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Economia

O resumo da encrenca

07/10/2008

O resumo da encrenca

Depois que o obsceno pacote de $850 bilhões foi aprovado, as bolsas em todo o mundo só despencaram. O resgate, ao que tudo indica, não logrou fazer aquilo que todos (exceto os economistas austríacos) falaram que ele iria fazer: a crise financeira já chegou à Europa e o crédito segue contraído.

Os estados podem lutar contra outros estados e contra oponentes políticos e vencer, mas há um inimigo invencível que os estados nunca serão capazes de superar: o sistema de preços.

Nenhum governo é capaz de impedir a deflação nos preços dos ativos e as conseqüentes quebras de empresas e bancos que não estão bem preparados. As quantias em jogo são muito altas e nenhum estado tem como tomar medidas financeiras que acabem com as falências e insolvências. Se tentar fazê-lo, como está fazendo agora, o resultado será hiperinflação e um conseguinte controle de preços e de capitais. Apenas na semana passada, a base monetária cresceu $75 bilhões, o que dá um aumento de 8,5% - em uma semana!

Duas forças opostas estão em funcionamento: a implacável deflação nos preços dos ativos e as tíbias tentativas do governo americano de reinflá-los novamente. Os esforços do governo não conseguirão fazer com que todos os agentes econômicos parem de querer se proteger das conseqüências de futuras quebras. Se o governo continuar inflacionando, ele vai apenas incentivar os agentes a se proteger ainda mais das conseqüências dessa política. Logo, o governo vai recorrer a medidas cada vez mais fortes. Por isso, o caminho que o governo resolveu seguir - que é o de dar sustento a instituições insolventes e dar sustento aos credores dessas instituições - é o caminho certo para uma depressão prolongada recheada de elementos inflacionários.

No final, a continuar nesse caminho, os governos se verão forçados a controlar toda a economia. E isso em escala mundial. A deflação dos preços dos ativos irá vencer. Uma grande depressão será inevitável. As ações ainda podem cair muito mais em tal cenário. E isso tudo pode ser acompanhado por uma inflação de preços em várias outras áreas. A um grande grau de estagflação é para onde o governo está conduzindo a economia. Ou já podemos cunhar um novo termo: depflação - mistura de depressão com inflação.

Uma enorme criação de dinheiro não é a solução para um ciclo de expansão e contração que foi gerado justamente por uma enorme criação de dinheiro em escala global. Uma hiperinflação pode destruir uma civilização. Mas esse é o caminho que os aterrorizados bancos centrais escolheram. Mas dessa vez, não se preocupe, você não precisará levar um carrinho de mão lotado de papel-moeda ao supermercado. Você poderá usar seu cartão de débito.


Mas será que os mercados de crédito não vão entrar em colapso?

Alguns observadores admitiriam a legitimidade da análise acima. "Entretanto", eles podem contestar, "o plano Paulson [o secretário do Tesouro americano], ou o que quer que seja, de utilizar $850 bilhões é necessário para prevenir um total colapso do sistema financeiro. Não se está tentando estimular o investimento agregado; apenas se está tentando desobstruir um encanamento entupido, isto é, fazer o crédito voltar a circular".

Esse papo de colapso no sistema financeiro é um espantalho. Steve Landsburg, da revista The Atlantic, demoliu esse mito de maneira tão peculiar que eu simplesmente vou transcrevê-lo:

"E então, o que há de tão especial com os bancos [para merecerem esse socorro]? De acordo com o que ando lendo, a resposta-padrão é que, sem bancos, ninguém pode conseguir empréstimos, e assim a economia paralisa.

"Bem, vamos conversar sobre isso. Bancos não emprestam seu próprio dinheiro; eles emprestam o dinheiro dos outros (tanto de seus depositantes quanto de seus acionistas). Se os bancos desaparecerem, isso não significa que os emprestadores também irão. Pessoas que querem tomar empréstimos ainda continuarão atrás de empréstimos e emprestadores ainda continuarão querendo emprestar. A única questão é se esses dois pólos serão capazes de se encontrar.

"...[C]omo qualquer usuário do match.com ou do Kiva.org pode lhe atestar, a tecnologia para se encontrar parceiros melhorou bastante desde 1930. Se uma empresa quiser levantar capital, por que ela não pode simplesmente vender títulos pela internet? Ou emitir novas ações? Ou consultar alguns hedge funds que estão nadando em dinheiro? Ou pegar emprestado no exterior?

"... Não estou muito convencido de que esses grandes bancos de Wall Street são realmente necessários, e também não estou convencido de que sentiríamos muito sua falta se eles se fossem. Talvez eu não esteja a par de alguma coisa; se for isso, acho que é o dever dos senhores Bernanke, Paulson e, principalmente, Bush explicarem o que realmente se passa."

 

Como Murray Rothbard certa vez disse:

"Empresários e produtores podem tanto ser genuinamente pró-livre mercado como podem ser estatistas; eles podem prosperar através do livre-mercado ou através de privilégios e favores especiais concedidos pelo governo. Eles escolhem de acordo com suas preferências e valores individuais. Mas os banqueiros.... esses têm uma inerente predileção pelo estatismo."

 

Sobre o autor

Michael Rozeff

Foi professor de Finanças na Universidade de Buffalo. Hoje está aposentado e mora em East Amherst, New York.

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