes globais, e um dos fatores que mais nos preocupa é o nível muito elevado de tributação, que funciona contra as oportunidades de criação de gigantes da tecnologia de classe mundial.

Segundo a própria Comissão Europeia, a tributação na Europa permanece num nível muito elevado para o capital (27,8%) e o trabalho (21%), dois fatores-chave para o desenvolvimento das empresas tecnológicas. Uma tributação tão elevada põe em risco a inovação, a atração de investimentos e a melhoria do capital humano.

Se há uma lição para os Estados Unidos e para o resto do mundo, é que o planeamento central massivo não proporciona crescimento e que os governos não lideram o desenvolvimento econômico e a inovação. A Zona do Euro se beneficiaria de uma abordagem econômica do lado da oferta e de baixo para cima. Infelizmente, ela está apostando em mais planeamento central.

 

Esse artigo foi originalmente publicado em https://mises.org/wire/eurozone-example-failed-keynesianism 

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Nota: as visões expressas no artigo não são necessariamente aquelas do Instituto Mises Brasil.

Sobre o autor

Daniel Lacalle

É Ph.D. em economia, gestor de fundos de investimentos, e autor dos livros Escape from the Central Bank Trap

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