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Caranguejos e esquerdistas - ambos têm a mesma mentalidade invejosa

Para coletivistas, os únicos direitos que o indivíduo possui são aqueles que a 'sociedade' decreta

01/11/2016

Caranguejos e esquerdistas - ambos têm a mesma mentalidade invejosa

Para coletivistas, os únicos direitos que o indivíduo possui são aqueles que a 'sociedade' decreta

Há algo de engraçado nos caranguejos: quando um único caranguejo está sozinho dentro de um balde, ele fará de tudo para tentar escalar e escapar. E normalmente conseguirá.

Já se você colocar vários caranguejos dentro do mesmo balde, nenhum conseguirá escapar, pois todos os outros caranguejos sempre irão puxar para baixo aquele que eventualmente estiver conseguindo fazer sua escalada rumo à liberdade. No final, em decorrência disso, todos morrem.

Sociólogos utilizam o termo "mentalidade de caranguejo" como uma referência metafórica a um grupo de pessoas que, ao ver que um indivíduo está tentando melhorar sua vida, tenta impedir que isso ocorra, fazendo de tudo para puxá-lo para baixo, mantê-lo inerte e compartilhando o mesmo destino coletivo do grupo.

A mentalidade do caranguejo segue a máxima do "se eu não consigo, você também não pode conseguir". Não tenho a mínima ideia do motivo de os caranguejos fazerem isso; mas sei por que seres humanos agem assim: inveja e ciúmes.

A mentalidade de caranguejo pode ser observada nos humanos sempre que membros de um grupo tentam negar, diminuir ou mesmo acabar com os feitos de qualquer outro membro que consiga ser mais bem-sucedido que todos os outros. A motivação da mentalidade de caranguejo é a inveja, o rancor e o ódio em relação a quem está sendo bem-sucedido em meio a todos, e o objetivo é acabar com o progresso dessa pessoa.

A síndrome dos caranguejos em um balde é a atitude negativa que algumas pessoas têm em relação ao sucesso das outras. Quantos de nós já tentamos abrir um negócio, melhorar a própria educação, aprender um novo idioma, tentar um novo emprego, ou mesmo começar uma dieta ou um programa de exercícios físicos, e fomos prontamente dissuadidos por outros à nossa volta dizendo que não valia o esforço e que estaríamos perdendo tempo?

Obviamente, a mentalidade de caranguejo não está limitada a indivíduos. Ela é facilmente observada no comportamento de grupos, comunidades e até mesmo nações inteiras. E, embora a mentalidade de caranguejo seja universal, em algumas sociedades ela já se tornou uma atividade genuinamente nacional, coordenada e implantada sob o disfarce de políticas públicas que almejam a redistribuição de riqueza, a igualdade de renda, a tributação progressiva, as reservas de mercado, as cotas raciais, sociais e sexuais em empresas e universidades, e vários outros tipos inimagináveis de igualitarismo.

O objetivo final é sempre puxar para baixo aqueles que estão conseguindo algum progresso.

A mentalidade de caranguejo ao redor do mundo

Esta é, obviamente, a política oficial de regimes comunistas, nos quais as ideologias coletivistas apelam ao mais baixo sentimento de inveja dos indivíduos, excitando a cobiça destes pela propriedade e pela renda alheia.

Na China, em 1984, quando o líder comunista Deng Xiaoping introduziu reformas de mercado para reverter o estrago de décadas de comunismo sangrento, seu objetivo era conter o avanço dessa mentalidade de caranguejo. Isso o levou a pronunciar sua famosa frase: "enriquecer é glorioso". Por outro lado, em Cuba, o general Raul Castro disse que não será permitido que eventuais atividades econômicas "não-estatais" levem a uma "concentração de riqueza".

No Leste Europeu, após décadas de experiência comunistas, as atuais sociedades pós-comunistas ainda hoje sofrem de severos casos de síndrome da mentalidade do caranguejo sempre que tentam estimular o empreendedorismo e elevar o progresso econômico. Formas mais sutis e não-oficiais de mentalidade de caranguejo podem ser observadas nas culturas latinas (inclusive européias), onde há um certo estigma em relação a empreendedores e a pessoas bem-sucedidas em geral.

Historicamente, na Europa -- e, por legado cultural, na América Latina --, a boa vida almejada pela maioria era uma vida de lazer, uma vida livre da necessidade de trabalhar, simbolizada pelo aristocrata que não sujava suas mãos. Na América Latina, isso se traduziu em políticas governamentais que, ao priorizarem o igualitarismo e criminalizarem o empreendedorismo e o sucesso, não criaram condições propícias para que os indivíduos fossem livres para criar, empreender, comercializar, prosperar e, com isso, escapar do seu balde da pobreza.

Sociedades que condenam o individualismo, o empreendedorismo e a busca pelo lucro, e que fomentam uma cultura de igualitarismo, vitimismo e inveja, enfatizando a necessidade de todos serem cuidados dentro de um mesmo balde comunitário cheio de caranguejos, estão condenadas ao declínio e à irrelevância. Os defensores desse arranjo parecem não entender que, quando há políticos e burocratas cuidando de nós, são eles também que estão decidindo por nós. A liberdade e a responsabilidade individual são abolidas.

Conclusão

Ideologias coletivistas, representadas pela mentalidade de caranguejo, se baseiam na ideia de que a vida de um indivíduo não pertence ao indivíduo, mas sim à sociedade na qual ele está inserido.  O indivíduo não é reconhecido como um ser que possui direitos inalienáveis -- como o de não ter sua propriedade confiscada, sua liberdade tolhida e sua vida retirada --, e que pode conquistar o sucesso, mas sim como um ser amorfo que deve abrir mão de seus valores e interesses em nome do "bem maior" da sociedade.

O ideal coletivista identifica o coletivo como sendo a unidade central da preocupação moral.  Os únicos direitos que um indivíduo possui são aqueles que a sociedade autorize que ele tenha.

Por isso, escapar do balde e abolir a mentalidade de caranguejo só será possível quando as pessoas adotarem atitudes sociais cujo foco seja a melhora da própria vida, e não a inveja em relação às conquistas dos outros. Para escapar do balde é necessário valorizar o sucesso, e não puni-lo. É de suma importância reconhecer que a acumulação de capital (ou seja, a riqueza não consumida) daqueles que escaparam do balde da pobreza antes de nós representam uma capacidade de investimento que, quando colocada em prática, impulsionam o crescimento econômico de uma nação.

Eis a receita: buscar inspiração no sucesso daqueles que escaparam do balde, e incentivar aqueles que estão tentando escalar as laterais do balde. Talvez, se todos nós escalarmos juntos, podemos acabar virando o balde e nos libertando a todos. 


Sobre o autor

José Azel

É acadêmico sênior do Instituto para Estudos Cubanos e Cubano-Americanos, da Universidade de Miami. Azel foi exilado político de Cuba aos 13 anos de idade, em 1961

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