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Economia

A situação fiscal dos governos e a insanidade dos Bancos Centrais explicam a ascensão do Bitcoin

Estamos saindo do âmbito das soluções políticas e indo para as soluções de mercado

29/05/2017

A situação fiscal dos governos e a insanidade dos Bancos Centrais explicam a ascensão do Bitcoin

Estamos saindo do âmbito das soluções políticas e indo para as soluções de mercado

No início da semana passada, o governo Trump anunciou sua proposta orçamentária para 2018. [Nos EUA, o presidente eleito só assume o controle do orçamento a partir de seu segundo ano].

Em si, a proposta orçamentária possui três características: apresenta genuínos cortes em muitos programas governamentais; traz aumentos no irracional orçamento bélico americano; e, no geral, traz aumentos significativos nos gastos governamentais em relação aos níveis atuais.

No geral, os gastos do governo aumentariam 16% de 2016 a 2020. (Ver página 35). Na prática, isso significa que os gastos totais do governo americano subiriam dos atuais US$ 3,8 trilhões para US$ 4,4 trilhões em 2020.

A grande polêmica, como sempre, ficou a cargo da mídia. "Corte de US$ 800 bilhões no Medicaid", trombeteava uma manchete na CNN. [O Medicaid é um programa financiado conjuntamente por estados e pelo governo federal, que reembolsa hospitais e médicos que fornecem tratamento a pessoas que não podem financiar suas próprias despesas médicas].

Só que não há absolutamente nenhum corte. Os gastos com o Medicaid irão aumentar 19% de 2016 a 2020, subindo de US$ 368 bilhões para US$ 439 bilhões. (Ver página 35). O que a mídia chama de "corte de gastos" nada mais é do que um aumento de gastos menor que o anteriormente previsto. Anteriormente, a proposta previa um aumento de 23% no Medicaid de 2016 a 2020. Agora, "apenas" 19%.

Por outro lado, a proposta inicial previa um aumento de 9,4% nos gastos militares. Com a nova proposta, os aumentos serão de 14,5%.

Tal proposta orçamentária -- e este é o seu aspecto mais significativo -- tem zero chance de ser aprovada em Washington. Tão logo os detalhes acima surgiram, a proposta foi pronta e impiedosamente atacada por toda uma rede de comentaristas, think tanks e políticos. E foi atacada não porque não fazia nada para abordar o problema da crescente e já explosiva dívida americana, mas sim por promover uma "extrema austeridade". O fato de os gastos com o Medicaid estarem crescendo menos que o esperado foi considerado "radical". O prefeito de Nova York, o democrata Bill de Blasio, afirmou que tais "cortes" irão literalmente matar crianças.

Já entre os neoconservadores, a gritaria foi que Trump ainda não estava gastando o bastante com guerras.

Consequentemente, tanto os republicanos na Câmara quanto no Senado deixaram claro que não estão interessados na proposta de Trump de criar uma "Nova Fundação para a Grandeza Americana" (que é como foi batizada sua proposta orçamentária).

Apesar das óbvias falhas na proposta orçamentária de Trump, é difícil não simpatizar com seu Diretor de Gestão Orçamentária, Mick Mulvaney. Ao defender os "cortes" propostos, ele disse ao Congresso:

Este é um documento moral, e eis o seu lado moral: se eu pego dinheiro de você com a intenção de jamais devolvê-lo, isso não é dívida; isso é roubo. Já se eu pego dinheiro de você e mostro como irei pagá-lo de volta, isso sim é dívida.

Isso faz sentido no mundo real, mas não para um governo que, já há um bom tempo, não tem de se preocupar em pagar suas dívidas. Ao controlarem a moeda que é a moeda internacional de troca e a reserva mundial de valor, e ao criarem vários programas e gastos que não estão contabilizados -- como, por exemplo, todos os gastos futuros com a Seguridade Social [algo idêntico ocorre no Brasil] --, os políticos americanos já mostraram dominar a arte de "empurrar tudo com a barriga".

Obviamente, isso não tem como durar para sempre. Em qualquer arranjo sensato e sujeito às leis, perdulários são punidos. O resto do mundo sabe que os EUA jamais colocarão ordem em sua bagunça fiscal. Nenhum padrão sensato de contabilidade jamais permitiria que um governo mantivesse trilhões de dólares em promessas assistenciais fora de sua contabilidade oficial.

Estima-se que a dívida total do governo americano, quando se contabilizam todos os gastos futuros com a Seguridade Social para os quais não há receitas previstas, seja de incríveis US$ 200 trilhões.

Se pensarmos nestes números racionalmente, os credores já deveriam ter tirado o governo americano de sua lista completamente. Ou, no mínimo, já deveriam estar pedindo juros de países de terceiro mundo. Apenas um corte de gastos profundo e totalmente sem precedentes -- incluindo vários itens da Seguridade Social -- em conjunto com um maciço programa de vendas de ativos federais poderia trazer algum alívio. Mas o Congresso não fará nada disso.

Já passamos, há muito, de qualquer viabilidade das soluções políticas.

É exatamente por isso que, como já repetidas vezes observado, a coisa mais presciente dita por Trump em sua campanha eleitoral foi a sugestão de que os EUA iriam acabar dando o calote em sua dívida. Sim, os EUA irão dar o calote, como já foi feito antes, em quatro ocasiões (quando as dívidas foram monetizadas, suspensas ou simplesmente rechaçadas). A única questão é quando e como.

Porém, antes de chegaram a este ponto extremo (calote sobre os títulos da dívida), haverá calotes sobre aqueles grupos que têm menos poder político (aposentados, pensionistas, dependentes de assistencialismo). Esses terão cortes em seus proventos. E, ainda disso ainda haverá cortes na saúde, na educação e em vários outros repasses. A redução no aumento dos gastos do Medicaid já é um primeiro passo desta irreversível tendência.

Bitcoin

Tudo isso talvez esteja exercendo um papel proeminente na crescente valorização do Bitcoin e de outras cripto-moedas. Somente o Bitcoin já se apreciou 128% apenas neste ano de 2017. Terminou 2016 cotado a US$ 967 e hoje já vale mais de US$ 2.200.

Moedas alternativas, afinal de contas, têm as mesmas vantagens do ouro e de outras moedas não-fiduciárias: são livres de manipulações governamentais e livres da intervenção de governos e bancos centrais cada vez mais insanos.

Com efeito, nos últimos anos, já se tornou um padrão comportamental ver as pessoas correrem para o Bitcoin sempre que há uma crise em alguma moeda.

Por exemplo, quando o governo da Índia aboliu o uso das cédulas de maior valor nominal, a demanda por cripto-moedas explodiu naquele país. Na Grécia, no auge da crise, o Bitcoin serviu de refúgio para o povo grego, impossibilitado de transferir dinheiro ao exterior e refém de um possível confisco. Similarmente, à medida que o país foi entrando em hiperinflação, o apelo do Bitcoin aumentou sensivelmente na Venezuela.

É também possível que as taxas de juros negativas impostas pelo Banco Central do Japão tenham tido um papel fundamental em fazer com que o uso do Bitcoin naquele país tenha se tornado tão comum, que o país agora aceita a cripto-moeda como forma de pagamento legal.

Embora seja difícil imaginar quanto deste extraordinário aumento no valor do Bitcoin é resultado de fundamentos econômicos -- e quanto é resultado de pura especulação --, o fato é que vivemos hoje em um mundo com governos afundados em dívidas. Ainda na semana passada, a Moody's rebaixou a nota dos títulos da dívida da China pela primeira vez em décadas, pois a dívida do governo está crescendo aceleradamente e sem muito aparente controle.

Dadas todas essas realidades, e a óbvia falta de coragem da parte dos políticos para abordar todos esses problemas fiscais e impopulares, é fácil entender por que as cripto-moedas estão se tornando cada vez mais atraentes.

Talvez já tenhamos passado do ponto em que as soluções políticas ainda eram viáveis. Mas ainda não passamos do ponto das soluções de mercado.

 

Sobre o autor

Tho Bishop

É consultor político da Bishop Associates, em Panama City Beach, Flórida, e diretor das mídias sociais do Mises Institute americano.

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