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Economia

Assim se destrói um país

02/03/2016

Assim se destrói um país

Em 2005, segundo o IBGE, cinco milhões de brasileiros estavam interessados em concursos públicos. Em 2010, esse número já havia mais que duplicado, passando para 11 milhões de pessoas.  Imagina quantos são hoje?

No entanto, foi só ao ler um artigo recente, escrito por um holandês, que concluí em definitivo algo de que apenas suspeitava: o número de jovens que almeja a carreira pública está crescendo preocupantemente.

O artigo se chama: "Por que o Brasil não consegue crescer ainda mais?", do autor Kieren Kaal [por ser holandês, ele se refere aos valores monetários em euros].  Em dado momento, ele escreveu, com muita precisão, o seguinte:

Uma economista brasileira muito inteligente contou-me em uma casa de samba sobre os novos planos para a sua carreira.

'Serei fiscal da Receita. Cinco mil euros de salário inicial, um horário de trabalho legal e me aposentar cedo. O que eu quero mais?'

Um sorriso debochado brilhou no seu rosto. Quando eu a conheci, essa jovem talentosa de 20 e poucos anos ainda tinha ambições muito diferentes. Ela seria uma escritora brilhante ou uma empresária -- não uma funcionária pública enferrujada. Mas a tentação é grande. Nada menos que três em cada cinco jovens brasileiros sonham com um emprego no governo, de preferência como funcionário público federal.

Pois bem, o que tenho visto diariamente na prática docente é justamente isso: um grupo de jovens cuja maior ambição é se preparar em um curso técnico/superior para um futuro concurso público estadual, ou preferencialmente federal, para garantirem suas vidas logo no início delas, com salários gordos e cargos vitalícios, e assim poderem ter a certeza de que daqui a alguns anos irão se aposentar e morrer em paz.

É deprimente entrar em uma turma de Direito e perguntar aos alunos quantos dali pretendem fazer concurso e em torno de 90% (às vezes mais) levantarem seus braços. Estamos mediocrizando o país.

Devemos lembrar que o estado não produz nada

Nosso país possui uma economia doentia, na qual existem cidades que se sustentam única e exclusivamente dos vencimentos dos servidores públicos, das transferências de renda (bolsa-família etc.), e nas aposentadorias dos mais velhos. Toda a economia girar em torno de recursos oriundos dos cofres públicos é absurdo.  No geral, mais da metade da população brasileira depende de pagamentos do governo.

Enquanto isso, o governo, tal qual um leviatã, no melhor modelo hobbesiano, parasita as poucas empresas, retirando o máximo possível por meio da carga tributária, atraindo alguns dos mais promissores talentos do mercado por meio de salários e planos de carreira aos quais o setor privado não tem como fazer frente.

Por que se arriscar no setor privado, sofrendo cobranças e tendo de apresentar eficiência, se você pode simplesmente ganhar muito no setor público, tendo estabilidade no emprego e sem ter de apresentar resultados?

[N. do E.: E é justamente o setor privado quem tem de sustentar a farra do setor público.  Daí os baixos salários pagos na iniciativa privada.  Toda a carga tributária existente no Brasil, que impede aumentos salariais na iniciativa privada, existe justamente para sustentar o setor público e seus funcionários que ganham salários magnânimos e vivem à custa dos trabalhadores da iniciativa privada, os quais ganham pouco justamente porque têm de bancar os membros do setor público.]

Não deixa de ser irônico ver os editais de alguns concursos exigirem o estudo de matemática ou economia. No caso da economia é triste porque geralmente não é economia, mas sim uma cartilha político-partidária de acordo com o "P" que esteja no comando do país/estado/município do certame. No mais, é de certa forma absurdo que certos órgãos peçam que seus futuros funcionários estudem matemática ou economia, visto que basta realizarem alguns cálculos básicos, matemática elementar, e irão perceber o buraco em que o país está se metendo.

Enquanto isso, a demagogia oficial se vale do "estado do bem-estar social" para buscar votos, prometer o impossível e, com isso, sacrificar as gerações futuras emitindo um cheque sem fundo, que a maior parte de seus técnicos sabe que não poderão ser pagos.

O Brasil gasta demais com funcionários públicos, e não há quem se comprometa a pôr um freio nesta farra.

A questão é: como irão fechar as contas sem recorrerem a mais impostos? Se assim o fizerem, poderá chegar o dia em que irão inviabilizar as empresas, que são quem mantém toda essa estrutura.  Ironicamente, sem o setor produtivo, o número de funcionários públicos bem pagos cairá a zero.


Sobre o autor

Sandro Schmitz

É analista e consultor internacional. Sócio-diretor da Dealers Negócios Internacionais, coordenador de Direito Internacional, Econômico e Tributário da Junqueira Schacker Advogados.

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