Por que ser um economista? Para ser feliz, ora essa!
Murray Rothbard em sua máquina de escrever nos anos 60. |
Meu conselho aos meus melhores alunos, aqueles que são brilhantes e, mais importante, que foram realmente picados pelo mosquito austro-libertário graças aos nossos esforços e aos esforços dos nossos outros colegas, é que se graduem em economia, e, mais ainda, que se graduem duplamente em economia e matemática, ou que se graduem em matemática e então façam um Ph.D em economia.
Em contraste, o conselho do meu colega para nossos alunos é que se graduem em economia, ou que até mesmo façam uma graduação dupla em economia e finanças, ou uma graduação apenas em finanças, e então arrumem um emprego que pague um salário bem alto
O que eu penso disso? Por que estou dando esse conselho? Para melhor promover a liberdade, é claro. Sou motivado pelo fato de que o austro-libertarianismo é uma flor rara e preciosa, porém crucialmente importante para a prosperidade e até mesmo para a sobrevivência da inteira raça humana. Já que sou totalmente a favor de minha própria espécie (confesso: sou um discriminador pró-humanos), promover o austro-libertarianismo é uma das coisas mais importantes da minha vida profissional.
Houve até mesmo uma época em que pessoas como Mises e Hayek pensaram que essa filosofia política e econômica acabaria quando eles morressem. Graças aos esforços de grupos como o Mises Institute, essa já não é mais uma possibilidade plausível. No entanto, ainda somos apenas uma voz gritando em um imenso deserto. Não pode haver objetivo mais importante para homens de boa vontade do que fazer o que puderem para incitar e ajudar esse esforço. É claro que curar o câncer, intensificar a educação geral, aperfeiçoar os esportes, a música e o entretenimento, conquistar o espaço e as profundezas do mar azul etc., também são objetivos bons para se ter. Não é uma proposta de tudo ou nada. Mas a liberdade econômica e o libertarianismo, além de serem um fim em si, também são um meio necessário para se atingir esses outros objetivos.
Dito tudo isso, por que se graduar em economia e se especializar também em matemática? Resposta: para se obter um Ph.D em economia e se tornar um professor, escritor, ou palestrante nesse campo. (Em um passado mais remoto, a matemática pouco tinha a ver com a economia; hoje em dia, a maioria dos cursos de graduação ensina economia como se esta fosse um mero ramo da matemática).
É claro que essa não é, de maneira alguma, a única maneira de se promover a liberdade. Há também o direito, por exemplo. Entretanto, praticantes legais dessa área não podem dedicar completamente suas carreiras profissionais para a promoção da liberdade. Se eles quiserem sucesso nesse campo - isto é, serem promovidos a nossos parceiros -, eles precisam se preocupar com testamentos, custódias, evasão tributária, inocência criminal, casamento, etc. Essas coisas obviamente vão de encontro à liberdade, mas elas não a promovem - no sentido de ajudar a promover um movimento com essa finalidade.
E quanto a se tornar um professor de direito? Ou talvez um professor de história, ciências políticas, sociologia ou algum outro campo de relevância para nossos interesses? Infelizmente, essas áreas são quase que totalmente dominadas por nossos amigos de esquerda. Economia, felizmente, é talvez a disciplina mais aberta à liberdade - sem mencionar a economia austríaca. Só para confirmar, grandes contribuições para nossa causa foram e continuam a ser feitas por jornalistas, membros de think tanks pró-livre iniciativa, etc. Mas, ainda assim, a economia é talvez a mais útil de todas as disciplinas. Agora, eu sou um indivíduo metodológico o suficiente para saber que estudar economia não é uma obrigação para todo mundo. Mas, por outro lado, também sou um devoto dessa ciência sombria (dismal science) o suficiente para pensar que ela traz uma contribuição única para nossa causa.
Por que esse meu colega enfatiza finanças? Por duas razões: uma, horrível, na minha opinião; a outra, de grande interesse. Sua primeira motivação é que ele quer que nossos alunos se tornem ricos, e está convencido de que lidar com ações e títulos, commodities e mercados futuros, é a melhor maneira de fazê-lo, ao menos para estudantes que tenham temperamento para tal tipo de coisa. Eu não posso discordar muito dele em relação a isso. Engenheiros, químicos, médicos, cantores, atores, atletas, gênios da computação também ganham bons salários. Mas os alunos em nossas salas de aula, pelo fato de estarem lá, já demonstraram uma não-inclinação para tais vocações.
Não. Eu discordo dele é na ênfase que ele coloca na necessidade de se acumular grande riqueza. Qual é o ponto?, pergunto eu. Será que minha vida mudaria de maneira significativa se eu tivesse, digamos, duas vezes mais dinheiro do que tenho agora? Eu já desfruto de bens como carro, casa, TV, computador, comida, entretenimento, viagens, etc., da maneira que eu quero. Uma maior riqueza não mudaria minha vida de maneira significante em relação a qualquer uma dessas margens. Já tenho dinheiro suficiente para deixar para os meus filhos sem mimá-los. (Se eu tivesse toneladas de dinheiro, doaria tudo que não precisasse para o Mises Institute, mas essa é outra história, para ser discutida mais abaixo.)
Mas, sem considerar essa motivação, eu realmente não quero ser fabulosamente rico. Isso faria com que eu temesse que aqueles a quem amo fossem sequestrados em troca de resgate. Eu teria, nesse caso, que contratar seguranças para protegê-los, e, à noite, iria dormir pensando se poderia realmente confiar nesses guardiões. Obrigado, mas não, obrigado. Ninguém com um salário médio, ou ligeiramente maior, precisa se preocupar com coisas desse tipo.
Estou perfeitamente contente com o estilo de vida que um salário de professor pode me dar, sem mencionar as longas, longas, longas (eu já mencionei longas?) férias que eu desfruto, durante as quais eu posso fazer exatamente o que me agrada (principalmente, pesquisar e escrever). A típica semana de trabalho é de nove horas (isso não é um erro tipográfico). Sim, você tem que elaborar algumas provas, e algumas vezes participar de um encontro da comissão - ou dois, se você não for esperto o suficiente para sair fora desse tipo de coisa. Mas nove horas por semana? Me dá um tempo. É uma vida muito boa. Você é constantemente desafiado por jovens e brilhantes alunos. Você pode ensinar coisas que você adora e pelas quais tem grande apreço. Pô, você tem uma audiência semi-cativa (você tem que mantê-los acordados) prestando atenção em cada palavra que você diz. Coisa bem temerária. E, como professor, se você tem gosto por viagens, você poderá geralmente fazê-las de graça, e você terá muito tempo para isso (eu já mencionei as longas férias e a curta semana de trabalho?)
Como acontece, essa posição do meu colega constitui algo como uma contradição de atitudes. Se a vida rica de Wall Street é tão desejável, então por que ele é um professor? Será que ele lamenta sua própria decisão? Estaria ele vivendo sua vida através daqueles nossos alunos que ele estimula a entrar no mundo das finanças e do comércio? Duvido muito de tudo isso. Ele talvez seja, depois de mim, a pessoa mais feliz que conheço em toda essa profissão. Ele é tão fanático com tudo isso que ele nem aceita os períodos sabáticos. (Para os não-iniciados, além das curtas semanas de trabalho e das longas férias, se você jogar direitinho você ganha um completo ano sabático a cada sete anos. Oh, o horror do excesso de trabalho do qual cada professor reclama!)
Mas existe uma segunda razão para se recomendar finanças, e, presumivelmente, maiores riquezas, para nossos alunos. Esse é a razão "de grande interesse" mencionada acima. Meu colega não conta com esse cenário em nossas discussões nesse assunto, mas, no interesse da imparcialidade, ele deve ser discutido. A idéia, aqui, é que se precisa de mais do que intelectuais e suas idéias para se criar, publicar, promover e defender uma sociedade livre. Também se precisa de alguns requisitos financeiros (veja Joe Salerno pp. 112-115) para apoiar essas atividades. E quem oferece tal suporte? Ora, os homens de negócios, os empreendedores, financistas - os habitantes de Wall Street certamente entre eles.
Peguemos o Mises Institute como um caso
Existem várias razões.
Deixe-me começar com algumas pessoais. Quando eu tinha 18 anos, comprei meu primeiro pedaço de imóvel. Era um apartamento em um prédio de quatro apartamentos, na vizinhança de Sheepshead Bay, no Brooklyn, Nova York, bem ao lado do oceano. Eu pensava que um dia ele se tornaria bem valioso. Os aluguéis eram controlados pelo governo e eram extremamente baixos, de maneira que eu pude comprá-lo utilizando a renda de alguns empregos de verão e outros de meio horário que eu arrumava, bem como os presentes que eu havia recebido no meu Bar Mitzvah, ao completar meus 13 anos, que eu havia poupado. Meu empreendimento seguinte, uns anos depois, foi um apartamento em um prédio de dez apartamentos, na East 84th Street entre a Segunda e a terceira Avenida, potencialmente um distrito de aluguéis mais caros.
Durante o período que eu estava estudando para meu Ph.D. na Columbia University, eu estava alugando um apartamento em um prédio de 24 suítes perto da universidade, na 122nd Street, entre a Broadway e a Amsterdam Avenue. Muito perto do Harlem para ser considerada uma área luxuosa, era o único prédio no quarteirão que não pertencia ao Seminário Teológico Judeu, também localizado lá. Eu logo comprei esse apartamento, também. Logo antes de eu sair desse negócio, eu estava quente na trilha de fazer algo ainda maior: um apartamento em um prédio de 80 apartamentos na Broadway, nos anos 1990, bem próximo de onde Murray Rothbard morou, na West 88th Street. Eu tive sucesso em cada passo de minha carreira de agente imobiliário, e estava contemplando expansões ainda maiores.
Por que eu parei? Porque eu ia dormir pensando no problema no teto do apartamento do Brooklyn; ou na senhorita do apartamento
Ao invés disso, eu queria estar contemplando assuntos como anarquismo versus minarquismo; o que havia de tão interessante nessa tal de economia austríaca que eu estava lendo pela primeira vez; os oceanos poderiam ser realmente privatizados? Eu estava no meio de escrever ensaios que eventualmente se tornariam capítulos de Defending the Undefendable, e todos esses tópicos estavam me intrigando cada vez mais. Intrigando? Não. Era algo muito mais sério. Olhando para trás, agora, eu diria que eu ficava devastado por ter que perder tempo com qualquer outra coisa que não fosse isso.
Então por que eu não quero recomendar o caminho dos negócios aos meus melhores alunos? Aqueles que foram seriamente capturados pela beleza do austro-libertarianismo, como eu fui naqueles anos passados? Porque eu não acho que eles serão felizes contemplando diferenciais de preços em diversas moedas, exceto à medida que esses pensamentos os ajudem a formular a argumentação para termos um padrão-ouro ou um livre mercado de moedas. Eu também não acho que esses garotos estarão se satisfazendo se forem estudar a essência das taxas de juros com a única intenção de ganhar dinheiro nos mercados futuros.
Em resumo, eu acho que eles vão delirar de felicidade, assim como eu delirei e ainda deliro, se eles aprenderem a aperfeiçoar e melhor promover, ou defender de críticas, a teoria austríaca dos ciclos econômicos. Se meus alunos estão interessados em imóveis, seria melhor que escrevessem a melhor argumentação contra o controle de aluguéis, ou contra a habitação pública, ou contra o zoneamento, do que se preocupar com os vários inquilinos nos prédios que eles gerenciam, e os problemas com tetos, encanamentos, aquecimento ou ar condicionado.
Não me entendam mal. Como um defensor da sociedade livre, eu entendo perfeitamente bem que não podemos ter qualquer tipo de economia, sem mencionar uma civilizada, se ninguém "tomar conta dos negócios". Ninguém mais do que eu é grato àqueles que empreendem os esforços comerciais para a nossa sociedade.
Mais ainda, creio que de todos os acadêmicos associados ao Mises Institute, eu estou entre aqueles que mais apreciam o papel dos nossos apoiadores financeiros que vêm do mundo dos negócios e do empreendedorismo. Sem eles, o edifício, o equipamento capital necessário, simplesmente não estaria lá. Lew (Rockwell), provavelmente, ainda assim estaria gerenciando o local, tenho certeza, mas em sua garagem ou em seu porão. E certamente não haveria nada perto do atual nível de programas. Ele teria que ganhar seu sustento e de sua família de outra forma, e iria poder dedicar apenas parte do seu tempo, após seu outro trabalho, para essa atividade. Mas, ainda assim, isso não significa que aqueles meus alunos que estão em dúvida entre seguir uma carreira nos negócios ou se dedicar completamente aos esforços de promover a liberdade, devam ser empurrados por mim para a primeira opção. Eu favoreço bem mais a segunda opção, pois, por mais importante que seja o mundo dos negócios, aqueles de nós que se esforçam monumentalmente para garantir que esses homens de negócios possam engajar-se livremente no comércio, também fazem uma contribuição crucial.
Aqui vai uma segunda razão para essa minha posição. De cada dez alunos que eu inspiro, encorajo, adulo ou - OK, OK -, atormento para seguir uma vida intelectual, de cinco a sete deles podem ter sucesso. Entretanto, acho que eu teria realmente muita sorte se conseguisse uma taxa de sucesso de um para cada dez na outra direção. Isto é, para que esses garotos não apenas tenham sucesso nos negócios, mas que também mantenham aquela intensa apreciação pela liberdade econômica durante as várias décadas necessárias para que eles tenham dinheiro suficiente para contribuir de maneira significativa para grupos como o Mises Institute. Por quê? Porque praticamente tudo que eles fizerem em um campo acadêmico (incluindo jornalismo, trabalhando como um analista em um think tank pró-mercado, etc.) irá reforçar mais ainda suas crenças, e encorajá-los em seu libertarianismo.
Para ser sincero, não estamos falando que isso ocorrerá em 100% do tempo. Como professor, ainda há provas a serem corrigidas, encontros da comissão, etc. Mas, em contraste, quase nada nos negócios promove a liberdade (apesar de a exemplificarem, como no caso de todas as atividades de mercado). Eles estarão preocupados com a Receita Federal, com as agências de regulamentação, em ficar sempre um passo a frente da concorrência, em satisfazer o consumidor, em pagar inspetores, em construir um melhor mouse (para a Disney ou para uma nova variedade de computadores) ou uma melhor ratoeira. Acho que é muito raro, muito raro mesmo, encontrar o jovem que possa manter a chama da liberdade acesa dentro de si após décadas enfrentando esse tipo de coisa.
Seria interessante fazer uma pesquisa entre os atuais doadores do Mises Institute, para saber: quantos deles eram libertários fervorosos quando jovens, e mantiverem esse "fogo" queimando ainda mais ardentemente enquanto trabalhavam no mundo dos negócios? E quantos, ao contrário, "nasceram de novo": em uma fase mais avançada da vida, depois de muito sucesso no comércio, eles puderam perceber a contribuição que essa organização fez pela civilização? Suspeito que este último tipo será o predominante.
E quanto a fazer os dois? Isto é, ter ambas as carreiras de intelectual e de empresário? Eu sei de apenas um punhado de casos em que alguns indivíduos fizeram importantes contribuições nesses dois campos diferentes. Essa deve ser a exceção dominante, não a regra geral. Isso se deve ao poder da especialização e da divisão do trabalho. Quantos jogadores de tênis profissionais são também violinistas de classe? Quantos bons atores de cinema são médicos? Até mesmo Michael Jordan, talvez o melhor jogador de basquete a ter "enterrado" uma bola, era uma negação total no baseball, uma atividade que não é completamente desconexa do basquete.
Portanto, eu vou continuar estimulando aqueles meus melhores alunos que estão interessados em promover a liberdade e a economia austríaca em horário integral durante suas vidas profissionais a fazerem justamente isso. Eu espero que um dia esse colega meu vai se convencer do seu erro, e se juntará a mim nesse esforço. Se tem uma coisa sobre a qual sou muito passional, é em passar para a próxima geração a batuta que Murray Rothbard, um tempo atrás, passou para mim e para meus contemporâneos.
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