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Economia

A emancipação da mulher, a pobreza e o analfabetismo - o que há em comum?

08/03/2016

A emancipação da mulher, a pobreza e o analfabetismo - o que há em comum?

Nas últimas décadas, as mulheres conquistaram o mercado de trabalho, ganharam mais liberdade para usar a roupa que preferem, conseguiram criminalizar a violência doméstica e convencer o marido a participar da troca de fraldas.

Por que só agora essas questões entraram no debate público?

Herbert Spencer, sociólogo inglês do século XIX, pode ajudar. Spencer dizia o seguinte: "O grau de preocupação pública sobre um problema ou fenômeno social varia inversamente à sua incidência real".

Quanto mais raro um fenômeno, mais ele nos chama a atenção. Quanto mais próximo da solução, mais lamentamos um problema social. Do mesmo modo, quanto mais frequente um comportamento, menos atenção e revolta ele desperta.

As mulheres eram 15% do mercado de trabalho no Brasil em 1920, 32% em 1960 e são 48% hoje. Até os anos 1960, usar biquíni era questão de polícia; até a década de 1980, elas tinham vergonha de se dizerem divorciadas. As mulheres de hoje certamente não vivem num mundo perfeito, mas desfrutam de muito mais liberdade que há 30 ou 50 anos. E, apesar disso, nunca falamos tanto sobre as "questões de gênero".

Há muitos exemplos interessantes da Lei de Spencer. A pobreza, regra da humanidade até a Revolução Industrial, só causou espanto quando começamos a deixar de ser pobres. A parte recém-enriquecida da população inglesa olhou para a parte ainda pobre e se espantou: "vejam a pobreza!".

Durante a Idade Média, quando menos de 10% dos europeus sabiam ler, pouca gente considerava o analfabetismo um problema social. O fenômeno só entrou na agenda pública no fim do século XIX, quando estava prestes a desaparecer. Em 1870, ano em que a educação pública virou lei na Inglaterra, 75% dos ingleses já eram alfabetizados.

Por que isso acontece?

O historiador britânico Stephen Davies aposta num problema de percepção. "Quando um fenômeno como a pobreza, o trabalho infantil ou o maltrato às mulheres é disseminado, ninguém o percebe, pois é simplesmente tido como parte do jeito que as coisas são", diz ele. Já se o problema deixa de ser tão frequente, nas poucas vezes em que ocorre desperta indignação, e não mais indiferença.

Não dê bola para as militantes radicais. Há muito o que se comemorar neste Dia Internacional da Mulher.


Sobre o autor

Leandro Narloch

É jornalista e autor do Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil.

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