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Adeus, mídia convencional!

O fim das mídias tradicionais é inevitável

31/08/2023

Adeus, mídia convencional!

O fim das mídias tradicionais é inevitável

Nota do Editor:

O artigo a seguir foi originalmente escrito, em inglês, após as eleições americanas de 2016, quando Donald Trump, para desespero da mídia convencional, derrotou Hillary Clinton. O que se seguiu, por parte da mídia, foi uma verdadeira cruzada da imprensa contra Trump, um fenômeno de oposição ao suposto extremismo de direita que posteriormente se espalhou mundo afora, chegando inclusive ao Brasil.

Com a chegada das eleições americanas de 2024, o contínuo declínio da mídia convencional e o fato de o Brasil espelhar muito do que acontece nos EUA, tal artigo se faz novamente atual.

Entenda a decadência da imprensa convencional.

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“Nada é mais imbecil e mais ‘imbecilizante’ do que a paixão política. É a única paixão privada de grandeza, a única capaz de emburrecer o homem”.

Nelson Rodrigues.

 

Naturalmente, relutei em escrever sobre as eleições presidenciais americanas, um assunto de interesse para muitos, mas principalmente uma centelha de ódio e paixão. Em anos marcados pelo pensamento de que ter uma opinião forte e barulhenta sobre um assunto é considerado mais importante do que ter qualquer informação sobre ele, encontramos americanos tratando o teatro político da mesma forma que sul-americanos e europeus se relacionam com o futebol. As emoções são expressas sem pensamento e, pior ainda, o reconhecimento de que algum pensamento deve preceder a maneira como as pessoas reagem às coisas que veem é frequentemente ignorado.

As pessoas consomem política como entretenimento, torcem irracionalmente como torcedores partidários e se comportam como hooligans contra os aficionados do partido estúpido ou do partido do mal, dependendo de qual lado se identificam. Cedem aos seus sentimentos mais primitivos, comportam-se como Bobbus Americanus e não como Homo Sapiens e, sem surpresa, a brutalidade surge como fruto de tanto sentimentalismo desenfreado.

Pluralidade de ideias e visões contrárias simplesmente não são toleradas. É tudo ou nada. Ou um segue 100% as palavras pregadas pelos profetas de sua equipe ou está fora, se tornando o inimigo, está além da redenção. Inevitavelmente, não há espaço para debates civilizados baseados na lógica e nos fatos; ataques pessoais, palavrões e ódio se tornam a norma.

O melhor do homem se corrompe e ninguém é melhor do que a pessoa mais comum quando a totalidade de nossas ações se reduz à expressão de sentimentos. Uma bolha homogênea de estupidez, de ceder aos instintos e não pensar é considerada o único comportamento aceito pelos formadores de opinião da política, academia e mídia. Tudo se torna um tema político. Ninguém é responsável por suas próprias ações. Todos são responsabilizados pelos sentimentos dos outros.

Inevitavelmente, e infelizmente, a responsabilidade pessoal é negligenciada e a liberdade é ferida.

Hoje, mais de uma semana depois de Donald ter sido eleito o próximo Commander in Chief, vejo que a veemência com que as opiniões têm sido expressas não diminuiu, disparou. Está fora de controle! Talvez eu devesse ter mantido minha posição inicial e evitado escrever sobre isso por mais algum tempo, mas a queda livre da grande mídia durante o ciclo eleitoral tem sido fascinante de assistir e de grande interesse empresarial e social (e muito mais importante do que o resultado da eleição em si).

 

A tecnologia dá a largada para a mudança

Há pouco mais de duas décadas ouvimos falar das mudanças pelas quais a mídia vem passando. Desde os primórdios da internet, era fácil perceber que o papel não reinaria mais absoluto e que as plataformas digitais teriam uma fatia preeminente do mercado. A ascensão de blogueiros independentes tem sido amplamente discutida, e relatos sobre a falência de alguns dos bastiões da velha imprensa têm sido abundantes e frequentes. No entanto, uma rápida olhada ao redor e titãs da mídia como CNN, NYT, The Economist, Time, The New Yorker, FOXNews, MSNBC, WSJ, WaPo e muitos outros ainda estão por aí e se fortalecendo (pelo menos na superfície). Eles são considerados as vozes mais influentes, adaptaram-se aos formatos digitais, incorporaram blogs e expandiram suas bases de clientes. Reputação e grandes contracheques ainda estão à solta para aqueles que dirigem programas de TV ou escrevem colunas regulares para eles.

Até agora, ou pelo menos até esta última eleição, tem sido muito mais uma mudança tecnológica do que uma mudança na estrutura da indústria. Virar uma indústria de cabeça para baixo não acontece da noite para o dia, e o período 1994-2016 parece ter sido o prelúdio da verdadeira revolução. Embora a internet, o catalisador da transformação, a força motriz por trás da comunicação peer-to-peer, já existisse em meados dos anos 90, muito ainda teria que acontecer antes que pudéssemos testemunhar o colapso atual.

Produtores e consumidores precisavam aprender a lidar com essa nova realidade. Ambos estavam completamente enraizados no modelo antigo, assim como seus pais e filhos. Não foi fácil quebrar hábitos centenários, ainda mais quando as novas opções oferecidas na época eram bastante rudimentares. As pessoas estavam realmente empolgadas com as plataformas digitais, mas era mais pelo prazer de aparelhos e canais promissores do que pela qualidade dos serviços. A Internet era lenta e travava o tempo todo, as telas dos computadores eram deploráveis, o Wi-Fi estava longe da onipresença, a maioria das casas tinha um computador conectado a uma mesa que não permitia ler as notícias na cama ou no café da manhã, os telefones celulares não tinham acesso à world-wide-web e ainda demorou muitos anos até que os smartphones surgissem. Mesmo após o lançamento do iPhone em 2007, as conexões ainda não eram confiáveis, milhares de aplicativos ainda não haviam sido desenvolvidos e os consumidores não estavam ansiosos o suficiente para acessar regularmente a mídia fora de suas TVs, revistas e jornais.

No entanto, mesmo quando toda a tecnologia estava disponível a preços e qualidade decentes, os produtores não se sentiam tão à vontade em deixar a segurança da velha indústria. Alguns modelos de negócios que desafiavam os mantras da indústria já eram tecnologicamente viáveis, mas ainda não haviam sido testados. Exigia que empreendedores corajosos se aventurassem em território desconhecido, descobrissem como combinar novos e antigos fatores de produção, suportassem críticas e perseverassem. Muitos falharam miseravelmente, outros acertaram a trave e alguns conseguiram.

De qualquer forma, o ponto é que uma grande mudança na indústria de mídia não foi fomentada por uma tecnologia exógena que apareceu do nada (como a realidade invertida da maioria dos modelos econômicos), mas foi provocada por pessoas reais que consomem e produzem, que experimentam coisas novas, que falham e conseguem. Foi um longo processo que começou há muitos anos e que finalmente está chegando ao seu ponto crítico.

 

O papelão da mídia nas eleições

Bem, de volta ao show de horrores das eleições presidenciais americanas. Graças a Deus, finalmente acabou! Quero dizer, está tecnicamente acabado, não realmente acabado. Os votos foram lançados, mas a conversa política vai durar muito mais tempo. A mídia do establishment está completamente perdida e lembra um boxeador que ainda está de pé depois de levar um soco no queixo. Está indefeso, inconsciente de sua fraqueza e esperando que, ao lançar um jab inútil, escape de seu destino... um nocaute!

Depois de um desempenho desastroso em que a grande mídia entendeu tudo errado, ela se encontra em um território outrora ocupado pelo jornalismo marginal baseado na Internet dos anos 90. Ou seja, falta de credibilidade, anunciantes e lucro. O ceticismo público em relação à mídia tradicional está no auge. No entanto, tudo o que eles tentam fazer agora é nos levar a confiar neles, contando-nos todas as coisas que inquestionavelmente acontecerão como resultado de todas as coisas que eles repetiram incessantemente que não aconteceriam.

A situação deles é pior, no entanto. A credibilidade perdida é muito pior do que a credibilidade ainda não alcançada. Em segundo lugar, a economia da indústria, as estratégias de marketing, as novas formas de produzir e atingir os consumidores estão trabalhando contra esses dinossauros da comunicação.

Em suma, a grande mídia está indo à falência. Não importa o que façam, sua base de custos, sua rigidez de capital e pessoal e seus laços estreitos com o Estado continuam a minar sua lucratividade. Jovens talentos buscam novos modelos de negócios, os telespectadores estão cansados de seu “cartão 3 por 5 de opinião permitida” e a tecnologia continua melhorando em favor de produtores de mídia pequenos, inovadores e dispersos.

Uma era está terminando diante de nossos olhos. Os jornais dominaram a mídia impressa por quase 200 anos e as redes de rádio e TV regulamentadas e protegidas pela FCC dominaram o último meio século. De alguma forma, esses mesmos jogadores conseguiram crescer com a ajuda da internet. Hoje, porém, canal por canal, eles estão sendo esmagados. As novas tecnologias estão descentralizando a produção e o consumo. Elas são muito baratas. Elas são flexíveis. Elas dão aos consumidores uma diversidade muito necessária de opinião jornalística. Elas permitem que as pessoas assumam facilmente o controle de suas escolhas de leitura. Elas não podem ser revertidas.

 

Tem sempre uma agenda por trás

Talvez o mais importante seja que essas novas tecnologias tornaram evidente a relação simbiótica entre os intelectualóides e o governo. Embora o viés estatista da mídia impressa, digital e televisiva seja bem conhecido há muito tempo, várias pessoas (em todos os lados do espectro político) ficaram surpresas com o quão próximo do establishment político muitos canais coordenaram sua cobertura durante este ciclo eleitoral. Além disso, como sempre, nenhuma dissidência do status quo foi tolerada e qualquer mudança substancial proposta na política nacional ou externa foi ridicularizada e rotulada como loucura. Enquanto a discussão sem sentido sobre se os impostos deveriam ser de 39% ou 40% de fato aconteceu na mídia, qualquer coisa que estivesse fora do escopo estreito da sabedoria convencional da intelligentsia foi minimizada como palavras tolas de um radical.

Primeiro, nas primárias, foi a mídia de esquerda e direita pró-estado lutando contra os “forasteiros” Bernie e Trump. A National Review e a Fox News lideraram o movimento #NeverTrump e o NYT e a CNN eram tão a favor do establishment de Clinton que partes da esquerda finalmente começaram a vê-los pelo que realmente são, veículos partidários fortemente tendenciosos que ignoram a ética para apoiar o establishment.

Quando se tratava de Hillary contra Donald, as coisas não eram muito diferentes, exceto que os comentaristas e especialistas da esquerda e da direita favoreciam Clinton. O que incomodava as pessoas não era o grande apoio que ela recebia da classe jornalística, mas como ativamente a CNN, CNBC, NYT, WaPo e outros veículos conspiravam com a campanha de Clinton. O Wikileaks tornou isso público, mas as coisas ficaram tão fora de controle que qualquer um que prestasse a menor atenção poderia ver com clareza. Rascunhos de histórias foram enviados à equipe de Clinton para aprovação, perguntas de debate foram dadas com antecedência a Hillary e repórteres consultaram sua equipe de campanha antes de entrevistar Trump (sem mencionar o patético episódio de Bill Weld e o establishment neocon, o globalista George Soros, censura no Twitter e no Facebook…).

Apesar dessa cumplicidade vergonhosa, as pessoas optaram contra a retórica do establishment e, mais importante, a relação confortável entre os insiders da política e a mídia tornou-se mais evidente do que nunca. Então, de repente, a maior força da grande mídia se transformou em sua maior fraqueza.

Diante de uma cobertura tão ruim, muitas pessoas começaram a procurar por diferentes fontes de notícias. Elas queriam ouvir opiniões diversas, se cansaram dos cruéis ataques ad hominem e queriam uma imprensa com coragem para desafiar o deep-state. Elas encontraram e mudaram para novos canais. Leitor por leitor, a mídia tradicional começou a perder clientes.

Em suma, o resultado desta eleição representa o fracasso e a perda de credibilidade da mídia, de seus especialistas, de suas pesquisas e de quase todos os pseudointelectuais que prosperam devido aos laços estreitos entre mídia e governo.

Isso não quer dizer que a grande mídia nem sua relação simbiótica com o estado irão desaparecer amanhã. Eles persistirão por muito mais tempo. A descentralização da produção em geral, e da mídia em particular, é irreversível e a maior ameaça à invasão do estado democrático em nossas vidas. É uma força libertadora! No entanto, os desejos totalitários não deixarão a terra, as pessoas precisarão de tempo para se adaptarem totalmente à revolução peer-to-peer e os políticos sempre precisarão dos intelectuais e da mídia para lhes dar legitimidade, enquanto os intelectuais e a mídia sempre precisarão do estado para lhes dar recursos e influência. Ainda assim, a versão pay-to-play do jornalismo político que marca a grande mídia hoje foi exposta para sempre.

 

Há esperanças para a mídia

Tudo isso vai além das oportunidades empreendedoras, que por si só são relevantes o suficiente. Isso ajuda a liberdade ao enfraquecer os poderes da classe presunçosa e estatista formadora de opinião e, o mais importante, pode nos poupar de sua narrativa sentimental ad nauseam.

Espera-se que, com a maior diversidade de opiniões jornalísticas oferecidas pelas startups de mídia, a noção nefasta de que a experiência humana deva estar em permanente conformidade com valores politicamente corrigidos e, portanto, de que todo arranjo social, econômico e consuetudinário que frustre a universalização desse fim deva ser removido pelo uso da força desaparecerá.

Esperançosamente, o dogma do dia, a ideia de que o governo é a força redentora que poupará a humanidade de pecados e tristezas, será repetido com menos frequência. Pelo menos, espero que algumas pessoas assumam o controle de suas escolhas de mídia, de quais blogs e veículos de notícias consomem; então, os fanáticos dessa “religião secular” serão ouvidos por menos pessoas.

Eu sei, há algum conforto no sentimentalismo. Ao sermos escravos de nossos instintos, reféns do ambiente e seguidores do ouvido, naturalmente nos libertamos do peso da responsabilidade. No entanto, ser humano, ser um bom pai, um bom amigo, um bom irmão, um bom filho, um bom vizinho, uma boa pessoa implica controlar nossos instintos e ações. Sim, a responsabilidade requer julgamento, que envolve pensamento, que exige energia, e todos estão cansados. Mas quando desistimos de pensar e escolher por nós mesmos, renunciamos nossa liberdade e nossas vidas.

 

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Abaixo listo uma série de artigos e livros, recentes e não tão recentes, que considero muito bons e relacionados aos temas discutidos acima. Eu desenvolvi algumas de suas ideias, usei alguns de seus insights e, em alguns casos, dei um passo adiante usando frases inteiras para me ajudar a moldar meus parágrafos.

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Nota: as visões expressas no artigo não são necessariamente aquelas do Instituto Mises Brasil.

Sobre o autor

Sergio Alberich

Formado em Economia pela Universidade Mackenzie com especialização em finanças e marketing pela U.C. Berkeley, obteve seu mestrado na Universidade Rey Juan Carlos sob a orientação de Jesús Huerta de Soto.

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