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Economia

A economia austríaca contra o empiricismo

07/06/2023

A economia austríaca contra o empiricismo

Desde o seu surgimento em 1871, a Escola Austríaca de Economia vem fornecendo oposição sistemática ao empirismo no desenvolvimento da ciência econômica. O Methodenstreit persiste, mesmo com participantes diferentes. O positivismo e suas diferentes correntes de pensamento são constantemente criticados pelos economistas austríacos.

Mas as raízes das tentativas de tornar a pesquisa objetiva são muito mais antigas. No Renascimento, por exemplo, o desenvolvimento das ciências naturais negligenciou o essencialismo metodológico, conforme Huerta de Soto explica no seu artigo "Método y Crisis en la Ciéncia Económica". O essencialismo era visto como parte da Idade Média e por isso foi atacado pelos pensadores do Renascimento.

Também podemos nos lembrar de Francis Bacon, um reconhecido filósofo inglês. Bacon defendeu a matematização e quantificação de toda experiência humana, bem como o uso do método das ciências naturais para pesquisar fenômenos sociais.

A primeira rodada do Methodenstreit envolveu Carl Menger e a Escola Histórica Alemã, devendo ser considerada mais do que uma mera batalha de métodos. Ludwig von Mises explica em seu ensaio “The Historical Setting of the Austrian School of Economics” que os austríacos se envolveram em uma batalha sobre a própria definição de ciência. Também, nesse ensaio ele esclarece ainda mais por que o empirismo se tornou a tendência dominante na economia.

Mises apresentou uma forte ligação entre os cientistas e a elite prussiana – e como suas pesquisas justificavam as pretensões desta elite. Esse cenário previa um Estado forte e centralizado. Este Estado coordenaria o crescimento econômico e levaria a Alemanha à proeminência internacional.

Contemporaneamente o cenário é bem diferente. Economistas tradicionais são apóstolos do “rigor científico”. Para eles, a ciência é promovida por meio do uso adequado de procedimentos econométricos. Além disso, eles consideram que fatos são fatos, que são estabelecidos e não podem ser distorcidos. Mas seu método resulta nas mesmas falhas que sempre acompanham o empirismo.

Os fatos sociais são, naturalmente, fenômenos complexos. Eles envolvem um número incontável de variáveis. Essas variáveis nem mesmo podem ser totalmente percebidas e compreendidas pelos pesquisadores nem podem ser isoladas como um experimento físico ou químico.

Além disso, o problema é mais profundo. Os fatos sociais não são fatos da natureza, mas o resultado do significado humano. Não há dinheiro na natureza; o dinheiro é uma convenção social. Da mesma forma, não podemos encontrar corporações na natureza, pois são entidades abstratas.

Os objetivos dos cientistas sociais não envolvem a quantificação e medição de cada elemento dos fatos. Seu objetivo não é extrair conhecimento desses procedimentos. Eles não podem estabelecer regras a partir da experiência, pois cada experiência é complexa e única.

Como explicado acima, os fatos sociais não são diretamente observáveis. Esses fatos podem ser interpretados a partir da significação dada pelos indivíduos. Assim, os cientistas devem desenvolver uma teoria adequada para analisar os fatos.

Por que o empirismo persiste em governar a disciplina econômica? É um método conveniente. A pesquisa confirma as conclusões visadas. A compreensão de Mises da escola histórica alemã também define a ciência social contemporânea. Esta é conveniente para aqueles que estão no poder. Como disse Benjamin Disraeli, "existem três tipos de veracidade: mentiras, mentiras descaradas e estatísticas”.

As investigações econométricas, embora pretensamente rigorosas, são inadequadas para pesquisar fenômenos sociais. Não é por acaso que as pesquisas geralmente confirmam as tendências ideológicas em voga. As estatísticas podem ser manipuladas e tornadas convenientes.

A pesquisa empírica tem sua relevância como ilustração da teoria econômica e da história, mas não é a partir de dados empíricos que a teoria é construída. A teoria vem do encadeamento lógico de leis teóricas. Essas leis vêm de axiomas principais. E é essa teoria que permite a interpretação da complexa realidade social. E este rigor teórico é que impede a manipulação da realidade segundo grupos de interesse.

Sobre o autor

Artur Ceolin

Doutorando em Economia na Universidad Rey Juan Carlos, em Madri.

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