O mundo está superpovoado? Não. E isso será ruim para o futuro
Certo?
Errado.
O mundo não está de modo algum superpovoado. Ao redor do globo, há enormes espaços de terra totalmente desabitados. Canadá, Austrália, África, Rússia, EUA e Brasil possuem uma inacreditável quantidade de espaços abertos e não-povoados. [No Brasil, apenas 0,2% do território está ocupado por cidades e infraestrutura]. Com efeito, toda a população do planeta caberia confortavelmente no estado americano do Texas. [E se toda ela fosse para o estado do Amazonas, a densidade populacional seria equivalente à da cidade de Curitiba].
Sendo assim, por que tantas pessoas ainda acreditam tão piamente nesse mito do superpovoamento? A razão é simples: a maioria delas -- especialmente aquelas que têm tempo e predisposição para reclamar do excesso de pessoas -- vive em áreas de alta densidade populacional, as quais não são uma amostra nada representativa da real situação do mundo.
Essas áreas de alta densidade populacional são chamadas de 'cidades', e o motivo pelo qual as pessoas vivem em cidades -- não obstante suas constantes lamúrias -- é que há enormes benefícios gerados quando um grande número de pessoas convive em proximidade.
É muito conveniente viver em um local repleto de pessoas simplesmente porque cada uma dessas pessoas tem o potencial de ofertar vários bens e serviços para você. Quanto mais pessoas à sua volta, maior a oferta de pessoas dispostas a fazer coisas como lavar e passar suas roupas, consertar seus sapatos, consertar seu carro, cozinhar suas refeições, oferecer variadas opções de entretenimento, curar uma eventual doença, e, talvez ainda mais importante, oferecer a você um emprego que remunera bem.
Tente viver isolado do mundo, no meio do mato, e você descobrirá quão "simples" é se alimentar, subsistir e sobreviver a problemas de saúde. A divisão do trabalho significa que, quanto mais pessoas houver por perto, mais fácil será satisfazermos nossos desejos e necessidades. Igualmente, maior será a nossa comodidade para resolvermos certos problemas. Daí as cidades superpovoadas.
Esse mito de que o mundo está superpovoado -- em conjunto com a errônea conclusão de que isso está gerando problemas -- fez com que várias pessoas celebrassem a notícia de que a taxa de natalidade está caindo em todo o mundo, mais acentuadamente nos países mais ricos.
Em 2012, os casais nas cinco maiores economias do mundo -- EUA, Japão, Alemanha, França e Reino Unido -- tiveram 350 mil filhos a menos do que em 2008, uma queda de quase 5%. A ONU prevê que as mulheres desses países terão uma média de 1,7 filhos ao longo de suas vidas. Demógrafos dizem que a taxa de fecundidade tem de ser de pelo menos 2,1 apenas para compensar as mortes e, com isso, manter a população constante.
A expectativa de que essa redução da natalidade irá gerar mais conforto e mais ar respirável para o resto do mundo ignora completamente os impactos econômicos decorrentes de um declínio populacional. Isso tem a ver com uma compreensão incompleta sobre a ação humana.
Aqueles que se preocupam com uma superpopulação tendem a ver os seres humanos como nada mais do que meros consumidores de recursos. A lógica é simples: os recursos são finitos; os seres humanos consomem recursos. Logo, menos seres humanos significa mais recursos disponíveis. Esse é o cerne de todas as ideias contrárias à expansão populacional.
Porém, embora as premissas desse silogismo sejam verdadeiras, elas são calamitosamente incompletas, fazendo com que a conclusão seja igualmente (e perigosamente) incorreta.
Em primeiro lugar, os seres humanos não são apenas consumidores. Cada consumidor é também um produtor. Por exemplo, eu só consigo almoçar (consumir) porque produzi (trabalhei) e alguém me remunerou por isso. E foi justamente essa nossa contínua produção o que aprimorou sobremaneira o nosso padrão de vida desde o nosso surgimento até a época atual. Todos os luxos que usufruímos, todas as grandes invenções que melhoraram nossas vidas, todas as modernas conveniências que nos atendem, e todos os tipos de lazer que nos fazem relaxar foram produzidas por uma mente humana.
Logo, a conclusão óbvia é que, quando mais mentes existirem, mais inovações surgirão para melhorar nossas vidas. Uma simples reductio ad absudum revela a óbvia verdade de que a cura para o câncer tem mais chances de ser descoberta em uma sociedade com um bilhão de pessoas do que em uma com apenas um punhado de indivíduos.
Ainda mais importante é o fato de que essas inovações resultam em uma multiplicação de recursos, de modo que o silogismo sofre uma importante alteração: os recursos são finitos; os seres humanos consomem recursos; os seres humanos produzem recursos; logo, se os seres humanos produzirem mais recursos do que consomem, um aumento populacional será benéfico para a nossa espécie.
Que nós produzimos mais do que consumimos é um fato autoevidente: basta olharmos para o padrão de vida que usufruímos hoje e compará-lo àquele que tínhamos há 50, 100 ou 1.000 anos. À medida que a população aumentou, aumentou também a nossa prosperidade, e a redução no sofrimento humano foi impressionante.
Tendo tudo isso em mente, a conclusão é que a acentuada queda nas taxas de natalidade é algo alarmante. Ironicamente, o primeiro arranjo a ser atingido será justamente aquele que é tão caro às esquerdas que defendem o controle populacional: a seguridade social. E isso não é nem uma questão ideológica ou econômica, mas sim puramente matemática: uma população crescente tem um número suficiente de pessoas trabalhando para sustentar os idosos. Já uma população declinante simplesmente não terá mão-de-obra jovem para pagar a aposentadoria desses idosos. Uma coisa é você ter 10 pessoas trabalhando para pagar a Previdência de um aposentado; outra coisa é você ter apenas 2 pessoas trabalhando para pagar a Previdência desse mesmo aposentado. Alguém terá de ceder.
Nos países onde há uma generosa rede de seguridade social, um encolhimento na população significa que uma fatia cada vez maior dos recursos será consumida pelos idosos, uma vez que as gerações mais jovens estarão em número insuficiente para compensar essa diferença. A consequência inevitável é que, à medida que a força de trabalho vai declinando, toda a produção vai junto. Se a força de trabalho encolhe, máquinas e equipamentos deixam de receber manutenção, começam a se deteriorar e caem em desuso. Fábricas são abandonadas. Empreendimentos imobiliários não são vendidos e os imóveis ficam desocupados.
Tudo isso resulta em menos crescimento econômico, menos criação de riqueza, e menos prosperidade para todos. Até mesmo os keynesianos, que são obcecados com a tal "demanda agregada", deveriam entender esse conceito. Menos pessoas significa menos atividade econômica.
A celebração de que a população está crescendo menos advém majoritariamente do movimento ambientalista, cujo sentimento anti-humano é frequentemente explícito. No entanto, até mesmo naqueles círculos menos cáusticos o preconceito contra a humanidade já se espalhou. Hoje, é algo generalizado e que praticamente já adentrou a consciência popular. Entre as esquerdas, tal sentimento é predominante; há um instinto de que as pessoas são naturalmente ruins.
Essa postura só é defensável se você for do tipo que anseia por um retorno à época da varíola, da inanição, da água contaminada, e do perigo iminente de ser devorado por predadores famintos. Se, por outro lado, você não vê essas coisas como parte de uma existência idílica e natural, você deveria parar de propagar alguns mitos e ter mais consideração pelos seres humanos.
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Autores:
Walter Williams, professor honorário de economia da George Mason University e autor de sete livros. Suas colunas semanais são publicadas em mais de 140 jornais americanos.
Logan Albright, escritor e economista, é diretor do Capital Policy Analytics, analista do Freedom Works, e integrante do Ludwig von Mises Canadá.
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