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Economia

Por que proibir o Brasil de explorar suas florestas? – E o exemplo sueco

Em vez de fazer sensacionalismo barato, tentemos uma abordagem mais racional

03/09/2019

Por que proibir o Brasil de explorar suas florestas? – E o exemplo sueco

Em vez de fazer sensacionalismo barato, tentemos uma abordagem mais racional

Com todos os olhos do mundo voltados para o Brasil nas últimas semanas, a histeria alcançou ápices inéditos.

Erroneamente caracterizada como "o coração do planeta" ou "o pulmão do mundo", a vasta região amazônica foi exaustivamente noticiada pela mídia como estando sob um impiedoso ataque de incêndios criminosos feitos por homens que querem acabar com a floresta para abrir espaço para a agricultura e a pecuária.

Os oponentes do desmatamento afirmam que as queimadas são um ataque direto ao planeta e um ataque a uma floresta pura e imaculada, que é um patrimônio natural do mundo -- além de também serem, é claro, um ataque genocida à população indígena do Brasil.

Para agravar, as queimadas também estariam submetendo todos os indivíduos do planeta a um duplo risco: de um lado, um enorme capturador e armazenador natural de carbono estaria sendo destruído; de outro, vastas quantidades de CO2 estariam sendo jogadas na atmosfera pelas queimadas, exacerbando as mudanças climáticas.

Ignorando os absurdos mais óbvios (Cristiano Ronaldo compartilhou fotos de uma queimada ocorrida no sul do Brasil em 2013; Madonna e Leonardo DiCaprio insuflaram seus milhões de seguidores a "tomarem uma atitude" utilizando fotos de incêndios ocorridos décadas atrás), políticos ao redor do mundo (com Emmanuel Macron utilizando uma foto de 1989) condenaram o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, afirmando que sua política de "abrir a Amazônia" estimulou os incendiários.

Várias das afirmações melodramáticas também são incorretas ou falsas: tudo indica que os focos de incêndio ocorreram em campos já desmatados, e não estavam fora de controle; a Amazônia não é responsável por 20% do oxigênio do planeta (e nem mesmo por 6%); ao contrário, ela consome todo o oxigênio que produz; e a fumaça dos fogos da Amazônia não virou chuva negra em São Paulo, a 3.000 quilômetros de distância. De acordo com a BBC, os meteorologistas afirmam que os resíduos vieram de queimadas totalmente distintas, que estavam ocorrendo muito mais próximas da cidade.

Muitos dos explosivos números que estão sendo jogados para o público (de 35 a 80% mais ocorrências de queimadas em relação ao ano passado, um aumento de 15397388 ou 278 por cento no desmatamento total) estão tecnicamente corretos, mas altamente enganosos -- o inevitável resultado de se ter jornalistas sensacionalistas sendo imprudentes com estatísticas oficiais e escolhendo arbitrariamente períodos de tempo que são mais convenientes para sua narrativa.

A enorme amplitude dos números citados acima já basta para mostrar que há algo de estatisticamente esquisito em como eles foram conseguidos. Logo, se você for às fontes oficiais e fizer uma análise mais sóbria irá descobrir que o número de incêndios, embora um tanto maior que o do ano passado, está em linha com os de 2016 e 2017 e também com a média de longo prazo. Mais ainda: os atuais são bem menores que os ocorridos em meados da década de 2000. (No gráfico abaixo, o ano de 2019 vai até agosto).

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Já as taxas de desmatamento apresentaram um ligeiro aumento nos últimos anos em determinados estados (Pará, Mato Grosso e Amazonas), mas o desmatamento na parte brasileira da floresta amazônica ficou essencialmente estável na última década – e caiu acentuadamente em um período de 30 anos.

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Em 2018, a área total da floresta amazônica que os brasileiros desmataram foi de 7.500 quilômetros quadrados (o que equivale 0,2% do total brasileiro da floresta amazônica). Isso dificilmente pode ser rotulado de "ecocídio".

Um editorial do Wall Street Journal apresentou o sensato argumento de que os países ricos são mais eficazes que os mais pobres em proteger seu ambiente, ressaltando aquela obviedade que ambientalistas de esquerda se recusam a aceitar: "a riqueza aumenta as preocupação com as 'mudanças climáticas, de modo que a solução é fazer com que todos sejam mais ricos".  

Logo, em vez de xingar chefes de governo, fazer sensacionalismo com notícias enganosas, ou prognosticar iminentes desastres ambientais, consideremos uma questão mais intrigante: quem sabe o Brasil não deveria queimar mais, em vez de menos, suas florestas?

O Brasil é um país comparativamente pobre (em termos per capita), e a região norte, onde está a floresta amazônica, é ainda mais pobre, com uma renda equivalente às de Albânia, Namíbia e Iraque -- em contraste com os padrões de classe média emergente observados nos estados mais ao sul do país. No geral, a economia do Brasil depende de recursos naturais, sendo que mais da metade de suas exportações é de matéria-prima.

Transformar uma floresta relativamente improdutiva em terras agrícolas e pecuárias relativamente mais produtivas iria melhorar substantivamente o padrão de vida de algumas das pessoas mais pobres do Brasil -- com efeito, este é o principal motivo de elas estarem fazendo o que estão fazendo. Aliás, por que não podemos deixar as pessoas se aproveitarem de um grande ativo que está logo à sua porta, ativo esse que pode aditivar seu crescimento e sua transição para um padrão de vida melhor?

Proibir os pobres de melhorarem de vida utilizando ativos naturais em seu quintal é puro elitismo.

As lições da Suécia

Atualmente, poucas pessoas pensam na Suécia como um país em desenvolvimento exportador de matérias-primas. Suas infindáveis florestas de coníferas, em conjunto com as vizinhas norueguesas e finlandesas, se estendem até a imensidão do Ártico. Mesmo hoje, a Suécia é um país muito mais florestado que o Brasil, e pode oferecer algumas dicas sobre como exitosamente preservar e desenvolver suas florestas.

Na década de 1870, metade das exportações do país era madeira -- uma fatia muito mais significativa que a do Brasil, que hoje possui uma mais diversificada indústria de matérias-primas --, e essas exportações de madeira representavam uma fatia do PIB bem maior do que a silvicultura e a agricultura representam para o PIB do Brasil de hoje.

E o principal: desde o explosivo crescimento das indústrias de madeireira e serraria no final do século XIX, o volume de florestas suecas aumentou em pelo menos 80%. Hoje, somente 0,3% das florestas suecas permanecem intocadas e originais. E, ainda assim, ninguém em sã consciência diria que as atividades de exploração e corte de madeira -- totalmente voltadas para o lucro e que exploraram 99,7% das florestas do país -- foram um desastre ambiental para a península escandinava.

Eis o segredo: a imensa maioria das florestas da Suécia se tornou propriedade privada. Elas têm donos e são administradas por entes privados. Consequentemente, são sustentavelmente cultivadas. (Óbvio: se o dono destruir a floresta de maneira inconsequente, ele não terá como ter novos lucros futuros. Logo, sua preservação é crucial).

Somente 3% das florestas são propriedade do governo (outros 14% são geridos por uma empresa que tem o estado como seu principal acionista, sendo que ela é gerida como qualquer outro empreendimento em busca de lucro), e a maior parte delas está nas mãos do governo por terem sido classificadas como patrimônio nacional, estando localizadas em regiões montanhosas remotas e inacessíveis.

Com efeito, as florestas da Suécia cresceram tanto em tamanho quanto em volume à medida que o país enriqueceu e sua economia foi se expandindo para outras indústrias. Desde 1975, quando seu PIB per capita se assemelhava ao do Brasil de hoje, as taxas de reflorestamento líquido vêm se mantendo em torno de 3 a 4% ao ano. Surpresa nenhuma: quando você é dono de sua própria terra, você possui todos os incentivos para cuidar muito bem dela. Sua preocupação é com a produtividade de longo prazo. Assim, você irá ceifar apenas um número limitado de árvores, pois não apenas terá de replantar todas as que ceifou, como também terá de deixar um número suficiente para a colheita do próximo ano.

Em contraste, aproximadamente 40% da floresta amazônica é protegida, estando entregue ou a tribos indígenas (terras demarcadas) ou sob o controle direto do estado. Aproximadamente 35% da região são fazendas particulares: uma parte é legalmente registrada e outra parte foi apossada por migrantes e ainda está no aguardo da regularização fundiária (um processo extremamente complexo e demorado). O restante, aproximadamente 25% da floresta amazônica, é totalmente devoluta e sem proprietário.

Qualquer um familiarizado com a obra de Hernando de Soto e seu livro O Mistério do Capital entende perfeitamente por que isso é um problema.

Pesquisadores especializados em Amazônia já entenderam esse básico há muito tempo. O professor Brian Robinson, da McGill University, e colegas da Universidade de Winconsin concluíram em uma meta-análise sobre florestas e desmatamento, feita há alguns anos, que "terras públicas parecem ser particularmente vulneráveis a ataques ambientais na América do Sul". Dois pesquisadores brasileiros do departamento de economia da Universidade de Campinas concluíram o mesmo: "O desmatamento ocorre principalmente porque os direitos de propriedade não são claramente estabelecidos, e ocorre em terras direta ou indiretamente gerenciadas pelo estado".

Conclusão

Fatos e realidade nunca foram o forte do movimento verde, o qual consistentemente opera com base em emoções, táticas que apelam ao medo, e hipóteses catastrofistas. Sim, há queimadas devastando partes da Amazônia. Sim, em algumas regiões desta imensa floresta tropical, as taxas de desmatamento aumentaram levemente após alguns anos de taxas impressionantemente baixas. No entanto, a histérica reação ambientalista que estamos testemunhando é, como sempre, incrivelmente exagerada.

Ao contrário do que dizem os ambientalistas, está longe de ser "algo óbvio" que explorar a floresta amazônica é uma má idéia. Por que seria? Com efeito, no atual estágio de desenvolvimento do país, seria bastante insensato proibir brasileiros de converter áreas da floresta em terra agrícola ou em terras de exploração de madeira. Noventa por cento do desmatamento mundial aconteceu antes de 1950, e, ao que tudo indica, a meta de desmatamento líquido zero, estipulada pelo World Wildlife Fund, será alcançada ano que vem.

Florestas podem ser replantadas, e, com efeito, elas sempre são -- tão logo o país enriquece e sua agricultura se torna moderna e produtiva, necessitando de cada vez menos áreas para plantio. Se a famosa curva de Simon Kuznets possui alguma aplicação prática, então o desmatamento é um sério candidato para ela.

A história florestal sueca oferece algumas soluções que podem ser copiadas pelo Brasil. Iniciativa privada, com direitos de propriedade garantidos, gera indústria próspera com sustentabilidade de longo prazo. Sim, a resolução da questão amazônica é relativamente simples: defender a propriedade privada como meio de resolução dos problemas.

As florestas da Suécia mandam floreadas lembranças.

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Leia também:

Propriedade privada significa preservação

Se você gosta da natureza, privatize-a 

Sobre o autor

Joakim Book

nascido na Suécia, possui mestrado pela Universidade de Oxford e é visiting scholar do American Institute for Economic Research

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