Saber sobre economia não é o mesmo que entender de economia
Alguém que sabe muito sobre economia aprendeu muitos jargões econômicos (por exemplo, "custo marginal") e todas as definições dos livros-textos (por exemplo, "Custo marginal é o acréscimo ao custo total de produção gerado pela produção de uma unidade adicional de um determinado bem").
Tal pessoa também memorizou as normalmente intrincadas regras sobre como desenhar e deslocar várias "curvas", como as curvas de oferta e demanda, as curvas de custo, e as curvas IS-LM. E, no mundo atual, tal pessoa normalmente também é habilidosa em manusear e processar dados quantitativos por meio daqueles programas de processamento de dados chamados de "técnicas econométricas".
Saber como pensar produtivamente como um economista é algo que pode ser, em muito, auxiliado pelo domínio de tais técnicas modernas; no entanto, pensar como um economista envolve muito mais do que isso. Com efeito, dominar estas técnicas não é tão essencial para ser um economista genuinamente bom como supõe o típico economista de hoje.
Frequentemente, o domínio de técnicas superficiais, como a supracitada, serve apenas para convencer aqueles que as dominam de que entendem de economia. O lamentável resultado disso é que tais pessoas se acomodam e não se dão ao trabalho de realmente aprender a habilidade de fazer análises econômicas adequadamente.
Imagine alguém que tenha memorizado cada página de um livro de receitas culinárias mundialmente aclamado. Tal pessoa aprende todo o jargão culinário; todas as fórmulas para todos os molhos, guarnições, condimentos e sopas; todas as combinações apropriadas de temperos; todas as temperaturas de forno recomendadas para cada prato específico. Tal pessoa de fato domina todas as receitas e todas as informações escritas no livro.
Mas o que essa pessoa realmente "aprende" com o livro é que preparar refeições é um feito de 'nerds': siga mecânica e fielmente as receitas dos 'melhores' livros de culinária e você será um excelente cozinheiro. Voilà! Preparar refeições gourmet é fácil; basta você seguir as receitas!
Obviamente, o que esse memorizador do livro de receitas culinárias jamais aprenderá é que ser um excelente cozinheiro requer, acima de tudo, capacidade de discernimento, bom senso e criatividade para saber quando se manter fiel a uma receita e quando tal receita é inadequada para os convidados específicos de um determinado jantar.
O que esse memorizador jamais aprenderá é como criar refeições deliciosas para as quais não há receitas já prontas. Em suma, esse memorizador, na melhor das hipóteses, domina apenas aquilo que um chef experiente pode escrever em um papel; este memorizador -- uma atividade extremamente maçante -- jamais dominará a criativa arte da culinária.
Vários economistas são como este maçante memorizador de receitas culinárias. Eles descarregam seus jargões livremente sobre toda a humanidade; eles sabem, e podem recitar impecavelmente, todas as últimas receitas (isto é, modelos). Eles são capazes de citar os criadores dessas receitas (isto é, todos os teóricos econômicos que são a moda do momento). Eles sabem muito sobre economia.
Mas quando estes de fato tentam demonstrar algum conhecimento de economia, rapidamente se torna claro que eles não sabem o que fazem. Eles não são realmente economistas. Eles consistentemente se esquecem de perguntar a mais importante dentre todas as questões que um economista de verdade tem de fazer: "Em relação a quê?"
Eles se esquecem, por exemplo, de que custos e benefícios monetários são apenas um subconjunto (e, muitas vezes, um pequeno subconjunto) de todos os custos e benefícios; eles erroneamente partem do princípio de que os custos e benefícios monetários representam todos os relevantes custos e benefícios.
Eles, na esmagadora maioria das vezes, levam ao pé da letra as receitas que memorizaram: qualquer variação observada no mundo real que seja incoerente com as receitas do livro de culinária (isto é, dos livros-texto) representa, para tais economistas, a evidência suprema de que o mundo real está deturpado.
O fato de que a realidade é muito mais rica em detalhes; o fato de que a concorrência opera em muito mais margens e sob as mais diversas maneiras do que aquelas incluídas nos modelos formais desses economistas; o fato de que as pessoas, na condição de consumidores e de produtores, são indescritivelmente mais criativas, espertas, intrépidas e diversificadas do que os 'agentes' que povoam os modelos econômicos; o fato de que maximizar coletivamente a renda monetária de algum grupo de pessoas arbitrariamente definido (por exemplo, "trabalhadores pouco qualificados" ou "pessoas de olhos azuis cujo sobrenome começa com a letra Z") é algo que não apenas é sem sentido como também é normativamente dúbio -- tais fatos são invisíveis para a grande maioria dos economistas modernos.
Essa cegueira às mais importantes características da realidade econômica é intensificada pela incapacidade do atual ensino de economia em treinar jovens economistas a perguntarem, a sempre perguntarem, por quê.
- Você disse que o poder monopsônico -- poucas empresas para contratar muitos trabalhadores, o que dá às empresas poder de determinar salários baixos -- domina a realidade. Por que então empreendedores em busca do lucro não estão entrando nestes mercados para se aproveitarem dos altos lucros possibilitados por esse arranjo que você diz ser dominante?
- Você disse que empresas telefônicas e aéreas têm serviços ruins e caros. Por que então empreendedores em busca do lucro não estão entrando nestes mercados para se aproveitarem dos altos lucros possibilitados por esse arranjo que você diz ser dominante?
- Você disse que o crescimento econômico de uma determinada região é limitado pela ausência de capital e mão-de-obra de qualidade ali disponível. Por que então empreendedores em busca do lucro de todas as partes do mundo não estão entrando nestes mercados para se aproveitarem dos altos lucros possibilitados por esse arranjo que você diz ser dominante?
- Você disse que as mulheres ganham menos que os homens para realizar as mesmas funções. Por que então empreendedores em busca do lucro não estão entrando nestes mercados para se aproveitarem dos altos lucros possibilitados por esse arranjo que você diz ser dominante?
- Você disse que os salários estão abaixo da produtividade da mão-de-obra. Por que então empreendedores em busca do lucro não estão entrando nestes mercados para se aproveitarem dos altos lucros possibilitados por esse arranjo que você diz ser dominante?
- Você disse que o crescimento econômico exaure os recursos naturais de modo insustentável. Por que empreendedores em busca do lucro não estão entrando nestes mercados para se aproveitarem dos altos lucros possibilitados por esse arranjo que você diz ser dominante?
- Você disse que a questão das externalidades gera todos os tipos de falha de mercado -- problemas estes que devem ser resolvidos pelo governo. Por que então os arranjos que, no mercado, geram externalidades não existem na política em uma escala tal que faz com que políticos imperfeitos sejam uma alternativa muito pior do que mercados imperfeitos?
Tais perguntas podem ser infinitamente expandidas. Assim como saber muito sobre culinária não significa saber cozinhar bem, saber muito sobre economia não significa saber como pensar criativa e claramente como um economista.
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