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Economia

O cavaleiro da triste figura

18/12/2015

O cavaleiro da triste figura

Embora longe de ser um Dom Quixote, Joaquim Levy revelou-se uma triste figura, sem voz e sem pulso.

É verdade que ele assumiu o cargo de Ministro da Fazenda com as contas públicas em frangalhos e com a economia à beira do colapso.  Porém, o que ficará para a história é que ele foi o ministro que, tendo prometido um superávit primário de 1,2% do PIB para 2015, entregará um assombroso déficit primário acima de 2% do PIB; tendo prometido um "ajuste firme e rápido" entregou apenas fracassos; tendo prometido a volta do crescimento econômico, entregará uma economia em profunda recessão.

O que é certo é que Levy está arrependido.  E muito.

Apenas imagine: ele tinha um emprego excelente no Bradesco, ganhando R$ 250 mil por mês.  Sua reputação e competência eram exemplares.  Por onde tinha passado, havia colhido louros.  Chegar à presidência do Bradesco era certamente uma questão de tempo.

E então, talvez por vaidade, talvez por aquele ávido desejo de poder -- o qual Santo Agostinho chamou de "libido dominandi" --, talvez pela "glória de mandar" (Velho do Restelo), ele decidiu largar tudo e ir trabalhar justamente para esse governo de reputação nada ilibada.

Certamente Levy pensou que iria conseguir arrumar a casa e que isso tornaria seu currículo invejável.  Como consequência, iriam pipocar propostas de trabalho com salários magnânimos, ele ficaria milionário dando palestras, e seu salário na iniciativa privada iria disparar.  Ele deve ter calculado isso tudo.

Só que deu tudo errado.  Ele não apenas não conseguiu fazer nada, como ainda foi feito de bobo. 

Para começar, Levy levou um baile de Nelson Barbosa -- o pavoroso Ministro do Planejamento e a verdadeira mente por trás da Nova Matriz Econômica --, que conseguiu criar um ministério da fazenda paralelo (e foi quem, na prática, pautou as políticas econômicas).  

Em seu primeiro grande embate com Barbosa, Levy apanhou: a meta do superávit primário de 2015 foi reduzida de 1,2% para 0,15% do PIB, com o apoio de Dilma.  Nesse ponto, Levy já deveria ter pedido para sair. Já estava evidente que Dilma não havia aprendido nada e não havia esquecido nada.

Mas ele quis ficar.  Para quê?  Para virar chacota. No mesmo dia em que ele afirmava uma coisa, o Palácio do Planalto e o Ministério do Planejamento se apressavam em afirmar o oposto. A imprensa seguidamente relatava casos de integrantes do governo que agiam por trás dos panos para desqualificá-lo.  Durante todo esse tempo, ele foi impiedosamente bombardeado pelos próprios membros do seu governo e por todos os integrantes do PT.

Levy jamais teve o apoio da chefe.  Dilma não apenas nunca deu nenhum respaldo a Levy, como ainda fortaleceu ainda mais o poder de Barbosa -- duas provas disso foram o desastroso envio ao Congresso de um orçamento afirmando que haveria um déficit primário de 30 bilhões de reais pra 2016 (o que precipitou a perda do grau de investimento pela Standard&Poor's), e a recente confirmação de que a meta do superávit primário para 2016 será de 0,5% do PIB, sendo que Levy dissera não admitir menos que 0,7%.

Depois de o país ter sido submetido a todos os desmandos da dupla Dilma-Barbosa, ficou claro que Dilma havia escolhido Levy não para "consertar" a economia, mas sim para ganhar tempo perante o mercado financeiro.  Levy foi apenas -- parodiando Michel Temer -- uma peça decorativa.  Jamais teve espaço para fazer seu suposto trabalho.  E jamais teria, pois a real ideologia econômica de Dilma ainda aparenta ser a mesma da época em que era a líder da organização terrorista VAR-Palmares.

Levy, passivamente, assistiu à economia derreter sob o seu suposto comando, recebendo assim a culpa pelo colapso.  Todos os indicadores econômicos se deterioraram sob sua chancela, e a história apontará Levy como sendo o ministro da fazenda que permitiu tudo isso. 

Levy não apenas sairá muito pior do que entrou, como ainda estragou sua carreira, pois agora será visto como um cara sem pulso, que foi feito de bobo, que não conseguiu se impor e que, por isso, fracassou naquilo que se propôs a fazer.

Eis uma poderosa lição: se você se alia a charlatães e a incompetentes, e tem à sua volta pessoas que em vez de estarem ocupando a mais alta hierarquia do país deveriam estar ocupando uma cela na Papuda, sua imagem inevitavelmente ficará conspurcada.

Levy mereceu.


Sobre o autor

Leandro Roque

Leandro Roque é editor e tradutor do site do Instituto Ludwig von Mises Brasil.

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