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Economia

Feriados e fins de semana não foram uma criação dos sindicatos - seria economicamente impossível

Ainda há pessoas que acreditam que no século XVIII havia o mesmo tanto de riqueza que há hoje

02/09/2023

Feriados e fins de semana não foram uma criação dos sindicatos - seria economicamente impossível

Ainda há pessoas que acreditam que no século XVIII havia o mesmo tanto de riqueza que há hoje

Meu pai era motorista de empilhadeira.  E foi membro de um sindicato por 15 anos.  Cresci em uma família de proletários.

E posso dizer: não dá para acreditar na propaganda sindical nem mesmo por um segundo.

"O fim de semana: criado para você pelos sindicatos", diz o adesivo de pára-choque.

Entendo.  Quer dizer então que todos aqueles países do Terceiro Mundo, cuja população ainda tem de trabalhar mais horas por semana, poderiam imediatamente ascender da pobreza e usufruir mais horas de lazer caso simplesmente criassem mais sindicatos? 

Tudo o que é necessário para escapar da pobreza e ter mais horas de lazer é ter mais sindicatos?

(Aliás, se é assim, por que essas mesmas pessoas defendem mais ajudas internacionais?)

Eis um fato econômico inegável: enquanto uma sociedade ainda não houver enriquecido, nem mesmo todos os sindicatos do mundo conseguirão fazer com que absolutamente todas as pessoas possam se dar ao luxo de tirar uma folga de dois dias por semana.  Tampouco poderiam os sindicatos criar feriados.

Apenas pense nas economias primitivas de 300 anos atrás.  Você consegue imaginar, em meio a toda aquela pobreza, sindicatos agitando para reduzir a jornada de trabalho semanal?  Sindicatos pedindo mais feriados e dois dias de folga por semana? 

Qualquer um que fizesse isso seria imediatamente visto como um lunático desconectado da realidade.

E o motivo é simples: sociedades pobres possuem poucos bens de capital.  Ou seja, não há uma abundância de ferramentas tecnológicas, de maquinários de alta produção, e de meios de transporte rápidos e eficientes.  Com poucos bens de capital, a maioria dos bens e serviços tem de ser produzida e distribuída manualmente

Sendo todo o trabalho necessariamente manual, será necessário que toda a mão-de-obra disponível trabalhe o máximo de horas humanamente possível para fazer com que a subsistência da população seja minimamente viável.

Uma simples folga de um dia poderia fazer com que não houvesse alimentos disponíveis para todos.

É por isso que, no passado, as pessoas tinham de trabalhar em longas jornadas e sob condições terríveis.  E é por isso que, em vários países pobres, a situação ainda é esta. 

Embora seja mais fácil e popular culpar homens engravatados e pançudos, que fumam charutos e utilizam monóculos, e que têm prazer em oprimir a classe trabalhadora, o fato é que o problema está na escassez de bens de capital, que impede o aumento da produtividade dos trabalhadores. 

O que emancipou as pessoas dessas condições desumanas foi a acumulação de capital.  Com os trabalhadores se tornando substantivamente mais produtivos do que antes, graças à assistência de máquinas, ferramentas e meios de transporte, a produção física foi rapidamente multiplicada em quantidade e em qualidade.

Essa maior abundância de bens e serviços gerou uma pressão baixista nos preços em relação aos salários, permitindo que estes crescessem mais do que aqueles.  Consequentemente, o padrão de vida das pessoas aumentou.

Foi então, e só então, que as pessoas finalmente puderam se dar ao luxo de optar por mais lazer e por trabalhar sob condições mais agradáveis e humanas.  Foi só então que as pessoas puderam optar por tudo isso em detrimento de trabalhar exaustivamente apenas para sobreviver.

O que fez com que as jornadas de trabalho antigamente fossem longas foi o mesmo fenômeno que obrigou agricultores a colocar seus filhos para trabalhar: a produtividade era baixa, e as pessoas simplesmente tinham de trabalhar 70-80 horas por semana se quisessem produzir o suficiente para comer.  Isso, obviamente, não pode ser atribuído a "patrões exploradores", a menos que consideremos que pais são exploradores.  Tal fenômeno se devia ao fato de a economia ainda ser subdesenvolvida.

[N. do E.: como explicado neste artigo:

Ainda há pessoas que realmente acreditam que no século XVIII havia o mesmo tanto de riqueza que há hoje, de modo que, se os salários eram baixos (comparado aos padrões de hoje), se a segurança no trabalho era precária (de novo, comparado aos padrões de hoje) e se mulheres e crianças trabalhavam, isso só ocorria porque os malditos e gananciosos capitalistas se recusavam a prover segurança e salários altos, e obrigavam mulheres e crianças a trabalhar.

Tais pessoas realmente acreditam que bastava apenas um decreto governamental para que um trabalhador em 1750 gozasse dos mesmos confortos, segurança no trabalho e níveis salariais vigentes hoje.  É inacreditável.  Para quem está acostumado a todas as comodidades e confortos do século XXI, é claro que as condições de vida do século XVIII pareciam "sub-humanas".

Falar que a qualidade de vida era ruim nos séculos XVIII e XIX tendo por base o século XXI, e daí tirar conclusões, é vigarice intelectual.  Tal postura ignora toda a acumulação de capital que ocorreu ao logo dos séculos seguintes.  Era simplesmente impossível ter nos séculos XVIII e XIX a mesma qualidade de vida que usufruímos hoje no século XXI, a mesma segurança no trabalho, e a mesma renda.  Naquela época, não havia a mesma acumulação de capital que temos hoje.  A produtividade era menor, os investimentos eram menores, a quantidade e a variedade de bens e serviços eram menores.  Era impossível ter naquela época a mesma quantidade de comodidades que temos hoje.

Trabalhar muito e receber pouco não era uma decisão de capitalistas maldosos.  Era a necessidade da época.  Quem realmente acredita que era possível trabalhar 6 horas por dia nos séculos XVIII e XIX e ainda assim viver bem não entende absolutamente nada de economia.  Tal raciocínio parte do princípio de que vivemos no Jardim do Éden, que a riqueza já está dada, e que tudo é uma mera questão de redistribuição.]

À medida que a produtividade e, consequentemente, os salários foram crescendo, os trabalhadores foram se tornando aptos a viver à custa de menos horas de trabalho, o que deu a eles um incentivo para barganhar -- de maneira bem-sucedida, como podemos testemunhar -- jornadas semanais menores.

Isso não é algo que meras exigências e imposições sindicais poderiam conseguir.  (Mesmo porque, até onde se sabe, sindicatos não criam bens de capital).

Conclusão

Eis uma descoberta interessante: se você perguntar às pessoas que trabalham em sweatshops (estabelecimentos, majoritariamente chineses, com condições precárias e em que os funcionários têm longa jornada de trabalho e baixo salário) se elas prefeririam ter condições mais agradáveis (ou menos horas de trabalho) em troca de salários menores, elas preponderantemente dirão 'não'.

O economista Benjamin Powell, Texas Tech University, de fato se deu ao trabalho de fazer essa pergunta.  E nada menos que 90% dessas pessoas disseram que preferiam o dinheiro em detrimento das condições de trabalho e do lazer.

Nos EUA, os trabalhadores já usufruíam a jornada diária de 8 horas de trabalho muito antes de seus congêneres europeus, fortemente sindicalizados.  E já ganhavam salários muito maiores.  Nos EUA, o sindicalismo do setor privado nunca contou com mais do que um terço da força de trabalho, e isso em seu ápice.

Portanto, seja lá o que os professores de seus filhos estejam ensinando a eles, não deixe que essa doutrinação passe impune.

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Leia também:

O mercado, e não os sindicatos, nos propiciou o lazer e o descanso 

O livre mercado e a segurança no trabalho

Agradeçamos ao capitalismo pelo fim de semana e pela redução da jornada de trabalho 

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Este artigo foi publicado originalmente em 7 de junho de 2016

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Nota: as visões expressas no artigo não são necessariamente aquelas do Instituto Mises Brasil.

Sobre o autor

Thomas Woods

É um membro sênior do Mises Institute, especialista em história americana. é o autor de nove livros, incluindo os bestsellersda lista do New York Times.

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