Esse site usa cookies e dados pessoais de acordo com os nossos Termos de Uso e Política de Privacidade e, ao continuar navegando neste site, você concorda com suas condições.

< Artigos

Economia

Não existe um político “solucionador de problemas” - soluções requerem liberdade, e não planejamento

18/02/2016

Não existe um político “solucionador de problemas” - soluções requerem liberdade, e não planejamento

"Precisamos de um político com experiência em resolver problemas!"           

Isso é o que dizem sempre que a economia do país vai mal e a insatisfação com o governo vigente está aumentando.  Para aparentar imparcialidade, normalmente não se especifica o nome de nenhum político; apenas diz-se que é necessário ter alguém no comando com grande experiência administrativa e com um histórico de "solucionador de problemas".

Isso é bem conveniente e faz com que vários políticos se apresentem como tal.  Claro; qual candidato não quer ser conhecido como "alguém que faz"?

Quando entrevistados, tais políticos sempre dão a entender que estão perfeitamente capacitados para resolver todos os problemas sociais e econômicos vivenciados pelo país. As "soluções" sempre vêm em slogans e frases de efeito. Parece que cada vez mais pessoas desejam ser liberadas daquilo que Friedrich Hayek descreve em O Caminho da Servidão como "a necessidade de resolver nossos próprios problemas econômicos e [...] as escolhas amargas que isso frequentemente envolve".

Pedindo para ser enganado

Mas será que um sistema econômico próspero depende de eleger um presidente que seja um solucionador de problemas?  Qual a ideia de conclamar "nossos líderes" a mentir para nós, fingindo que sabem tudo e que são capazes de resolver ordenadamente todos os problemas?  

Quem defende a ideia de que "temos de eleger solucionadores de problemas" está, na prática, dizendo que devemos servir como instrumentos que os políticos utilizam para alcançar seus fins; devemos ser servos para todos os fins que "nossos líderes" escolheram para nós.

A questão é que o foco na resolução de problemas por meios políticos é uma postura inconsistente com uma economia de mercado. Em um artigo intitulado "Let a Billion Flowers Bloom", o economista George Gilder explica que resolver problemas pode ser uma tarefa infindável e infrutífera:

A primeira grande regra de um empreendimento é "não resolva problemas". Busque oportunidades. Problemas são infinitos e se multiplicam continuamente. Quando você os resolve, apenas volta para o ponto de partida. Governos são especialistas em criar problemas para, em seguida, generosamente tentarem resolvê-los para as pessoas -- criando, nesse processo, problemas ainda mais sérios e mais sistêmicos.

Por outro lado, quando buscamos oportunidades, aí sim permitimos um processo de descoberta que irá, automaticamente, resolver problemas.

Descobertas no escuro

Imagine que você está subindo por uma escadaria no escuro. A luz ambiente permite apenas visualizar o próximo degrau à sua frente. Assim que você dá seu primeiro passo, a luz cai sobre o próximo degrau à sua frente. A cada degrau surge um próximo degrau, uma nova possibilidade. Mas você não consegue ver ou responder a essas possibilidades até que tenha subido o degrau à sua frente. A partir do primeiro degrau, você não pode ver o topo da escadaria. Na verdade, a partir do degrau no qual você se encontra agora, você não pode ver nem mesmo três degraus adiante.

Naturalmente, há muitas ocasiões nas quais nos sentimos desconfortáveis com este processo de surgimento de oportunidades. Candidatos políticos tentam amenizar nossos medos e manter a ilusão de que podem ver toda a escadaria, do primeiro ao último degrau. Não podem. Desde a perspectiva que ocupam agora, sua visão, assim como a nossa, é limitada.

Não se dá crédito a quem não merece

Todo político "solucionador de problemas" promete criar empregos.  Mas desde quando políticos criam empregos?  Quem realmente cria empregos?  

Mais ainda: quem é capaz de prever quais empregos são realmente necessários?

Aqueles milhões de indivíduos que estavam empregados nas fazendas no século XIX saberiam prever que seus descendentes estariam empregados em fábricas de automóveis e siderúrgicas? Poderiam aqueles que estavam empregados nas fábricas de automóveis imaginar que seus filhos e netos escreveriam programas computacionais?

Algum político poderia prever essa dinâmica?

Se as pessoas daquela época exigissem que políticos criassem e mantivessem empregos, estaríamos até hoje vivendo no campo, à luz de velas, vivendo da agricultura de subsistência, comenda mandioca e alface.

Ou então, considere o seguinte: em 1800, de acordo com o escritor científico Matt Ridley em seu livro The Rational Optimist, um trabalhador médio tinha de trabalhar durante seis horas para ganhar dinheiro suficiente para pagar por uma hora de luz de uma vela de sebo. Hoje, um trabalhador médio em país desenvolvido paga por uma hora de iluminação interna com meio segundo de trabalho.

Algum político ou presidente resolveu o problema do alto custo da iluminação interna? Não. Tanto as lâmpadas quanto a eletricidade confiável surgiram da concorrência entre empreendedores que perceberam uma ampla necessidade da população e, consequentemente, tentaram satisfazê-la no mercado.

Não houve decretos ou ordens de políticos.  Houve apenas a espontaneidade do mercado.

O progresso não ocorre por meio de decretos políticos, de regulamentações, e de ordens burocráticas. O progresso é um fenômeno que surge de acordo com demandas e necessidades dos consumidores.  Acima de tudo, é um fenômeno que ocorre de acordo com o ambiente à sua volta.  Se não houver compulsão e coerção, e se houver liberdade empreendedorial para que indivíduos possam colocar suas idéias a serviço das demandas, o progresso ocorrerá.

A crença de que líderes políticos "solucionadores de problemas" podem impulsionar o progresso por meio de decretos e de "coordenação política" significa, na prática, apoiar o uso da força para impulsionar a produtividade.  É assim na Coréia do Norte.

A energia humana, quando forçada e coagida, é exaurida. Aqueles que são capazes de criar valor para os outros são impedidos de fazê-lo quando são compelidos e coagidos.

Todos os dias, cidadãos comuns e empreendedores buscam oportunidades. Ninguém controla a miríade de decisões e ações descentralizadas que, ao longo do percurso, resolvem os problemas.  Por tudo isso, não precisamos de "solucionadores de problemas"que nos digam qual é o seu mirabolante "plano vencedor".

Queremos, isso sim, que planejadores e "solucionadores de problemas" simplesmente saiam da nossa frente.


Sobre o autor

Barry Brownstein

É professor emérito de economia na Universidade de Baltimore e autor do livro The Inner-Work of Leadership

Comentários (35)

Deixe seu comentário

Há campos obrigatórios a serem preenchidos!