Loucuras fiscais
Então chegamos a isso. Anos de gastança, inflação, taxação e redistribuição deixaram a economia americana balançando-se em uma recessão que os nossos melhores e mais brilhantes -- ou seja, aqueles que criaram essa bagunça -- alegam requerer um pacote multibilionário de alívio econômico para que se possa abrandar os temores, promover a confiança e estimular a recuperação.
E, alguém pode acrescentar, para manter as coisas calmas após o período eleitoral, que é o real objetivo dessa proposta bipartidária.
É de se pensar sobre o que aconteceu com o boom dos anos 1990, uma expansão propelida pelo crédito fácil e também influenciada pelo dividendo da paz (dinheiro retirado do orçamento da defesa e aplicado em outro lugar. Isso ocorre quando um país não precisa se preocupar com a defesa nacional). O fim da Guerra Fria produziu um governo federal trôpego e estonteado, que perdeu sua racionalização para crescer e se viu incerto de sua função, o que acabou por promover uma era de relativa paz e prosperidade.
Tabela 1: Tendências Diversas, 2000-2007 |
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* O número mais
recente é de 2006 |
Oh, como as coisas mudaram nos anos 2000, com novos monstros a serem destruídos e novas justificativas para uma maior centralização do poder! A tabela 1 lista apenas alguns poucos resultados dessas políticas, e explica por que os candidatos presidenciais só falam em mudança-mudança-mudança! A menos que você tenha muito ouro ou poucas ações de bancos, quem se beneficia com o status quo?
A diferença entre a expansão dos anos 90 e a expansão dos anos 2000 é que a primeira se baseava menos no endividamento, enquanto a última se baseava em ambas as ferramentas fiscais e monetárias - a dupla praga do intervencionismo econômico: expansão da dívida e criação de dinheiro. Essas duas ferramentas são as preferidas dos políticos, pois eles recebem, em curto prazo, os benefícios de um governo inchado sem ter que obrigar a atual geração a pagar por ele.
Ambas são também as formas preferidas de taxação, pois elas blindam o custo total do governo contra a percepção dos atuais eleitores. A dívida transfere as obrigações tributárias para gerações futuras, enquanto que a inflação da oferta monetária é um pernicioso imposto sobre o consumo porque ela faz você pagar por um governo inchado na forma de preços mais altos.
O resultado final, no entanto, é uma expansão insustentável seguida de um inevitável colapso, sendo que o início deste já estamos começando a ver bem agora. Ainda assim, as soluções sendo ventiladas pelos palpiteiros do establishment, tanto à esquerda quanto à direita, pedem por mais do mesmo. Senhoras e senhores, a palavra de ordem de janeiro de 2008 é "estímulo" -- uma nova rodada de endividamento e inflação para tentar adiar a inevitável correção.
Os planos ainda são um tanto obscuros até o momento, mas o tamanho total do estímulo econômico deve ficar entre $125 e $150 bilhões em corte de impostos, gastos direcionados, e devoluções tributárias. Fique de olho na sua correspondência. Você pode achar um cheque do governo com valores entre $800 e $1.600 em alguma data antes do prazo final da entrega do imposto de renda, em 15 de abril. A certeza é que iremos conhecer os detalhes logo. Ambos os partidos querem que algum acordo seja anunciado no pronunciamento anual do presidente sobre o estado da União. (State of the Union).
Vamos recordar as justificativas econômicas para tais políticas. Elas se baseiam em mitos que persistem desde a Grande Depressão. Esses mitos dizem que preços rígidos causam desequilíbrios no mercado, resultando em um excesso de oferta de bens e em um desincentivo para que as empresas expandam a produção e contratem mão-de-obra. Essa incapacidade do sistema de preços de se ajustar para baixo quando as condições de mercado se alteram reflete uma falha inerente do sistema de mercado, o que requer, portanto, uma intervenção extra-mercado por parte dos planejadores centrais, cuja solução envolve políticas destinadas a aumentar o consumo. Se isso ocorrer, o resultado será um aumento da demanda por bens e serviços, o que permitirá que o mercado se equilibre, não obstante a rigidez de preços.
E por aí vão as justificativas. O grande problema com o cenário descrito acima é que os preços na verdade se ajustam para baixo, sim - rigidez é algo raro em mercados competitivos, porém é algo comum em mercados regulados. Portanto, se os mercados não estão se equilibrando em meio a uma correção o problema tem que estar fora do mercado. O culpado é o intervencionismo, e não o sistema de preços.
Digamos que você administra uma fábrica automotiva e ninguém está comprando seus carros ao preço médio de $20.000 cada. O estoque da sua revendedora está crescendo e a sua cadeia de fornecedores está ficando congestionada - ambos indicadores de uma pressão baixista nos preços. Você pode (a) diminuir a produção e diminuir seu preço médio, ou (b) esperar que a demanda dos consumidores aumente. Os planejadores centrais que agora estão formulando esses pacotes de estímulo assumem que você e milhões de outros agentes econômicos que enfrentam escolhas similares irão optar pela segunda estratégia. Mas como os mercados iriam falhar se essa escolha fosse feita, eles requerem que se manipule a demanda do consumidor para que eles funcionem.
"Políticas que obrigam os consumidores a gastar são também políticas que os forçam a não poupar..."
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Uma objeção a tais políticas - além daquelas óbvias que são similares ao que houve na Itália, por volta de 1933 - é que elas preparam o cenário para uma correção ainda mais significante no futuro. Políticas que obrigam os consumidores a gastar são também políticas que os forçam a não poupar, e a poupança é essencial para o crescimento econômico sustentável de longo prazo. Quando as pessoas não poupam hoje, elas consomem menos no futuro, fazendo novamente com que os estoques aumentem e a cadeia de fornecedores se torne congestionada. Na melhor das hipóteses, um gasto forçado pode apenas adiar as correções de mercado; e quanto mais ele esgota a poupança, mais severa será a futura correção.
De nada ajuda o fato de que tais políticas de incentivo da demanda se tornaram elas próprias rígidas, pois são defendidas como sendo instituições políticas keynesianas. Embora muito da economia enquanto ciência tenha se afastado da teoria keynesiana -- o que significa que ela se moveu para um pouco mais perto da posição austríaca, que sempre foi contra Keynes, desde o início --, velhos mitos ainda mantêm seu valor político. Eles frequentemente aparecem na forma de apelos por estímulos econômicos.
O problema para economistas que defendem o livre mercado é que suas recomendações políticas no início de uma recessão não são muito charmosas para o establishment político. Elas dizem que não se deve fazer nada que atrapalhe o ajuste de preços, e que todas as barreiras extra-mercados que já existam e que atrapalham esse ajuste dos preços devem ser diligentemente removidas. Isso frequentemente traz uma dor de curto prazo em troca de uma solução definitiva no longo prazo, ao passo que os políticos preferem premiar soluções de curto prazo que resultam em dor no longo prazo.
E a história prova esse ponto. Antes da criação de tais barreiras, as correções econômicas eram muito mais rápidas. As recessões eram chamadas de pânicos e raramente duravam mais do que três meses. Riqueza maciça e sustentável era criada -- e, como de fato, a Revolução Industrial ocorreu sob essas condições. Foi somente quando aqueles mesmos indivíduos que obstruíam os necessários ajustes de preços e salários durante uma correção se tornaram parte permanente da burocracia governamental que as taxas reais de crescimento decresceram e os ciclos econômicos começaram a ter correções mais longas e mais dolorosas, cada uma requerendo novas rodadas de "estímulos".
E é isso que estamos vivenciando atualmente. É o desatino dos governos em gastar, inflacionar, tributar e redistribuir. Não há nada de novo no front.
[1] Programa de responsabilidade da Previdência Social americana que reembolsa hospitais e médicos por tratamentos fornecidos a indivíduos acima de 65 anos de idade. [N. do T.]
[2] Programa americano, financiado conjuntamente por estados e pelo governo federal, que reembolsa hospitais e médicos que fornecem tratamento a pessoas que não podem financiar suas próprias despesas médicas. [N. do T.]
[3] Money of Zero Maturity - Dinheiro de Maturidade Zero; é uma medida da oferta monetária criada nos anos 1990. É igual ao M2, menos os depósitos a prazo, mais todo o dinheiro em fundos mútuos que investem em dívidas de curto prazo. Inclui todos os tipos de instrumentos financeiros que podem ser facilmente convertidos em dinheiro sem penalizações e sem riscos de perdas de capital. Em resumo: ele mede a quantidade de dinheiro que está imediatamente disponível na economia para gasto e consumo. [N. do T.]
[4] Conglomerado de Illinois que opera mais de 270 fábricas por todo o mundo. Sua atividade consiste no processamento de grãos de cereais (milho e trigo) e óleos vegetais em inúmeros produtos utilizados em bebidas, comidas, nutracêuticas e comidas animais e industriais.
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