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Economia

“Sem o estado, quem cuidará dos pobres?”

10/04/2016

“Sem o estado, quem cuidará dos pobres?”

Um leitor nos enviou a seguinte pergunta:

"Concordo que o estado é ineficiente, propenso à corrupção e ao desperdício.  Concordo também que ele gera vários privilégios para quem está dentro da máquina pública.  Mas vocês ao menos concordariam que, se não fosse o estado, os pobres seriam ainda mais pobres, certo?"

Outro leitor enviou um comentário no mesmo sentido da pergunta acima:

"Dizem que não se deve dar o peixe ao povo, que deve ensiná-lo a pescar. Mas, se lhe tiramos o barco, os anzóis, a vara de pescar, temos que começar a lhe dar o peixe.  Sem o Bolsa-Família, o que seria dos pobres?"

Outro leitor complementou:

"O problema é que o estado só é mínimo na vida dos pobres."

Na mesma linha, outro leitor concluiu:

"Se não fosse o estado, o que seria das pessoas que vivem na extrema pobreza e com pouca expectativa de vida?"

E outro, finalmente, arrematou (provavelmente parodiando Thomas Hobbes):

"E como seria a vida dos pobres sem o estado? Inimaginável, sórdida, solitária, bestial e curta".

O que é interessante é que, por trás de todas as afirmações acima, há a ideia -- já dada como certa -- de que o estado é o solucionador (ou, pior das hipóteses, o remediador) da pobreza. 

Segundo os defensores do assistencialismo, o estado -- por mais defeitos que tenha -- é quem impede que os pobres sejam ainda mais pobres, que a miséria se torne mais profunda, e que a expectativa de vida decline ainda mais.

Alguns -- como é o caso do primeiro leitor -- até conseguem ver o estado como uma máquina ineficiente que representa um grande entrave ao desenvolvimento.  No entanto, e curiosamente, quando se trata de amenizar e até mesmo acabar com a pobreza -- algo infinitamente mais complicado do que simplesmente atravancar o progresso --, aquela máquina ineficiente e corrupta miraculosamente se transforma na solução suprema e inquestionável.

Como o estado é capaz de operar essa transubstanciação?

As perguntas que devem ser feitas

Eis uma pergunta raramente feita: por que as pessoas adoram debater sobre assistencialismo estatal (contra ou a favor), mas quase ninguém fala sobre as políticas governamentais que empurraram as pessoas para a pobreza?

Eis outra pergunta raramente feita: por que o estado nunca é visto como o causador da pobreza que ele próprio se propõe remediar?

Segundo os defensores do assistencialismo, o estado socorre os pobres, transfere-lhes poder de compra e lhes garante condições mínimas de vida. 

Beleza.  Mas isso nos leva às seguintes perguntas:

1) Quem é que detém o monopólio da moeda e, consequentemente, adota políticas que destroem o poder de compra dessa moeda, perpetuando a pobreza dos mais pobres?

2) Quem é que, ao estimular o setor bancário a expandir o crédito -- e, com isso, fazer com que a inflação de preços se mantenha continuamente alta --, intensifica a redução do poder de compra dos mais pobres?

3) Quem é que, ao incorrer em déficits orçamentários e com isso desvalorizar a moeda e a taxa de câmbio, não apenas aniquila o poder de compra dos mais pobres, como também os impede de utilizar seu já escasso poder de compra para adquirir produtos importados, o que melhoraria bastante seu padrão de vida e bem-estar?

4) Quem é que, além de desvalorizar a moeda, a taxa de câmbio e gerar inflação de preços, ainda impõe tarifas protecionistas para proteger o grande baronato industrial -- e, com isso, impedir duplamente que os mais pobres possam adquirir produtos baratos do exterior?

5) Quem é que, ao estimular a expansão do crédito imobiliário via bancos estatais, encarece artificialmente os preços das moradias e joga os pobres para barracões, favelas e outras áreas com poucas expectativas de vida?

6) Quem é que impede que os moradores de favelas obtenham títulos de propriedade, os quais poderiam ser utilizados como garantia para a obtenção de crédito, com o qual poderiam abrir pequenas empresas, fornecer empregos e, de forma geral, se integrar ao sistema produtivo?

7) Quem é que tributa absolutamente tudo o que é vendido na economia, e com isso abocanha grande parte da renda dos pobres?

8) Quem é que, por meio de agências reguladoras, carteliza o mercado interno, protege grandes empresários contra a concorrência externa e, com isso, impede que haja preços baixos e produtos de qualidade no mercado, prejudicando principalmente os mais pobres?

9) Quem é que cria encargos sociais e trabalhistas que encarecem artificialmente e mão-de-obra e, com isso, gera desemprego, estimula a informalidade e impede que os salários sejam maiores?

10) Quem é que confisca uma fatia do salário do trabalhador apenas para que, no futuro, quando este trabalhador estiver em situação ruim, ele receba essa fatia que lhe foi roubada de volta (e totalmente desvalorizada pela inflação)?

Após responder a todas as perguntas acima (dica: a resposta é a mesma para todas elas), você verá o quão "sensata" é essa ideia de que é o estado quem salva os mais pobres.

Após ter criado toda essa cornucópia de intervenções e com isso destruir o poder de compra dos mais pobres, o estado criou um esquema de assistencialismo para tentar mitigar os efeitos nefastos causados pelas intervenções acima descritas.

Em vez de simplesmente abolir todas as causas da perpetuação da pobreza, a entidade que criou os problemas quer apenas remediá-los com novas intervenções. E ainda consegue a simpatia dos incautos e ingênuos. E também das vítimas.


Sobre o autor

Leandro Roque

Leandro Roque é editor e tradutor do site do Instituto Ludwig von Mises Brasil.

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