“Para a economia crescer, temos de aumentar a demanda!” – eis um mito sem nenhuma lógica

Sendo seguidores das idéias de Keynes e, em menor
escala, de Milton Friedman, a maioria dos economistas convencionais acredita que, para haver crescimento econômico, é necessário estimular a demanda por
bens e serviços.

Tanto Keynes quanto Friedman acreditavam que recessões
eram causadas por uma “insuficiente demanda agregada”, de modo que a maneira de
corrigir este problema era, obviamente, incentivando a demanda agregada.

Para Keynes, a maneira
correta de se fazer isso era utilizando o governo, o qual deveria pegar
dinheiro emprestado para aumentar seus gastos. O aumento dos gastos do governo representaria
um aumento do consumo e, consequentemente, estimularia a demanda.

Para Friedman, a solução correta
era recorrer ao Banco Central, o qual deveria adotar uma política monetária mais
expansionista, injetando dinheiro no sistema bancário e reduzindo os juros.
Isso estimularia mais empréstimos. Mais dinheiro na economia reativaria a
demanda.

Lógica
básica

O principal problema com ambas as teorias é que “demanda
insuficiente” é um conceito que, em si mesmo, não faz sentido. Como seres
humanos, estamos sempre demandando bens e serviços, pois nossas necessidades são
infinitas. Do momento em que acordamos até o momento em que vamos dormir
estamos sempre demandando bens e serviços. Demandar bens e serviços é o impulso
mais natural do ser humano. É impossível viver sem demandar.

O real problema, aí sim, é que a demanda de um indivíduo
é restringida por sua capacidade de
produzir bens e serviços
. Para demandar (bens e serviços), um indivíduo tem
antes de produzir (bens ou serviços). Somente após ter produzido, ele terá a
renda necessária para demandar. Quanto mais bens ou serviços um indivíduo for
capaz de produzir, mais bens e serviços ele poderá demandar, e consequentemente
adquirir.

De novo: é a produção de um indivíduo o que o
capacita a pagar pela produção de outro indivíduo. Quanto mais bens ou serviços
um indivíduo produzir, mais bens e serviços ele pode adquirir para si próprio. Consequentemente,
a demanda de um indivíduo é restringida por sua capacidade de produzir bens ou serviços.

Tendo entendido isso, pode-se concluir que a demanda
não é algo independente e autônomo. Não
é algo que depende apenas de si próprio, podendo ser livremente manipulado. A
demanda é limitada pela produção. Sendo
limitada pela produção, é logicamente impossível querer “estimular a demanda”.

Por conseguinte, o que impulsiona a economia não é a
demanda por si só, mas sim a produção
de bens e serviços.

Neste sentido, os produtores — e não os
consumidores — são o motor do crescimento econômico. Obviamente, se um
produtor quiser ser bem-sucedido, ele terá de produzir bens ou serviços em
linha com o que outros produtores demandam.

Como explicou James Mill:

Quando
bens são colocados à venda no mercado, o que se quer é que alguém os compre. No
entanto, para comprá-los, esse alguém tem de ter os meios para pagar por eles. Disso
se torna óbvio que os meios de pagamento coletivos que existem em toda a nação
constituem todo o mercado desta nação.

Porém,
em que consistem os meios de pagamento coletivo desta nação? Não seriam eles
formados pela produção anual, pela receita anual obtida pela massa geral de
habitantes?

Mas
se o poder de compra de uma nação é mensurado exatamente por sua produção anual
(como sem dúvida é), então quanto mais você aumentar a sua produção anual, mais
você — por meio deste próprio ato — ampliará o mercado nacional, o poder de
compra e o próprio consumo da nação. […]

Assim,
a lógica indica que a demanda de uma nação é sempre igual à produção desta nação.
E, de fato, tem de ser assim, pois, afinal, qual é a demanda de uma nação? A demanda
de uma nação é exatamente o seu poder de compra. Mas qual é o seu poder de compra?
A amplitude de sua produção anual. Consequentemente, a amplitude de sua demanda
e a amplitude de sua oferta são sempre exatamente proporcionais.

Se uma população de cinco indivíduos produz dez
batatas e cinco tomates, isso é tudo o que eles podem demandar e consumir. Não há
nenhum truque do governo ou do banco central que possa aumentar a demanda
efetiva. A única maneira de aumentar a capacidade de consumir é aumentando a capacidade de produzir.

O fato de que a demanda depende da produção é uma
realidade que não pode ser abolida por meio de gastos governamentais ou de aumento
da quantidade de dinheiro na economia. Aumentar os gastos do governo ou a
quantidade de dinheiro na economia não pode alterar esta realidade.

Muito pelo contrário, aliás: políticas fiscais e monetárias
expansionistas irão desviar para o governo boa parte do que foi produzido e
elevar os preços dos produtos remanescentes no mercado. O produtor de batatas,
que precisa se alimentar de tomates para continuar produzindo, terá agora menos
tomates à sua disposição, e os preços serão maiores. O mesmo vale para o
produtor de tomates que se alimenta de batatas.

Consequentemente, com menos bens à venda e preços maiores,
o bem-estar dos produtores/consumidores será menor e eles terão de arcar com preços
de produção maiores, o que irá afetar sua capacidade de produzir mais bens e serviços.
Tudo isso irá enfraquecer a
demanda efetiva.

Por isso, o que é necessário para reativar a
economia não é estimular a demanda, mas sim dar liberdade para a produção (criação
de oferta). Isso inclui não fazer uma política monetária expansionista e não aumentar
os gastos do governo — com efeito, inclui fazer uma política monetária austera
e cortar os gastos do governo.

Acima de tudo, inclui desburocratizar e
desregulamentar, pois apenas isso irá permitir que os verdadeiros criadores de
riqueza reativem a economia em decorrência de terem mais liberdade para
empreender, produzir e gerar riqueza.

Conclusão

A lógica mostra que fortalecer a capacidade da
economia de produzir bens e serviços equivale,
por definição, a fortalecer a “demanda agregada” e a promover o verdadeiro
crescimento econômico.

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Leia também:

A Lei de Say é irrefutável
e, sozinha, destrói todo o arcabouço keynesiano

O consumismo não gera
crescimento econômico – e sua defesa é o cerne da teoria keynesiana

 

0 comentário em ““Para a economia crescer, temos de aumentar a demanda!” – eis um mito sem nenhuma lógica”

  1. A economia só pode crescer com concorrência. Ou seja, produzir mais com menos dinheiro.

    Só a concorrência pode aumentar o poder de compra, porque reduz os preços e faz com que ocorra um aumento na quantidade de produtos fabricados.

    A inflação não permite o aumento na quantidade de produtos que são comprados pelos consumidores, estagnando a produtividade. Não tem como alguém comprar mais coisas, se os preços não param de subir.

    Os políticos brasileiros acham que eles podem gastar mais, sendo que a crise é por excesso de gastos. É como se um carro sem freio precisasse acelerar mais em uma ladeira, para conseguir fazer a próxima curva.

    Não adianta expandir crédito, se o salário das pessoas não acompanha a inflação. Essa expansão de crédito com inflação é um suicídio econômico.

  2. Na faculdade eu aprendi essa bobagem de "deficiência da demanda". Se você parar para pensar, a coisa desafia o bom senso. O propósito de se ter preços em qualquer coisa é justamente haver um mecanismo de racionamento. Se a demanda fosse um problema então não mais precisaríamos desse mecanismo de racionamento! E a "demanda insuficiente" estaria resolvida!

    Preços existem justamente porque nossas demandas são infinitas, mas os recursos para saciá-las são escassos. Isso é o básico do básico.

    Por isso, não tem como existir um problema de demanda, mas sim de oferta. Qualquer economista minimamente sensato deveria saber disso.

  3. Alguém saberia dizer se há algum artigo aqui explicando as constantes intervenções do governo no mercado de máquinas agrícolas?

    Já vi sobre o setor civil e de transporte rodoviário, mas gostaria de ver uma análise referente a esse mercado.

  4. Pessoal o problema é que essa elite socialista sabe muito bem sobre economia, sabe melhor que a Gente, e dizem algumas fontes que quem financiou mises foi a Fundação Rockefeller e o ideal seria o liberalismo econômico de mises que faz as nações serem ricas mesmo e que todos os posts desse site estão corretos e eles sabem também que o socialismo é um lixo e que jamais

    deveria ser praticada na economia.

    Mas porque eles sabendo disso, defendem com unhas e dentes o socialismo?. A resposta está

    no governo do maduro, uma ditadura onde alguns mamam e o povo trouxa enganado fica achando que melhorou de vida , que está nos céus, mas que na realidade está nas profundezas do inferno.

  5. Os textos do IMB são sensacionais, queria poder obrigar todos da minha turma de direito a ler pelo menos um…

    Fazer direito e ser liberal não é fácil.

  6. Entendo que uma alternativa para a criação de oferta promovendo a reativação da economia seria por meio da geração de empregos. Quanto mais pessoas empregadas produzindo/fornecendo bens e serviços, mais essas pessoas poderão demandar bens e serviços. Por que a redução das taxas de juros não seriam uma solução? Uma vez que estimularia o investimento privado…

  7. Se, na prática, está mais que comprovado que estimular a demanda em detrimento à oferta é o caminho para o desastre econômico, por que grande parte dos economistas e governos ainda buscam essa solução? Porque é mais simples. Imprimir dinheiro sempre foi politicamente mais fácil de fazer que criar mecanismos que impeçam o aumento nos gastos públicos. Imprimir dinheiro dá voto…e, convenhamos, governo nenhum vai dizer, mas eles adoram uma inflaçãozinha…

  8. Ezequiel Cypriano da Luz

    Oi pessoal, li todas a postulações acima, e como prof. de economia, meu parecer é que, em termos todas justificam os pareceres. Como contribuição meu parecer tangente ao tema, é que as teses dos autores neoclássicos e clássicos sitados nos textos Keynes e Milton Friedmann – neoclássicos; Jean B. Say clássico. Entendo que as postulações clássicas em que o oferta cria a demanda seria a mais correta, pois a economia se desenvolveria através de mais investimentos produtivos, gerando emprego, renda e consumo, portanto a oferta saindo na frente. Por outro lado em economias em desenvolvimento, como o caso do Brasil, o papel do governo também pode influenciar significativamente, aqui a defesa de Keynes é crucial, cuja orientação é a de que os governantes devem criar as condições, os cenários favoráveis para que as empresas invistam produtivamente. Aliás este é o problema, os governantes não têm capacidade ou desenvolvem programas políticos econômicos e sociais para se beneficiarem e se manterem no poder. Se as empresas percebem que seus investimentos produtivos serão viáveis devido a uma política expansionista efetiva – com redução de impostos, de juro, câmbio adequado e com seus próprios gastos equilibrados, os resultados seriam do ganha ganha para todos, inclusive em termos da redução da distância entre o Brasil e países desenvolvidos.

  9. No anarcocapistalismo uma pessoa poderia abdicar do direito de defesa indiretamente?

    No caso de um flagrante agressão aos direitos de propriedades haveria uma espécie de ” suspensão de direito de propriedade”, a pessoa poderia ser levada ao tribunal e julgada. Mas nos casos em que a presunção de inocência deve permanecer e a pessoa se recussasse a ir a tribunal- exercendo um direito legítimo- nesse caso poderíamos dizer que essa pessoa abdicou do direito de defesa? Levando em conta que o ônus da prova ainda seria do acusador e todo o resto processo legal seria normal, com a diferença que nesse caso o tribunal não teria acesso a propriedade direta do acusado, ele não colaboraria com a justiça e portanto não se defenderia, se não gerasse prova seria inocentado e se fosse julgado culpado poderia recorrer ou aceitar a sentença, mesmo não tendo aceitado ser julgado no princípio com base na presunção de inocência. Seria isso o que aconteceria não é mesmo?

  10. Combo Liberdade Austeridade Justiça

    Outro dia eu assisti um vídeo que diziam, que o Brasil deveria expulsar o estado de São Paulo do país.

    O estado de São Paulo acabou com as fábricas do nordeste. Se um investidor vai gastar 1900 reais com um trabalhador de fábrica, ele sempre vai preferir estados mais desenvolvidos.

    A FIESP faz um lobby violento contra a importação, inviabilizando as importações de produtos baratos pelos nordestinos. Os nordestinos poderiam importar tudo da China a preços extremamente baixos, mas precisam pagar mais caro para os paulistas e outros estados mais industrializados.

    O nordeste fica esperando o dinheiro de estados mais desenvolvidos, deixando de lado o seu próprio desenvolvimento.

    O nordeste fica mais próximo a países desenvolvidos e poderia ter mais facilidade para comercializar com eles. Esse bolsão de pobreza entre a Europa, USA e região Sudeste do Brasil, não tem o menor sentido, porque está no meio da rota comercial. O nordeste seria um hub de distribuição, se não fosse o lobby das indústrias nacionais.

  11. O governo subsidiar empresas com dinheiro de impostos não é o modelo do Fascismo? Então por que esquerdistas modernos apoiam tanto esse modelo que existe no Brasil?

  12. A teoria dos Chicago Boys ataca os sintomas em vez das causas fundamentais: em vez de pensar em como fazer as pessoas gastarem mais, deviam analisar o que obstrui os seus gastos.

    Já a teoria dos keynesianos não é um “mito”, é um pretexto hipócrita para o governo gastar mais e expandir o Estado.

    * * *

  13. Uma simplificação do fluxo circular da renda e apelação à lei de Say. É a crença do automatismo do mercado, mas, é claro, sem citar os impactos sociais das ações. É claro que há insuficiência de demanda, essa pode ser ajustada pelos preços e pelo desemprego? Sim, sem novidades. Mas não é a melhor opção. Em uma economia com excesso de oferta em relação à demanda, uma política fiscal expansionista que incentive a demanda é válida sim.

  14. Os artigos do IMB são sensacionais.

    Uma vez eu li um artigo em que o autor fazia um cálculo bem detalhado e simples para explicar o efeito da inflação sobre o rendimento de uma empresa, que aumentava nominalmente num primeiro momento, mas depois decaía.

    Eu queria reencontrar esse artigo, mas não estou conseguindo. Alguém poderia me ajudar? Desde já, agradeço!

  15. Sou Eng. de Produção.

    Produzir mais, sem demanda só gera estoques. Que tem custos.

    A economia circula com o consumo. Se houver demanda, haverá um produto. Empreender é descobrir demandas do mercado e sana-las. Resolvendo uma necessidade da população.

    No entanto existe uma ordem de prioridades, sendo que o poder de compra é o que vai possibilitar ao individuo subir na lista do essencial, logo para o necessário e por fim o supérfluo.

    Para haver consumo constante e crescente é necessário haver dinheiro sendo movimentado na economia. Dinheiro que representa o poder de compra, que é consequência do trabalho realizado. Trabalho que é realizado em prol das necessidades humanas. Você precisa cortar o cabelo mas o cabeleireiro precisa se alimentar. Uma troca. No entanto existem duas pessoas que trabalham, agora, de onde vem o dinheiro?

    De investimentos. Pessoas que pegam financiamentos, geram trabalho, produzem produtos e coletam dinheiro do mercado. Dinheiro que intermédia necessidade e produtos. Agora, o que explica o desemprego sendo que todos consomem o tempo todo? O que explica a recessão? Bom, em partes quando o dinheiro não esta circulando. Quando fica armazenado em itens supervalorizados ou quando é exportado ao exterior. Nesse caso, para estimular a economia o governo injeta dinheiro na forma de projetos de infraestrutura. Isso quanto tem capital, no entanto se gasta tudo para manter a maquina publica funcionando, precisa de capital privado, que para ingressar no circulo virtuoso, precisa sentir segurança. Que só é dada com politicas publicas que garantam o lucro, o que esta relacionado ao direito de posse, a garantia de perpetuação dos negócios e a competitividade em mercados internacionais. Visto que se um investidor entender que é mais viável importar um determinado produto, por que instalaria suas fabricas no Brasil. De qualquer forma recorrerá ao crédito, na função de gerar empregos e poder econômico a sociedade, viabilizará sua operação ao remover dinheiro do mercado com seus produtos. Na forma do lucro terá a possibilidade de reaver seu investimento e aumentar seu patrimônio. Agora, como remover dinheiro de um mercado sem poder de compra? Primeiramente com exportações. Logo, com redução de juros e impressão de dinheiro, estimulando a injeção de dinheiro na economia, gerando dívidas. Se todos se endividarem, o dinheiro vai circular, no entanto precisa retornar a fonte. A pergunta é? Quando as dividas forem pagas, qual será o dinheiro em circulação? De onde ele virá? Dos lucros? Mas as empresas apenas movimentam o dinheiro. Ele na verdade pertence aos bancos.

  16. Esse tema é muito interessante. Mas, hoje em dia, não dá para concluirmos nada a seu respeito sem levarmos em consideração que, mercado produtivo é uma coisa e mercado financeiro é outra.. Estou certo?

  17. Olá, primeirante meus parábens por essa máteria incrivel

    Para ter produção necessita de ter consumo, se a Fiat produzir 10.000 carros no mês, e vender apenas 6.000, logo ela terá que vender esses 4.000 carros, imagina que ela reduz os preços, e ela vende os carros, e assim vai começar a baixar o preço de todos os carros, então vemos que o conceito de focar na produção de bens e serviços é o mais importante…

    Agora uma pergunta, o govern precisa estimular a produção, Qual seria a melhor maneira de estimular a produção??

    Com reduçoes de impostos???

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