Economia
A relação entre juros artificialmente baixos, câmbio depreciado e degradação ambiental
Estranhamente, os progressistas dão um passe-livre a isso
A relação entre juros artificialmente baixos, câmbio depreciado e degradação ambiental
Estranhamente, os progressistas dão um passe-livre a isso
Nota do Editor
O artigo abaixo possui a adição de um trecho específico para torná-lo ainda mais crucial à realidade brasileira.
____________________________
Teóricos que defendem soluções de livre mercado para o ambiente já demonstraram que a melhor maneira de se preservar a natureza é estendendo a criatividade empreendedorial e os princípios do livre mercado para todos os recursos naturais, o que requer a completa privatização destes e uma correta definição e defesa dos direitos de propriedade que pertencem a eles.
Sem estes direitos, todos eles baseados na propriedade privada, o cálculo econômico se torna impossível, a correta alocação de recursos escassos para as aplicações mais demandadas é impedida e todos os tipos de comportamentos irresponsáveis são encorajados, o que leva ao consumo e à destruição injustificados de vários recursos naturais.
Entretanto, estes teóricos conservacionistas pró-livre mercado até hoje seguem ignorando uma outra grande causa do uso ineficiente e improdutivo dos recursos naturais: a expansão artificial do crédito — via redução artificial dos juros e consequentemente expansão da oferta monetária — que os bancos centrais orquestram e ciclicamente injetam nos sistemas econômicos por meio dos sistemas bancários.
A expansão artificial
Toda expansão creditícia artificial desencadeia, em sua fase inicial, uma bolha especulativa que pode ser caracterizada por uma "exuberância irracional".
Quando o Banco Central reduz artificialmente os juros, ele faz com que aqueles investimentos que antes não eram atraentes repentinamente se tornem promissores. Quando os juros dos empréstimos bancários são reduzidos, aqueles projetos de longo prazo que antes eram inviáveis tornam-se agora — exatamente por causa dos juros mais baixos — aparentemente viáveis.
Esses projetos de longo prazo — como, por exemplo, empreendimentos imobiliários, construção de shoppings, fabricação de máquinas, e ampliação da capacidade produtiva das indústrias — são aqueles que demandam mais capital e mais investimentos vultosos. O que antes parecia caro, agora, repentinamente — por causa dos juros menores — parece bem mais acessível.
Esta fase da expansão creditícia provoca uma série de desequilíbrios e descoordenações na economia real. Como a taxa de juros é um preço como qualquer outro da economia, sua manipulação pelo governo irá, inevitavelmente, gerar distorções que se tornarão explícitas apenas no longo prazo.
Consequentemente, vários projetos e empreendimentos de longo prazo que antes da expansão do crédito se mostravam desvantajosos se tornam agora, por causa da queda dos juros, aparentemente (muito) lucrativos.
Esse novo dinheiro criado pelo Banco Central e injetado na economia por meio do sistema bancário (via concessão de empréstimos) faz empreendedores pensarem que outras pessoas pouparam dinheiro — reduziram seu consumo —, desta forma liberando capital para a economia. No entanto, a realidade é que não houve nenhum aumento na poupança, e nenhum aumento em bens de capital. Houve apenas criação de moeda e manipulação de juros.
E quando este processo de expansão monetária ocorre simultaneamente em nível mundial, as consequências são globais.
As consequências ambientais
E um dos resultados mais ignorados deste fenômeno é a desnecessária pressão que ele gera sobre todos os recursos naturais.
Árvores que até então não deveriam ser derrubadas se tornam extremamente desejadas por madeireiras, cuja matéria-prima está agora sendo demandada por vários setores imobiliários.
Por causa do boom na construção civil, a produção de cimento aumenta exponencialmente, o que por sua vez exige um aumento na produção de alumina, de sílica, de óxido de ferro e de magnésio, os quais são queimados juntos em um forno e pulverizados, transformando-se em seguida em concreto.
Para aumentar a extração de minerais, várias montanhas e vales são explorados e perfurados mais atabalhoadamente, sempre com urgência para se suprir a crescente (e artificial) demanda.
O aumento artificial da renda, gerado pelo crédito fácil, estimula uma maior demanda por uma gastronomia mais requintada, o que estimula a pesca predatória e uma maior quantidade de abate de animais.
Florestas são queimadas com mais frequência para aumentar o plantio de soja. A criação de gado, uma atividade que os ambientalistas dizem ser poluidora, se expande. A atmosfera é poluída. Os rios são contaminados.
Além dos minerais, aumenta-se também a prospecção de petróleo e gás com o intuito de se completar projetos excessivamente ambiciosos para os quais simplesmente não haverá demanda assim que eles ficarem prontos, dado que os consumidores estarão mais endividados e sua renda não terá aumentado como se previa inicialmente.
No Brasil
O gráfico a seguir mostra a evolução da taxa Selic e da oferta monetária (M1) no Brasil.
Gráfico 1: linha azul, eixo da direita: M1; linha vermelha, eixo da esquerda: taxa Selic
Observe que a relação é quase sempre inversa. Quando a Selic sobe, a expansão da oferta monetária sofre uma desaceleração. Quando a Selic cai, expansão da oferta monetária acelera.
Já o gráfico a seguir mostra a evolução da taxa Selic e da taxa de câmbio.
Gráfico 2: linha azul, eixo da direita: taxa de câmbio (reais por dólar); linha vermelha, eixo da esquerda: taxa Selic
A desvalorização cambial (que deixou nossos produtos mais baratos em dólares) tornou extremamente atraente a exportação de soja, milho, gado e madeira. Daí não ser surpresa a explosão em seus preços e o consequente aumento das queimadas em áreas do pantanal e da Amazônia visando à troca de vegetação para outras mais resistentes ao gado, ao plantio de soja e à derrubada de madeira.
O gráfico abaixo mostra a evolução do preço do Boi Gordo, em reais, na B3:
Gráfico 3: evolução do preço do Boi Gordo, em reais, na B3.
Já o próximo gráfico mostra a evolução do preço do milho, também na B3:
Gráfico 4: evolução do preço do milho, em reais, na B3.
E agora, o preço da madeira, em reais, no mercado mundial.
Gráfico 5: evolução do preço da madeira, em reais, no mercado mundial.
Por sua vez, o preço da soja, em reais, no mercado mundial.
Gráfico 6: preço da soja, em reais, no mercado mundial.
Aqui, a evolução dos preços, em reais, das principais commodities agropecuárias brasileiras, segundo dados do Banco Central:
Gráfico 7: evolução dos preços das principais commodities agropecuárias. Fonte: Banco Central
Finalmente, a evolução dos preços, em reais, das principais commodities industriais metálicas brasileiras, segundo dados do Banco Central:
Gráfico 8: a evolução dos preços das principais commodities industriais metálicas brasileiras. Fonte: Banco Central
Para concluir, os preços dos imóveis no Brasil:
Gráfico 9: índice dos preços dos imóveis no Brasil.
As consequências econômicas
No final deste ciclo, quando a expansão creditícia — que não pode se perpetuar para sempre, sob o risco de destruir a moeda — for interrompida, os juros de longo prazo subirão, a expansão monetária será desacelerada, a renda irá parar de crescer, e todos estes investimentos irão se revelar sem sustentação, pois não havia poupança real os lastreando. O mercado inevitavelmente irá impor o desejo dos consumidores e todos estes empreendimentos que até então pareciam lucrativos revelar-se-ão um grande desperdício.
Vários investimentos de longo prazo feitos durante o período da expansão monetária se tornam ociosos, revelando que sua produção foi um erro e um esbanjamento desnecessário (o que os fez ser distribuídos incorretamente no tempo e no espaço) porque os empreendedores se deixaram enganar pela abundância do crédito, pela facilidade de seus termos e pelos juros baixos estipulados pelas autoridades monetárias.
O resultado de tudo isso é que o ambiente é danificado desnecessariamente, uma vez que, no final, o padrão de vida dos consumidores não aumentou em nada.
Pelo contrário, aliás: os consumidores estão agora relativamente mais pobres em decorrência de todos estes investimentos errôneos e insustentáveis que foram empreendidos em decorrência da expansão artificial do crédito, investimentos estes que imobilizaram capital e recursos escassos para seus projetos, recursos estes que agora não mais estão disponíveis para serem utilizados em outros setores da economia.
No geral, a economia está agora com menos capital e menos recursos escassos disponíveis, pois boa parte foi imobilizada em empreendimentos insustentáveis no longo prazo.
É assim que a expansão do crédito, além de afetar toda a economia, ainda degrada desnecessariamente o ambiente.
Esta extremamente sucinta análise nos leva a uma óbvia conclusão: amantes da natureza, além de defender a privatização de todos os recursos naturais, deveriam também defender um sistema monetário de livre mercado, o qual não comporta um Banco Central manipulando e expandindo a oferta monetária e o crédito para atender aos desejos de curto prazo dos políticos.
Em suma, a defesa teria de ser de um sistema monetário baseado em um padrão-ouro puro. Este seria o único arranjo capaz de erradicar as recorrentes expansões econômicas artificiais e insustentáveis e suas subsequentes crises financeiras e recessões, ciclo este que tanto mal faz ao ambiente, à humanidade e a todo o processo de cooperação social.
_________________________
Leia também:
O arroz, o excesso de moeda e os 4 mil anos de controle de preços
A Teoria Monetária Moderna já está sendo aplicada - e explica a inflação do ouro e dos "day traders"
Como a crescente estatização do crédito destruiu a economia brasileira e as finanças dos governos
Comentários (72)
Deixe seu comentário