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Economia

Janet Yellen é ainda pior do que Bernanke

14/10/2013

Janet Yellen é ainda pior do que Bernanke

A notícia de que Janet Yellen foi indicada para se tornar a próxima presidente do Banco Central americano foi recebida com grande júbilo pelos mercados financeiros e pela imprensa especializada.  Wall Street entendeu a indicação de Yellen como um claro sinal de que a atual política de afrouxamento monetário irá continuar ainda por um bom tempo.  Como resultado, o índice Dow Jones subiu durante todos os dias após a nomeação. 

Compare isso com toda a preocupação palpável quando o nome de Larry Summers ainda estava sendo cotado.  Comentaristas de todo o mundo se preocupavam com a hipótese de que Summers seria excessivamente cauteloso, excessivamente linha-dura em relação à inflação, e excessivamente ligado aos interesses dos grandes bancos.  A realidade, no entanto, é que não haveria absolutamente nenhuma diferença entre a política monetária de Yellen e a de Summers. 

O fato é que, não importa quem esteja no topo, a condução da política monetária será a mesma: criação de dinheiro em larga escala para socorrer os grandes bancos.  Pode até ser que, sob Yellen, ocorram algumas diferenças na abordagem de detalhes específicos, mas qualquer alteração na política monetária será apenas em estilo, e não em substância.

Yellen, assim como Bernanke, Summers e todos os outros que estão dentro da órbita do Fed, acreditam na economia keynesiana.  Para economistas da linhagem de Yellen, a solução para a recessão é estimular o consumo dos indivíduos por meio da criação de dinheiro.  As seguidas declarações de Yellen comprovam que ela, em termos de política monetária, é uma moderada -- ou, no jargão político, uma "pomba".  Ela é bem mais moderada do que Bernanke.  Wall Street não precisa se preocupar com a hipótese de o Fed reduzir seu maciço programa de afrouxamento quantitativo -- Quantitative Easing, QE -- sob o reinado de Yellen.  O atual QE 3 continuará sob sua liderança.  No mínimo, a expansão anual de um trilhão de dólares irá é aumentar.

O que é óbvio para a maioria das pessoas que não fazem parte do sistema é que as políticas monetárias expansionistas do Fed foram a causa da atual crise financeira.  Assim como a Grande Depressão, a estagflação da década de 1970, e todas as outras recessões do século passado, a atual crise financeira foi causada pela expansão do crédito possibilitada pela criação de dinheiro feita pelo Federal Reserve, medida essa que gera expansões econômicas artificiais seguidas de fortes recessões.

Em vez de permitir que os investimentos ruins e o endividamento excessivo causados por esta criação de dinheiro sejam liquidados, o Fed tenta continuamente reestimulá-los.  Ele injeta cada vez mais dinheiro no sistema bancário, estimulando ainda mais endividamentos e investimentos insustentáveis.  Yellen manterá essa postura, e pode acabar se revelando um Bernanke com esteróides.

Para Yellen, os ciclos econômicos são eventos aleatórios e imprevisíveis, que ocorrem simplesmente porque a economia é assim.  A possibilidade de que o próprio Banco Central seja o responsável pelos ciclos econômicos jamais foi por ela vocalizada.  Tampouco tal pensamento já cruzou as mentes das centenas de economistas empregados pelo Fed.  Sob Yellen, eles continuarão pensando da mesma maneira que vêm pensando há décadas, interpretando dados econômicos e desempenhos de mercado através da mesma distorcida lente keynesiana, e advogando as mesmas políticas insensatas.

Um mês atrás, a mídia especializada falava apenas em um assunto: a redução dos estímulos monetários do Fed.  Todos davam como certo que o Fed iria começar a reduzir a expansão da base monetária, atualmente em US$1 trilhão por ano.  Como essa mudança de postura não se concretizou -- o que pegou os comentaristas da mídia completamente desprevenidos --, ninguém mais voltou a tocar no assunto.  O foco agora está na elevação do teto da dívida.

E os keynesianos que dominam a mídia estão agora prevendo uma redução no crescimento econômico americano por causa da temporária redução nos gastos federais, em decorrência do provisório "fechamento" do governo americano.  Esta redução no crescimento econômico certamente irá justificar a posição de Yellen: mais afrouxamento quantitativo (QE).

Os democratas no Senado irão aprovar sua nomeação.  Provavelmente alguns republicanos farão algumas perguntas mais duras, mas isso não dará em nada.  Sua nomeação está garantida.  Yellen sempre foi a preferida dos investidores financeiros.  Eles querem continuidade, e continuidade significa US$1 trilhão por ano em dinheiro digital criado do nada para subsidiar o governo federal.

Chegará o dia em que uma redução desta expansão será necessária para reverter os efeitos de uma inevitável inflação de preços.  Mas este dia não está no horizonte imediato.  A economia americana está estagnada.  O desemprego está alto.  O Fed está dando suporte a um colossal déficit orçamentário do governo federal.  Ele está comprando títulos da dívida do Tesouro a taxas de juros quase nulas, que é exatamente o que o governo quer.

O fato de que o anúncio oficial da indicação de Yellen foi recebido com regozijo por Wall Street indica o grau de dependência dos grandes bancos em relação ao QE 3.  Os subsídios irão continuar para que os indicadores do mercado financeiro não caiam.  Todos estão viciados no subsídio trilionário do Fed.

Isso mostra o quão doloroso para os investidores será qualquer retorno a uma política monetária estável.  É por isso que toda e qualquer conversa sobre a retirada dos estímulos monetários foi abandonada.  A ideia de uma redução nos estímulos, em conjunto com uma não-elevação do teto da dívida, apavora os keynesianos, que querem mais gastos, mais endividamento e mais inflação monetária.  O viciado quer a sua dose.  Yellen será a rainha dos traficantes.

No entanto, o QE não pode durar para sempre.  Ele terá de acabar algum dia.  E, quando isso ocorrer, a economia americana terá de lidar com os prospectos de uma elevação nas taxas de juros, um endividamento insustentável e uma montanha de recursos investidos erroneamente.  Não bastasse tudo isso, haverá um Fed com vários trilhões de dólares em títulos inúteis em sua carteira.

O futuro da economia americana com Yellen no comando do Fed é sinistro, e isso é apenas mais um motivo para se acabar com todo este sistema de planejamento econômico centralizado por meio de uma abolição total do Fed.  Embora retirar o esparadrapo seja uma medida dolorosa no curto prazo, todos estarão em melhor situação no longo prazo.  Em todo caso, grande parte desta dor será absorvida por políticos, pelos grandes bancos e por todos os grupos de interesse que se beneficiam do atual arranjo.  A abolição deste atual sistema corporativista e a adoção de uma moeda sólida em conjunto com um livre mercado é a única maneira de retornarmos à prosperidade econômica e termos uma vibrante classe média.


Sobre o autor

Ron Paul

Ron Paul é médico e ex-congressista republicano do Texas. Foi candidato à presidência dos Estados Unidos em 1988 pelo Partido Libertário e candidato à nomeação para as eleições presidenciais de 2008 e 2012 pelo Partido Republicado.

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