Economia
O Fed está matando o setor privado para salvar o governo
Entenda o efeito crowding-out na economia americana
O Fed está matando o setor privado para salvar o governo
Entenda o efeito crowding-out na economia americana
Nota do Editor
Há exatos 140 anos, nascia John Maynard Keynes, um dos mais influentes economistas do século XX. Keynes foi próximo de Friedrich Hayek na London School of Economics, da Inglaterra. Os dois trocaram cartas e comentários sobre artigos, mas a participação de Hayek na vida de Keynes não foi suficiente para que o inglês adotasse a visão austríaca sobre os fenômenos econômicos.
De fato, Keynes é fundador de uma escola de pensamento econômico muito cara aos políticos e governantes. Os assim chamados keynesianos são defensores da forte participação do estado na economia, por meio de gastos públicos, manipulação das taxas de juros, expansão da base monetária, entre outras ferramentas. Um dos efeitos econômicos mais perversos dessa agenda de intervencionismo é o "crowding-out", frequentemente traduzido ao português como "efeito expulsão", em que o setor público toma participação do setor privado na economia na medida em que disputa com os empreendedores os recursos escassos.
No artigo a seguir, Daniel Lacalle explica o caso atual de "crowding out" na economia americana. Sempre inspirado em Keynes e suas (infelizes) lições, o Federal Reserve pratica uma política monetária de normalização. No entanto, o balanço do Fed segue batendo recordes históricos, o setor público segue com altos déficits fiscais e o aumento das taxas de juros fazem efeito apenas no setor produtivo. Ao que tudo indica, o Fed está cobrando um alto preço das famílias e empresas para salvar o governo. Confira no artigo.
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O balanço do Federal Reserve atingiu seu recorde histórico em maio de 2022. Desde então, deveria cair em um ritmo constante e perder três trilhões de dólares até 2024. A normalização da política monetária foi construída com base na ideia de um pouso tranquilo da economia. No entanto, o Fed pode estar matando o setor privado para salvar o governo.
A contenção da inflação requer uma redução significativa da oferta de moeda e da demanda agregada. No entanto, se os gastos com déficit do governo forem deixados intocados, todo o ônus da normalização da política monetária recairá sobre as famílias e empresas.
A situação atual é a pior possível. O balanço do Fed não está caindo tão rápido quanto deveria; os gastos do governo nem sequer foram arranhados, mas a oferta monetária está caindo no ritmo mais rápido desde a década de 1930, e os aumentos das taxas estão prejudicando a economia produtiva, enquanto o governo parece inconsciente da necessidade de reduzir seu orçamento inchado.
Os números do PIB do primeiro trimestre de 2023 são extremamente preocupantes. Os gastos do governo mostraram outro grande aumento de 4,7%, muito acima do esperado. No entanto, o aumento do consumo, de 3,7% anualizado, ficou bem abaixo das estimativas e impulsionado por um novo recorde preocupante de dívidas de cartão de crédito. Ainda mais preocupante, o investimento interno privado bruto caiu 12,5%.
Há evidências robustas de uma tendência negativa na economia real. Aumento dos gastos federais, mais burocracia, impostos mais altos e atividade mais fraca na parte da economia que impulsiona o crescimento e os empregos.
Aumentos de juros têm dois efeitos negativos diretos sobre a economia se o governo não reduzir sua onda de gastos deficitários. Eles significam impostos mais altos e uma massiva evasão do crédito disponível. O déficit do governo sempre vai ser financiado, mesmo que seja a taxas mais altas, mas isso também significa menos crédito para empresas e famílias. O efeito “crowding-out” (efeito expulsão) do setor público sobre a economia privada significa menor crescimento da produtividade, investimento mais fraco e queda dos salários reais. Enquanto o governo mantém a inflação acima da meta gastando unidades adicionais de moeda recém-criada, o crédito aos setores produtivos se torna cada vez mais difícil e caro. Além disso, o governo toma empréstimos a um custo muito menor do que os negócios mais eficientes e lucrativos.
É impossível conseguir um pouso suave para a economia quando o Federal Reserve ignora os sinais do sistema bancário e da economia real. O primeiro pilar de uma verdadeira calmaria deve ser a preservação do rendimento real disponível dos trabalhadores e da capacidade de criação de emprego e investimento das empresas.
Enquanto o governo continua aumentando os gastos, não há sinal do mais brando controle orçamentário e todo o “pouso” vem do setor privado, o que temos é economia de cabeça para baixo.
O Federal Reserve parou de prestar atenção aos agregados monetários justamente quando a oferta monetária está se contraindo a um ritmo quase histórico. Pior ainda, a oferta monetária está se contraindo, mas o déficit federal permanece intocado e o teto da dívida foi elevado novamente.
A oferta monetária está em colapso devido à inevitável crise de crédito e às dificuldades enfrentadas por consumidores e empresas. É impossível crescer com aumento de impostos, inflação persistente – um imposto em si – e carregando todo o ônus da normalização da política monetária.
Combater a inflação sem cortar gastos do governo é como fazer dieta sem eliminar alimentos que engordam.
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