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Economia

O futuro da indústria - por que a participação da indústria no PIB sempre será declinante

15/09/2014

O futuro da indústria - por que a participação da indústria no PIB sempre será declinante

O gráfico abaixo mostra a participação da indústria no PIB dos países mais ricos do mundo.  A linha azul mostra a participação da indústria japonesa no PIB japonês; a laranja, a dos EUA; a verde, a da Finlândia; a vermelha, a da Alemanha; a preta, a da Holanda; e a vermelha grossa, a média mundial.  E aqui a do Brasil.

Como se pode ver, o percentual de contribuição da indústria à produção econômica total vem declinando continuamente ao longo dos últimos 40 anos.  Se o gráfico mostrasse mais 40 anos anteriores, o mesmo tipo de declínio seria perceptível.

Trata-se de um fenômeno mundial.  Trata-se de um fenômeno irreversível. 

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http://www.uschamberfoundation.org/blog/post/manufacturing-s-declining-share-gdp-global-phenomenon-and-it-s-something-celebrate/34261

Há pessoas, majoritariamente economistas de cunho intervencionista e desenvolvimentista, que reclamam desta tendência em seus respectivos países.  Seja nos EUA, seja na Europa, seja num país latino-americano, eles acreditam que uma economia robusta e rica só é possível se houver uma indústria cada vez maior.  Ato contínuo, eles exigem que seus governos adotem políticas de protecionismo e de incentivo à indústria (as quais simplesmente não têm como funcionar).

Isso apenas mostra o quão ignorante eles são em relação a essa tendência mundial.  Eles não entendem que o crescimento econômico sempre gera um declínio na porcentagem da participação da indústria na economia nacional.

O cerne da riqueza moderna

O cerne da riqueza não é o setor industrial; o cerne da riqueza é o conhecimento.  Mais especificamente, o conhecimento que é aplicado com o intuito de reduzir o percentual total da indústria na economia e de aumentar a riqueza das massas por meio dos serviços.  Esses serviços podem ser digitais ou podem ser pessoais.  Mas não são baseados na manufatura.

Um amigo meu sempre utilizava essa frase: "Venda elétrons, e não átomos".  É uma excelente frase.  Não venda pedaços de coisas; venda ideias, venda eficiência, venda entretenimento e, acima de tudo, venda qualquer coisa que permita reduzir os custos das matérias-primas, o custo do capital, e o custo da produção.  Corte custos, corte preços, enriqueça.

É por isso que a indústria será, cada vez mais, equipada por máquinas totalmente controladas por programas computacionais.  Utilizar mão-de-obra humana para fazer esforços repetitivos e puramente mecânicos é um completo desperdício de recurso e de dinheiro.  O uso de máquinas e de inteligência artificial permite que a humanidade seja libertada do fardo do trabalho maçante e exaustivo.  É incrível que economistas, em pleno século XXI, ainda condenem as máquinas e desejem que seres humanos façam um serviço totalmente mecânico, tedioso e, em relação às máquinas, bem menos produtivo.

Ao longo de séculos -- aliás, ao longo de milênios --, os pais sempre se esforçaram para colocar seus filhos dentro de alguma guilda ou para arranjar para eles alguma sinecura, de modo que eles nunca mais teriam de fazer trabalho físico extenuante.  Ironicamente, o que praticamente todos os pais querem para seus filhos é exatamente aquilo que o livre mercado já vem propiciando ao redor do mundo.  Ainda assim, há pessoas que reclamam do declínio percentual da participação da indústria na economia.  Esse declínio tem sido uma das maiores bênçãos do mundo moderno, mas ainda há pessoas que honestamente acreditam que a economia de seu país está ruim simplesmente porque a porcentagem da economia que é ocupada pela indústria está em constante declínio.

Por algum motivo insondável, aquilo que indivíduos querem para seus filhos é exatamente aquilo que eles lamentam estar acontecendo na economia.  Uma pessoa que quer que seu filho nunca tenha de fazer um trabalho manual pesado, mas que em seguida reclama do declínio no número de empregos que exigem trabalho manual pesado, é alguém que sofre de dissonância cognitiva.

Ao redor do mundo, as nações industrializadas terceirizaram sua base manufatureira de duas maneiras: ou transferiram suas indústrias pesadas para países estrangeiros extremamente pobres ou adotaram programas computacionais que não reclamam de fazer trabalho pesado (e o fazem com extrema eficiência).  Os trabalhos passaram a ser efetuados com uma qualidade ímpar tanto por pessoas pobres em países estrangeiros quanto por robôs que estão se tornando cada vez mais eficientes em decorrência da adoção de melhores técnicas de produção e de melhores programações computacionais.

Em absolutamente todas as etapas desse processo sempre surgiram luditas reclamando da substituição de mão-de-obra humana por máquinas.  O termo "sabotagem" vem de "sabot", que é sapato em francês.  Operários que estavam perdendo seus empregos para as máquinas lhes atiravam sapatos com o intuito de danificá-las.  Uma perfeita ilustração do uso da coerção contra empreendedores e contra os proprietários dos meios de produção.

Ao longo dos últimos 200 anos, em todos os estágios em que as máquinas substituíram a mão-de-obra humana, houve um extraordinário aumento na produção e na produtividade, bem como um igualmente extraordinário aumento na riqueza per capita.  Nosso mundo é completamente diferente do mundo de 1800, e o motivo para isso está no fato de que, antes, os trabalhadores eram munidos de poucos e ineficazes bens de capital, ao passo que hoje eles estão munidos de uma quantidade crescente de bens de capital de qualidade.  Os trabalhadores de hoje têm a sua disposição uma maquinário de muito melhor qualidade.  Os maquinários estão cada vez mais eficazes e eficientes, o que faz com sejam necessários cada vez menos pessoa para executar uma determinada função com a mesma qualidade.  Esses trabalhadores substituídos por máquinas de maior qualidade vão buscar emprego em novas áreas do setor de serviços.

Essa tem sido a história da transformação do mundo em um lugar melhor ao longo dos últimos 200 anos.  Por que, após tudo isso, as pessoas repentinamente passaram a ficar preocupadas com o fato de que máquinas e programas computacionais irão continuar substituindo trabalhadores em várias áreas?  Isso é exatamente o que já vem acontecendo há dois séculos.  Por que repentinamente querem parar com tudo isso?

A curva econômica exponencial

O que é diferente hoje é isso: o processo de crescimento está se tornando exponencial.  Logo, a questão agora é essa: os arranjos sociais que prevaleceram pelos últimos 200 anos podem continuar prevalecendo pelos próximos 200 anos?  Em outras palavras, podem as instituições sociais que foram forçadas a mudar e a se adaptar ao longo dos últimos dois séculos sobreviver à transição a um mundo completamente distinto durante os próximos dois séculos?

A velocidade das mudanças econômicas está se acelerando, algo que sempre ocorre quando você lida com os últimos estágios de uma curva exponencial.  A lei de Moore e a lei de Metcalfe se combinaram para transformar o mundo nesses últimos 40 anos.  E não há nenhum sinal de reversão.  Ao contrário, as mudanças estão se acelerando.  Estamos vivenciando na prática a teoria das mudanças aceleradas.  A lei de Moore nos diz que o número de circuitos em um chip duplica a cada ano, ou -- na pior das hipóteses -- a cada 18 meses.  A principal consequência é o declínio nos custos da informação digital.  Já a lei de Metcalfe explica como o valor da informação é crescente à medida que aumenta o número de participantes em um sistema de comunicações.  Pense em "máquina de Fax".  Agora pense em "Facebook".

Não é que esse processo de crescimento acelerado seja novo.  Ele já vem ocorrendo ao longo de dois séculos.  O que é novo é que já entramos na fase do crescimento exponencial.  Isso irá gerar profundas alterações em todas as relações sócio-econômicas.  Como as tradições não se alteram facilmente, haverá várias vítimas.  Empresas que não se mantiverem atualizadas com as inovações tecnológicas desaparecerão rapidamente.  O mesmo pode ser dito sobre a monstruosa burocracia que impera nos governos dos países ocidentais.  A questão é o que irá substituí-la.

Conclusão

Para mim, não há dúvidas de que o setor industrial, como o conhecemos, será radicalmente transformado pela popularização das impressoras 3-D.  Simplesmente não há como mudar essa realidade; não há como reverter essa tendência.  Ela irá se acelerar e gerar uma maciça descentralização.  Haverá uma era de enorme criatividade no campo da manufatura, a qual ocorrerá em uma velocidade jamais vista.  Isso será resultado da descentralização, da informatização, e da popularização das impressoras 3-D.

Existe apenas um arranjo social que saberá como lidar com isso: o livre mercado.  Ele se baseia nos sinais emitidos pelo sistema de preços livres, o qual é o único capaz de coordenar esforços produtivos.  O mecanismo de lucros e prejuízos, por sua vez, é o único que sabe como compilar e direcionar eficientemente as melhores informações disponíveis.  Nenhum comitê governamental e nenhum aparato de planejamento central poderão competir com as perspectivas de lucros possibilitadas pela disseminação da informação descentralizada.

Sempre estamos à procura de alguém que faça algo por nós.  Se uma máquina é capaz de substituir o trabalho humano, então ela deve substituir o trabalho humano.  O trabalho humano não deve ser desperdiçado em tarefas repetitivas que podem ser feitas por uma máquina de maneira igualmente eficaz e menos dispendiosa.  Se algo pode ser feito por uma máquina, por que imobilizar algo tão versátil quanto o trabalho humano?  O trabalho humano é o mais versátil de todos.  Há inúmeras coisas que as pessoas podem aprender a fazer.  Já uma máquina pode fazer bem apenas uma coisa; ela não pode fazer outra coisa fora daquilo para a qual projetada.  Seres humanos não são como máquinas.  Eles podem fazer muitas coisas.

Se você trabalha no setor industrial, então você deve aspirar a uma posição que esteja entre uma máquina especializada e a resolução de um problema imediato.  Existem todos os tipos de problemas imagináveis e inimagináveis nos processos de produção, o que significa que uma máquina não irá solucioná-los.  Qualquer tipo de problema tem de ser resolvido pela mente humana, e por um ser humano equipado com uma ferramenta capaz de resolver o problema.  É a criatividade humana, em conjunto com o uso de ferramentas, que é essencial para garantir a produção de uma máquina.  Aspire a uma posição em que você tenha constantemente de utilizar sua mente.

O segredo para se ter uma alta renda não é possuir uma capacidade de efetuar tarefas repetitivas.  O segredo é ter uma mente criativa.  O segredo está na mente criativa que é capaz de aplicar princípios gerais a casos específicos, e então encontrar ferramentas especializadas com as quais implantar seu plano.

Se a sua ocupação requer que você apenas efetue coisas repetitivas, coisas que não requerem muito raciocínio, então seria bom você ficar esperto e começar a procurar algum setor que possua algum conjunto de problemas que alguém com suas habilidades possa resolver.  É a capacidade de saber resolver problemas, e não a implantação de soluções mecânicas, que gera uma renda alta.  É assim que trabalhadores se tornam líderes e patrões.

Se você tem uma profissão manual que se resume a fazer processos repetitivos, é bom ir adquirindo outras habilidades. Se você pensa que poderá concorrer com uma máquina para fazer processos repetitivos, é bom repensar seu futuro.  Em processos repetitivos, a máquina sempre irá vencer.  Em algum momento surgirá uma máquina que fará o trabalho melhor do que você.  E isso é ótimo para toda a humanidade.  Adam Smith já havia observado que as habilidades mecânicas e repetitivas que são necessárias em uma divisão do trabalho não são boas para os homens.

Qualquer indivíduo que queira trabalhar no setor industrial estará entrando em um setor cujos trabalhadores que possuírem grandes habilidades serão cada vez mais bem pagos, porém estarão constantemente pressionados a se manterem atualizados com as inovações tecnológicas.  Quem não conseguir manter esse ritmo será eliminado pela concorrência.


Sobre o autor

Gary North

é Ph.D. em história, ex-membro adjunto do Mises Institute, e autor de vários livros sobre economia, ética, história e cristianismo. Visite http://www.garynorth.com

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