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Economia

O único arranjo econômico que pune o egoísmo e a ganância, e estimula a preocupação com os outros

26/07/2016

O único arranjo econômico que pune o egoísmo e a ganância, e estimula a preocupação com os outros

O sistema econômico adotado por uma população será um reflexo dos interesses próprios dos seres humanos que compõem esta população.

Porém, somente um capitalismo de livre mercado -- em que o governo não protege seus empresários favoritos com subsídios e tarifas protecionistas, e não impõe barreiras à entrada de concorrentes em qualquer setor do mercado -- é capaz de criar um grupo de pessoas, conhecidos como empreendedores, que não têm escolha senão se preocupar com as necessidades e desejos dos outros

Estes outros são os seus consumidores.

São poucos os economistas, no entanto, que realmente se propõem a estudar o comportamento desses empreendedores, os reais líderes criativos dos negócios capitalistas.  Caso houvesse esse estudo aprofundado, os economistas iriam descobrir que os empreendedores, pela própria natureza daquilo que fazem, têm necessariamente de evitar a ganância e o egoísmo.  Mais ainda: eles têm necessariamente de se preocupar com a satisfação dos outros.

Primeiro e acima de tudo, atender aos desejos e demandas de terceiros é o exato oposto da ganância e do egoísmo.

Segundo, a ganância, na esfera econômica, é normalmente expressa como sendo o "imediato consumo de bens e serviços".  Eu pego para mim qualquer coisa que conseguir, sem qualquer consideração para com os outros.  No entanto, empreendedores têm de poupar para começar seus negócios.  E a poupança é definida como uma abstenção do consumo com o intuito de alcançar objetivos de longo prazo.  Frequentemente, levam-se meses, e às vezes vários anos, para fazer com que um novo produto ou serviço seja produzido e finalmente colocado à venda no mercado.

Isso não é exatamente uma demonstração de egoísmo e ganância.

Adicionalmente, empreendedores têm de trabalhar em conjunto e colaborar com terceiros, construindo equipes com o intuito de alcançar seus objetivos.  Ao criar e colocar à venda seus bens e serviços, eles têm -- mais uma vez -- de se concentrar não em seus próprios desejos e necessidades, mas sim nos desejos e necessidades de terceiros.  Isso, também, é o exato oposto de egoísmo e ganância.

Portanto, o que empreendedores fazem quando buscam o lucro é algo muito maior do que demonstrar interesse próprio.  Ao contrário, o lucro é uma medida de quão bons foram os serviços prestados por uma empresa aos seus consumidores.  Sob um capitalismo de livre mercado, uma empresa irá ganhar dinheiro somente se os consumidores voluntariamente abrirem mão de seu dinheiro em troca dos produtos e serviços ofertados por essa empresa.  

É somente por meio da melhoria contínua de seus bens e serviços que uma empresa pode crescer e prosperar.  E isso irá ocorrer somente se ela se dedicar o bastante para agradar a terceiros.  Isso, de novo, é o exato oposto de ganância e egoísmo.

Se um empreendedor colocar seus interesses próprios acima de tudo, e deixar os interesses de seus consumidores em segundo lugar, seu empreendimento irá fracassar.  E, com o tempo, um empreendedor mais altruísta, mais preocupado em agradar terceiros fornecendo-lhes bens e serviços de qualidade, irá tomar o seu lugar.

Portanto, em sua essência, o capitalismo de livre mercado é uma competição para ver quem fornece mais e melhor; quem mais se preocupa em agradar aos outros.  Sim, o interesse próprio se faz presente.  Mas a genialidade do sistema capitalista, e que existe apenas no sistema capitalista, é que ele é o único arranjo capaz de transformar o interesse próprio em altruísmo.  Empreendedores só conseguem prosperar se satisfizerem os desejos e necessidades de terceiros.

Por isso,

Um dos mais belos aspectos de uma economia de mercado é que ela é capaz de domar as pessoas mais egoístas, ambiciosas e talentosas da sociedade, fazendo com que seja do interesse financeiro delas se preocuparem dia e noite com novas maneiras de agradar terceiros.  [...] No livre mercado, as pessoas utilizam o melhor de suas habilidades para servirem aos seus semelhantes e, com isso, moldarem seu próprio destino.

Esse é o milagre descrito na metáfora da mão invisível de Adam Smith. Mesmo que alguém seja egoísta, essa pessoa -- para alcançar seus objetivos -- terá inevitavelmente de beneficiar terceiros no mercado, fornecendo-lhes bens e serviços de qualidade, e esperando que estes, voluntariamente, consumam seus bens e serviços.  E para que elas consumam estes bens e serviços fornecidos pelo egoísta, estes têm de ser de qualidade.

Desta forma, o egoísmo é domado e direcionado para a cooperação com terceiros, fornecendo-lhes mais opções de consumo e beneficiando-lhes como resultado desta interação.   

Conclusão

Todos aqueles que já tiveram um negócio próprio, e fizeram grandes sacrifícios para isso, sabem bem o drama do primeiro dia: será que o mundo quer aquilo que tenho a oferecer?  Seja um imigrante abrindo um simples salão de beleza ou Steve Jobs vendendo um computador da Apple, o sucesso está longe de ser garantido.  Com efeito, a única coisa realmente garantida é o fracasso, o qual inevitavelmente ocorrerá caso você não saiba agradar aos outros.

Essas corajosas almas, os empreendedores que são a alma do capitalismo, e que nos fornecem infindáveis benefícios materiais, desde caixas eletrônicos a remédios que salvam vidas, deveriam ser venerados, e não malhados.

O altruísmo é a própria razão da existência do capitalismo.  E é por isso que o capitalismo permanece sendo a esperança da civilização.


Sobre o autor

George Gilder

É escritor, investidor, economista e entusiasta da tecnologia. é autor do livro Knowledge and Power: The Information Theory of Capitalism

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