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Fatos e dados médicos comprovam: desemprego mata - e quanto mais tempo durar a quarentena, pior será

O desemprego dobra o risco de morte por doença, suicídio ou overdose de drogas

06/05/2020

Fatos e dados médicos comprovam: desemprego mata - e quanto mais tempo durar a quarentena, pior será

O desemprego dobra o risco de morte por doença, suicídio ou overdose de drogas

Nota do Editor

Vale sempre repetir o óbvio: políticos fizeram isso

Em resposta a um vírus, a classe política (governadores e prefeitos, com o apoio do legislativo) impôs uma implacável e profunda contração econômica sobre a população, proibindo o comércio, interrompendo o setor de serviços e impedindo milhões de pessoas de empreender, produzir e trabalhar.

Com um único decreto, a divisão do trabalho foi implodida e milhões de empreendedores e trabalhadores foram humilhados pelo estado, que ainda afirmou arrogantemente que suas atividades não são essenciais para ninguém.

No Brasil, já se espera que a taxa de desemprego ultrapasse 25%. Trata-se de um valor superior à taxa de desemprego vivenciada nos EUA durante a Grande Depressão.

Até o momento, perde-se infindáveis tempo e energia debatendo-se sobre o que é mais importante, proteger a vida ou a economia, como se ambas as medidas fossem perfeitamente separáveis.

De um lado, há aqueles que defendem o fim total da quarentena com o argumento de que o esfacelamento econômico causado por ela será muito pior do que a eventual difusão da Covid-19. De outro, há aqueles que afirmam que proteger pessoas é muito mais importante do que qualquer economia minimamente funcional, de modo que a quarentena deve ser mantida por tempo indeterminado, até as infecções e mortes começarem explicitamente a cair.

No final, a grande realidade é que tal dicotomia não existe. Não há vida digna e saudável com a economia em frangalhos. E não há economia forte com uma população sem saúde.

E tampouco, ao contrário do que dizem as propagandas oficiais de governos estaduais, a economia é "fácil de ser recuperada". Se fosse realmente simples assim, não haveria preocupação com recessões.

Por isso, se tivermos de fazer uma escolha, é bom levarmos em consideração o que vai abaixo.

No artigo a seguir, alguns fatos e dados médicos sobre a relação entre saúde e desemprego. O leitor é livre para tirar suas conclusões.

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O presidente do Federal Reserve, o Banco Central americano, Jerome Powell, anunciou que os dados econômicos que estão sendo divulgados "são os piores dados econômicos que já vimos".

Isso se deve em parte a vinte anos de crescimento econômico impulsionado por estímulos artificiais, baseados em inflar e sustentar bolhas por meio da expansão do crédito a juros baixos. Mas, agora, a situação é muito pior pelo fato de que muitos governos paralisaram as economias de seus estados e nações, fecharam empreendimentos e ainda adotaram inúmeras intervenções quem impedem que os mercados se adaptem à nova realidade de consumidores e trabalhadores em um mundo com um risco exacerbado de doenças.

O resultado foi um desemprego catastrófico. Nos EUA, cujos dados divulgados já estão mais avançados, 30 milhões de americanos já entraram com o pedido de seguro-desemprego nas últimas seis semanas (uma pesquisa coloca em 50 milhões o número de americanos que já pediram o seguro-desemprego). Nos estados que insistem em continuar com políticas extremas e coercitivas de fechamento econômico, os números só pioram.

Infelizmente, muitos formuladores de políticas públicas continuam agindo como se os custos associados a essas paralisações fossem mínimos ou insignificantes (ou, na melhor das hipóteses, fáceis de serem recuperados). E aqueles que ousam se manifestar contra as paralisações – seja da perspectiva da proteção dos direitos humanos ou simplesmente por motivos pragmáticos – são prontamente acusados de estarem colocando o odioso lucro acima da saúde pública.

A realidade, no entanto, é que, quando o desemprego leva ao empobrecimento ou à perda do status social, ele se torna um grande problema de saúde.

Isso é comprovado de maneira evidente em pesquisas que vêm sendo empreendidas há anos. Mas como essa narrativa não apoia o míope e obstinado impulso de "combater a Covid-19" a todo custo, muitos políticos e "especialistas" simplesmente optam por ignorar esses fatos. Os formuladores de políticas públicas continuam agindo com se tudo fosse ficar bem tão logo os políticos decidam unilateralmente que já houve "testagens suficientes" ou que as coisas estão "sob controle". 

O custo do desemprego: um estudo das pesquisas

Falando sobre o desemprego causado pelo fechamento de empresas na crise de 2008 e 2009, uma matéria de 2014 da revista Harvard Public Health afirma:

Aumentaram em 83% as chances de novos problemas de saúde provavelmente desencadeados pela perda de empregos – condições relacionadas ao estresse, como acidente vascular cerebral, hipertensão, doenças cardíacas, artrite, diabetes e problemas emocionais e psiquiátricos.

O risco de morte também aumentou:

Uma meta-análise de 2011 das pesquisas internacionais – publicada na Social Science & Medicine por David Roelfs, Eran Shor, Karina Davidson e Joseph Schwartz – descobriu que o risco de morte era 63% maior, durante os períodos de estudo, entre aqueles que vivenciaram desemprego do que entre aqueles que não perderam seu emprego, ajustando-se para idade e outras variáveis.

E para os homens os impactos costumam ser piores: 

Um estudo de 2009 sobre o impacto da crise do petróleo dos anos 1980 [quando o preço do petróleo caiu forte e várias petrolíferas quebraram] e da recessão subsequente na Pensilvânia, publicado pelos economistas Daniel Sullivan e Till von Wachter no Quarterly Journal of Economics, descobriu que, um ano após os homens terem perdido seus empregos em uma onda de demissões em massa, suas chances de morrer dobraram.

Em um estudo sobre o efeito do crescimento econômico na morbidade no século XX, M. Harvey Brenner escreve no International Journal of Epidemiology que

a ampla e crescente literatura sobre desemprego e saúde é altamente consistente em comprovar a elevada morbimortalidade associada ao desemprego e à expulsão da força de trabalho.

A literatura sobre os desempregados de longa duração também mostra maior exposição ao alcoolismo e uso de outras substâncias psicotrópicas, como tabaco e alimentos baratos e menos nutritivos. 

Igualmente importante, os desempregados de longa duração estão especialmente em risco de terem relações familiares despedaçadas e amizades prejudicadas, além do isolamento social induzido pela própria perda de emprego.

Neste estudo de 2003 sobre desemprego no Journal of Health Economics, os autores concluíram:

O desemprego aumenta o risco de morte de 5,36% para 7,83% — ou seja, o risco aumenta 46%.

E, quando se consideram mortes não-causadas por câncer ou problemas cardiovasculares, o desemprego mais do que duplica esse risco, e tal efeito é significativo. Também para suicídios, o efeito estimado do desemprego é significativo, e a estimativa pontual implica que o desemprego aumenta o risco de suicídios em 145%.

Os efeitos do desemprego na saúde também pioram quanto mais cedo no ciclo a pessoa fica desempregada. Em um estudo finlandês sobre desemprego, Pekka Martikainen descobriu que

Homens desempregados pela primeira vez em 1990, 1991 ou 1992 tiveram, respectivamente, 111%, 72% e 35% maior mortalidade padronizada do que os homens que permaneceram empregados.

Em outras palavras, aqueles que ficaram desempregados primeiro – ou seja, em 1990 – tiveram maior mortalidade do que aqueles que ficaram sem emprego nos anos posteriores. Mas a conclusão geral foi familiar. A mortalidade aumentou consideravelmente para aqueles que ficaram desempregados:

foi observado um excesso de mortalidade de 47% entre os homens desempregados ou trabalhando em regime de tempo parcial por outros motivos que não a doença, após ajuste por idade, região geográfica, classe social, tabagismo, consumo de álcool, peso e doença pré-existente conhecida.

Além disso, os efeitos a longo prazo podem ser significativos. Em um estudo sueco sobre o efeito a longo prazo do desemprego, os pesquisadores descobriram que

A mortalidade relacionada ao álcool foi significativamente aumentada entre homens e mulheres que perderam o emprego.

Para os homens, o risco de morte relacionada ao álcool era mais que o dobro para os desempregados do que para os empregados. O risco era quase o dobro para as mulheres. O mesmo estudo também mostrou que, para homens que ficaram desempregados, o risco de morte a longo prazo por suicídio era mais que 40% maior do que o empregado. Até o risco de morte por "acidentes de trânsito" tornou-se maior após surtos de desemprego.

Os autores concluem:

No mínimo, o desemprego afetou um segmento vulnerável da população, particularmente homens jovens, homens solteiros e homens de baixa escolaridade ou renda.

Pior ainda: os efeitos do desemprego tendem a ser ampliados por períodos anteriores de desemprego, pois "o risco de ficar desempregado é maior entre pessoas que já tiveram experiência anterior de desemprego. Isso foi chamado de 'cicatriz', 'dependência de caminho' ou 'dependência do estado'. "

Isso aumenta os efeitos do desemprego na saúde entre os grupos mais desfavorecidos economicamente.

Não é de se surpreender que o aumento do desemprego também aumente o risco de morte por causas relacionadas às drogas. Neste estudo de 2017,

os pesquisadores descobriram que um aumento de um ponto percentual na taxa de desemprego do município está associado a 0,2 mortes adicionais relacionadas a drogas opioides por 100.000 residentes do condado, um aumento de 3,6% em relação à taxa média de 5,4 mortes por 100.000. 

Similarmente, há um aumento de 3,3% na taxa de todas as mortes relacionadas a drogas. No que tange a emergências médicas, um aumento de um ponto percentual na taxa de desemprego do município está associado a mais 0,95 visitas às emergências médicas por overdose de opioides por 100.000 habitantes, um aumento de 7%.

Estudos já começaram a ser publicados em nossa atual recessão. Embora não estudem diretamente o desemprego, um novo estudo de dados suíços sobre as "consequências relacionadas à saúde mental da mitigação da COVID-19" (ou seja, quarentenas, lockdown e paralisações econômicas), os autores concluíram:

O estudo projeta que o indivíduo médio sofreria 0,205 AVP [anos de vida perdidos] devido às consequências psicossociais das medidas de mitigação da Covid-19. No entanto, essa perda seria inteiramente suportada por 2,1% da população, que sofrerá uma perda média de 9,79 AVP. […] Os resultados apresentados aqui provavelmente subestimarão o verdadeiro impacto das estratégias de mitigação nos AVP.

Em outras palavras, as estratégias de "mitigação" que supostamente salvam vidas estão apenas transferindo o fardo de algumas pessoas para outras. Em alguns casos, as quarentenas representam quase uma década de anos perdidos, graças ao farol imposto à saúde mental.

Confrontados com os custos prováveis de suas políticas de quarentena, muitos recorrerão à afirmação de que a aritmética básica pode nos dar a resposta. "Quantas mortes são causadas pelo desemprego versus a Covid-19?" Essa alegação tem como premissa a ideia de que cabe aos defensores da liberdade provar que o número de mortes causadas pela destruição econômica superará o número total de mortes pelo Covid-19. Na opinião dos defensores da quarentena, se o número líquido de vidas salvas pela quarentena continuada for de uma única pessoa, então suas políticas de massacre da liberdade individual e do estado de direito serão totalmente justificáveis.

Eles estão errados, é claro. O ônus da prova é todo deles. Afinal, são eles que defendem a violência. Ou seja, são eles que desejam multar e até mesmo prender pessoas não-violentas que querem apenas abrir suas lojas, ou irem trabalhar, ou venderem seu trabalho em troca salários. Se essas pessoas não se sujeitarem, os defensores da quarentena e do lockdown abertamente afirmam que tais "desobedientes" devem ser trancados em jaulas ou arruinados financeiramente por meio de multas, ações judiciais e acusações criminais.

Os oponentes das quarentenas, por outro lado, desejam apenas permitir que as pessoas exerçam sua liberdade.

O ônus da prova recai sobre aqueles que desejam usar os poderes da polícia e o monopólio estatal da violência para coagir todos os outros.

Por fim, a verdade é que os "especialistas" não têm ideia de como ou em que quantidade as quarentenas estão realmente impedindo a propagação de doenças ou de como o emprego e o crescimento econômico seriam afetados na ausência de quarentenas forçadas. Os proponentes da quarentena simplesmente não têm dados suficientes para justificar sua posição. Não há nenhum artigo acadêmico específico sobre isso. Há apenas modelos matemáticos.

Tudo o que eles sabem é que desejam forçar as pessoas a abandonarem seus empregos, abandonarem suas lojas e viverem de esmolas do estado. Como resultado, muitos se matam. Outros vários terão uma overdose de drogas.


Sobre o autor

Ryan McMaken

Ryan é bacharel em economia e mestre em políticas públicas e relações internacionais pela Universidade do Colorado. É editor sênior do Mises Institute

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