Economia
Restaurante badalado adota práticas marxistas em suas relações - vai à falência e gera desemprego
Mais um caso em que um devaneio utópico é sobrepujado pelo mundo real
Restaurante badalado adota práticas marxistas em suas relações - vai à falência e gera desemprego
Mais um caso em que um devaneio utópico é sobrepujado pelo mundo real
A notícia rodou a internet no início de dezembro. Por isso, vale a pena citá-la por extenso.
Um restaurante vegano "marxista", "coletivista" e "gerido pelos seus trabalhadores", chamado The Garden Diner and Café, na cidade americana de Grand Rapids, Michigan, fechou essa semana depois de inúmeras reclamações de clientes dizendo que não aguentavam mais os bizarros horários de funcionamento, os preços altíssimos e as demoradas filas.
A estrutura operacional do restaurante -- que não admitia chefes ou gerentes, que prometia um "salário digno" para todos os empregados, e que estimulava um sindicato forte e poderoso -- não permitiu ao restaurante ter lucros o suficiente para continuar operando. [...]
Adornado por fotos de Che Guevara, Karl Marx e Mao Tsé-Tung, os clientes reclamavam que tinham de esperar uma média de 40 minutos por um sanduíche -- e isso quando eles ao menos conseguiam encontrar o restaurante aberto. Dado que eram os empregados, em suas decisões grupais, que definiam o horário de funcionamento do estabelecimento, o restaurante abria e fechava em horários aleatórios, deixando os clientes totalmente confusos.[...]
Os consumidores também reclamavam que a política do restaurante de "salários iguais, proibido gorjeta" impossibilitava premiar um bom atendimento, o que tornava todo o serviço ainda pior.[...]
Perguntado sobre qual será seu próximo empreendimento, o dono do agora falido restaurante informou que iria "tirar férias".
Um hábito bem burguês.
Sendo professora de economia, frequentemente leciono os cursos de introdução, oferecendo aos universitários sua primeira exposição ao assunto. Ainda que consigamos cobrir todos os assuntos básicos -- oferta e demanda, elasticidade (sensibilidade a alterações de preços), tributação, comércio e externalidades --, jamais tive a ilusão de que a maioria deles irá se lembrar de boa parte desse material daqui a um ano. Muito menos daqui a vários anos.
No entanto, há um fator do qual eu gostaria que meus alunos se lembrassem para sempre: a função dos preços e da propriedade privada. Em específico, gostaria que eles para sempre se lembrassem de quão vitais são esses mecanismos para uma sociedade livre e próspera.
Sempre me esforço para deixar claro para eles a extrema importância desse assunto. Com efeito, ainda antes de começarmos a discutir a função dos preços, digo a eles que ficarei exultante caso o sistema de preços seja a única coisa da qual eles irão se lembrar daquelas aulas daqui a quinze anos.
Preços e propriedade privada são fundamentalmente importantes. O não entendimento de como essas forças atuam irá gerar resultados desastrosos.
O que nos leva ao exemplo prático do restaurante supracitado.
Desrespeito às leis básicas da economia
Quando você tenta revogar princípios básicos da economia, as chances de você se dar mal são plenas. O restaurante The Garden Diner and Café possuía um menu atrativo para a comunidade vegana e sempre houve demanda por seus produtos. Tanto é que o restaurante conseguiu permanecer operante por cinco anos.
Além de sua comida, o modelo operacional do estabelecimento também recebeu muita atenção. Ao passo que alguns educadamente diziam que o modelo era "progressista", outros diziam jocosamente que se tratava de um modelo "vegano-marxista".
Ainda em 2011, o fundador do restaurante, Ryan Cappelletti, explicou a um jornal local por que ele havia optado por abrir um empreendimento cujo modelo operacional era de inspiração marxista:
"Por causa da atual situação da economia, há pessoas trabalhando jornadas de 12 a 15 horas por dia. Enquanto há garçons faturando de US$ 200 a US$ 300 por noite só com gorjetas, os cozinheiros ganham apenas US$ 10 por hora, e o proprietário fica com tudo aquilo que ele conseguir. Já aqui no nosso restaurante vamos ter salários iguais e poderes iguais para todos. Todo mundo trabalhando coletivamente."
Na prática, o restaurante não tinha um proprietário. Não havia um chefe. Todas as decisões eram tomadas coletivamente pelos funcionários. Eram eles que decidiam quando o restaurante abria e quando fechava, o que levou a horários de funcionamento totalmente irregulares. Clientes podiam chegar ao meio-dia e descobrir que o estabelecimento estava fechado. Todos os trabalhadores recebiam um "salário digno", cujo valor era absolutamente o mesmo para todos, independentemente de suas funções. Isso significava que os funcionários relativamente menos qualificados ganhavam exatamente o mesmo que os mais qualificados. Adicionalmente, os clientes eram proibidos de dar gorjeta -- o que significa que não havia como aqueles trabalhadores mais dedicados serem recompensados pelo seu melhor serviço.
Não surpreendentemente, tal modelo fez com que o restaurante vivenciasse custos crescentes e receitas em queda. Os clientes -- majoritariamente progressistas que apoiavam aquele modelo -- reclamavam com frequência não só dos horários irregulares de funcionamento, mas também da fila de espera, que chegava a 40 minutos para um simples sanduíche.
Para dar um "charme" ao ambiente e estimular o espírito "coletivista" do empreendimento, Cappelletti pintou as paredes com fotos de Che Guevara, Mao Tsé-Tung e outros famosos líderes comunistas "fazendo tarefas culinárias".
Agora, colocar em um restaurante a foto de um homem (Tsé-Tung) responsável por gerar uma inanição que matou dezenas de milhões de pessoas representa ou o extremo do humor negro ou uma completa ignorância histórica e econômica. Considerando-se o modelo operacional do estabelecimento, concluo que é a última.
Tudo era de todos e nada era de ninguém
Neste modelo operacional, todos os meios de produção do restaurante eram, ao mesmo tempo, dos funcionários e de ninguém. Todos queriam usufruir das benesses trazidas pela propriedade dos meios de produção, mas ninguém queria se responsabilizar por eles. Todos queriam se aproveitar dos ativos, mas ninguém queria arcar com os passivos.
Com isso, os criadores desse modelo (bem como os líderes comunistas pintados na parede) demonstravam não entender o básico sobre economia: propriedade privada, preços (e salários) livres, e um sistema de lucros e prejuízos são fundamentais para fazer com que produtores e consumidores interajam harmoniosamente, com os produtores fornecendo aos consumidores aquilo que eles querem, aumentando a riqueza e a prosperidade de todos.
Em primeiro lugar, vejamos a importância suprema da propriedade privada. Ter uma propriedade privada significa que o indivíduo possui um direito exclusivo sobre o uso de um ativo particular. Ele não tem de se preocupar com outra pessoa usando seus ativos sem sua permissão. Como resultado, o proprietário arca com todos os custos e benefícios de sua propriedade. Se, por exemplo, ele cuidar bem de seu negócio e fornecer um bem ou serviço que os consumidores voluntariamente aprovem, ele irá colher vários benefícios. Para começar, seus clientes irão recompensá-lo com sua presença constante, o que provavelmente fará com que ele tenha um lucro. Em segundo lugar, caso ele, após algum tempo, decida vender o empreendimento para outro empreendedor, ele poderá fazê-lo por um bom preço, sendo assim recompensado por sua diligência em ter construído e mantido um empreendimento lucrativo.
Se, por outro lado, esse empreendedor não mantiver um controle efetivo sobre sua propriedade privada e seus meios de produção, permitindo que todos sejam seus "proprietários", inevitavelmente seus custos irão disparar. Adicionalmente, se ele contratar mão-de-obra ruim, desinteressada ou desestimulada, e se ele fornecer produtos ou serviços de baixa qualidade (uma consequência inevitável das escolhas acima), ele sofrerá os efeitos negativos de suas ações. Ele provavelmente arcará com seguidos prejuízos e terá de fechar seu empreendimento. Caso opte por vendê-lo, conseguirá um preço muito baixo.
Ter algo que seja de "propriedade coletiva" -- mesmo que esses "proprietários" sejam poucos -- é um arranjo incapaz de fornecer os mesmos incentivos, pois ninguém possui os direitos exclusivos de propriedade dos meios de produção. Os custos serão altos e os serviços serão inevitavelmente ruins. Como consequência, os consumidores demonstrarão sua insatisfação por meio da redução das compras desses bens e serviços, o que se traduzirá em redução de lucros ou até mesmo aumento dos prejuízos.
O proprietário genuíno de um empreendimento está com o seu capital em jogo; sendo assim, ele sabe o que lhe ocorrerá caso venha a falir. Já quando este mesmo empreendimento é de "propriedade coletiva" -- nos moldes do restaurante vegano --, esses "proprietários" têm muito pouco a perder caso o empreendimento vá à bancarrota. Não é o capital deles que está em jogo. Eles nada gastaram para se tornar os "proprietários" dos ativos do restaurante. Eles, em suma, não têm os mesmos incentivos de um genuíno proprietário.
Outro fenômeno essencial a ser compreendido é o papel dos preços, nos quais se incluem os salários. O salário é o preço da mão-de-obra. Um preço nada mais é que um sinal embrulhado dentro de um incentivo. Eis um exemplo.
Suponha que o preço de um sanduíche aumente 50%. Essa alteração no preço envia um sinal tanto para os produtores quanto para os consumidores: os sanduíches agora estão mais valiosos. O aumento do preço fornece um incentivo para que os consumidores diminuam seu consumo. Aqueles que não são fanáticos por sanduíches (ou seja, aqueles que não estão dispostos a pagar esse preço maior por um sanduíche) irão desistir de comprá-los, fazendo assim com que haja mais sanduíches disponíveis para aquelas pessoas que realmente não abrem mão de consumi-los, mesmo a um preço maior.
Simultaneamente, o aumento do preço oferece um incentivo para que produtores façam ainda mais sanduíches. Eles terão mais lucros caso vendam mais sanduíches a preços maiores. Como resultado, mais sanduíches serão produzidos.
O aumento do número de sanduíches produzidos irá, por sua vez, empurrar novamente para baixo os preços, permitindo assim que mais consumidores voltem a comprar sanduíches. Sim, o sistema de preços é realmente incrível.
Quando esse sistema de preços livres é artificialmente adulterado, os resultados serão desastrosos. Controle dos preços dos alugueis e imposição de um salário mínimo são exemplos clássicos de preços controlados artificialmente. Controle de alugueis gera escassez de moradias disponíveis e criam um mercado negro de imóveis. Imposição de salário mínimo gera desemprego entre os trabalhadores menos qualificados.
O restaurante vegano ignorou amplamente esses sinais, acumulando aumento de custos, queda de receitas, prejuízos crescentes e mantendo salários não condizentes com a produtividade de seus empregados e a qualidade de seus serviços. No final, aprendeu que, cedo ou tarde, as forças de mercado sempre se impõem.
Essa é a essência dos sinais emitidos pelos preços e pelo sistema de lucros e prejuízos: de um lado, eles lhe recompensam caso você saiba produzir algo que gere valor e satisfação para seus clientes; de outro, eles são impiedosos quando você fracassa.
Conclusão
Embora meus alunos possam não se lembrar de muita coisa ensinada em sala de aula, sinceramente espero que guardem pelo menos essa lição: caso não virem economistas, ao menos não sejam tolos o bastante para abrir um "restaurante coletivista" com os rostos de tiranos homicidas pintados nas paredes.
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