Mudança climática e a escolha pela vida
A recente disciplina de climatologia é interessante. Não possui laboratório. Em vez disso, vários números são postos em modelos no computador para averiguar até que ponto eles são consistentes com a hipótese de que a atividade humana contribuiu para a tendência do aquecimento global. Incapazes de conduzir experimentos, tudo que os climatólogos podem fazer é examinar correlações estatísticas.
No meu campo da economia, geralmente dispensamos deduções fundadas em meras correlações. Coisas como taxa de juros, inflação, índices de desemprego e crescimento real do PIB são extremamente tendenciosas. Quase necessariamente, elas são intrinsecamente correlacionados durante distintos períodos de tempo. Essa correlação não prova nada com respeito à causa e efeito e a ainda curta história da econometria está repleta de teorias lixo, tal qual a Curva de Phillips, que um dia desfrutou de consenso entre economistas, e que agora é compreendida como nada mais que uma ilusão estatística.
Hoje em dia, o padrão econométrico para o teste de teorias envolve determinar se as mudanças em uma variável tendem a ser seguidas por mudanças em outra variável. Assim, a seqüência de flutuações em variáveis é vista como uma chave para discernir causa e efeito. Esse novo padrão tem logrado êxito em revelar quão complexos são os fenômenos da macroeconomia.
Voltando-se à questão das mudanças climáticas, já está realmente comprovado que a Terra está um tanto mais quente hoje do que há 200 anos. Além desse fato, há pouco consenso. De um lado, há aqueles que argumentam ser a atividade humana um fator significativo para a tendência do aquecimento; e do outro lado, há aqueles que argumentam que a ação humana não contribui significativamente e que a tendência ao aquecimento ocorreu devido a variantes naturais.
Unindo-se ao debate, uma comissão de mudanças climáticas da ONU publicou um gráfico mostrando que a temperatura mundial permaneceu relativamente constante por séculos e então disparou nos últimos duzentos anos. Esse gráfico tem sido descrito como "o bastão de hóquei", com a parte longa aplainada e a parte curta apontando para cima, e como a prova fundamental que a atividade humana é a causa da recente tendência de aquecimento.
De fato, a história da temperatura global representada pelo bastão de hóquei é contraditória devido a uma variedade de informações. Por exemplo, o bastão de hóquei não representa a intercalada "pequena era glacial" do século XIII ao XVII. Devo ressaltar que, até poucos séculos atrás, nós não tínhamos medidas de temperatura confiáveis e diretas e hoje temos de confiar em deduções de temperatura de coisas como a espessura dos anéis de árvores e leituras feitas a partir da crosta de gelo polar. O bastão de hóquei alega que a "pequena era glacial" foi simplesmente uma variação climática local e não parte de mudanças na temperatura global.
Recentemente, uma reconsideração da história climática global utilizando-se de uma vasta gama de leituras mundo afora restaurou a antiga visão de variação natural antes do século XIX. O novo gráfico inclui, entre outras coisas, a pequena era glacial e tende a apoiar que a variação natural explica mudanças no clima. Entretanto, a atividade humana pode ainda representar importante papel no clima, complementando, ou até mesmo suavizando a variação natural.
A teoria que liga ação humana à mudança climática envolve o chamado efeito estufa assim como gases como o gás carbônico e metano. Segundo essa teoria, quanto mais desses gases for encontrado na atmosfera, mais energia solar será capturada; resultando em aquecimento global e mudança climática.
Realmente, há uma próxima correlação entre gás carbônico na atmosfera e a temperatura; tanto durante o relativo curto espaço de tempo em que dispomos de medidas diretas dos dois, quanto durante o muito mais longo período em que podemos apenas deduzi-las. Nessa "visão estufa", a correlação entre a temperatura mundial e a quantidade de gás carbônico na atmosfera é explicada tendo o gás carbônico como causa e a temperatura global como efeito. Logo, caso queiramos ou deter ou até reverter a tendência ao aquecimento global, deveríamos reduzir as emissões de gás carbônico, metano e outros gases estufa - seja através de nós ou da natureza - ou subtrair alguns desses gases da atmosfera.
A visão oposta da correlação entre temperatura global e a quantidade de gás carbônico na atmosfera é que a variação natural da temperatura global é a causa e a quantidade de gás carbônico na atmosfera é o efeito. Nessa visão contrária, a variação natural no aquecimento global afeta a taxa em que o gás carbônico se dissolve nos oceanos do mundo.
Uma vez que ninguém defende que o homem teve algo a ver com as mudanças climáticas datadas de antes de 200 anos atrás, é útil considerar possíveis relações de causa e efeito antes de 1800. Na visão estufa (gás carbônico como causa), seria o seguinte cenário (dentre outros): a atividade vulcânica emitiria periodicamente mais gás carbônico para a atmosfera do que poderia ser absorvido rapidamente pelos oceanos do mundo e de outras formas, o que implicaria aquecimento global por meio do efeito estufa e seria seguido, finalmente, por um período de esfriamento global enquanto os oceanos gradualmente absorveriam o excesso de gás carbônico na atmosfera.
Na visão em que o gás carbônico é efeito do aquecimento global, não a causa, seria o seguinte cenário (dentre outros): as variações na atividade solar, talvez manifestadas na atividade de suas manchas, afetariam a temperatura da Terra. Assim, quando o sol irradiasse mais energia, a Terra ficaria mais quente, os oceanos estariam menos aptos a absorver gás carbônico e haveria mais desse gás na atmosfera. Reciprocamente, quando o sol irradiasse menos energia, a Terra ficaria mais fria, os oceanos estariam mais aptos a absorver gás carbônico e haveria menos desse gás na atmosfera.
Conseqüentemente, duas plausíveis (e, de certa forma, opostas) hipóteses são capazes de explanar a correlação entre temperatura global e a quantidade de gás carbônico na atmosfera. Numa dessas, gás carbônico na atmosfera é causa do aquecimento global; noutra, aquecimento global é a causa de gás carbônico na atmosfera.
A visão em que a atividade solar é a causa de mudanças climáticas foi na verdade uma das primeiras teorias matemáticas dos ciclos econômicos. Durante o fim do século XIX, o economista William Stanley Jevons propôs a chamada Teoria da Mancha Solar dos Ciclos Econômicos. Ele alegou que variações na atividade solar, evidenciadas em suas manchas, afetavam a produtividade da agricultura. Seu único dado para essa hipótese era que as atividades das manchas solares têm um ciclo de onze anos e os ciclos econômicos aparentavam, para Jevons, também constar de onze anos. Para desventura da teoria de Jevons, não há regularidade simples para os ciclos econômicos.
Jevons, que passou para a economia a partir da matemática e das ciências físicas, estava repleto de idéias meias-verdades que combinavam coisas que os cientistas "sabiam" com economia. Em 1863, ele previu que haveria uma grave queda no valor do ouro. O que se seguiu foi uma grave queda no valor da prata. Em 1865, ele disse que o carvão da Inglaterra iria acabar. No entanto, hoje temos mais anos de reservas comprovadas de carvão do que tínhamos em sua época (ou seja, novas descobertas de fontes energéticas e progressos na eficiência do uso de energia ultrapassaram o consumo). Os escritos alarmistas de Jevons sobre o carvão lhe renderam muitos seguidores, uma vez que sempre foi óbvio para muitas pessoas que nossos recursos naturais estavam se esgotando.
Jevons insistiu na sedução de combinar reconhecimento de padrões e suposições acerca de relacionamentos causais juntamente com o pessimismo fatalista. As mentes de animais avançados são maravilhosamente capazes de deduzir padrões a partir de dados, de inserir nos dados o que está faltando e de projetar fora dos dados. Isso permite membros do reino animal ordenar a massa de dados encontrada por nossos sentidos, quando, e.g., um sapo captura uma mosca ao atirar sua língua para fora da boca ao ver movimento em sua área alvo.
A mente humana, além disso, dispõe de argumentos racionais para explicar os padrões vistos por ela
Assim, muito antes do moderno fantasma do aquecimento global, Mises escreveu:
"Algumas filosofias ... encaram a vida como um mal absoluto cheio de dor, sofrimento e angústia e peremptoriamente negam que qualquer esforço humano proposital possa faze-la tolerável. Felicidade pode ser alcançada apenas pela completa extinção da consciência, do querer e da vida. O único caminho para glória e salvação é tornar-se perfeitamente passivo, indiferente e inerte como as plantas."
Uma coisa é estar preocupado com o possível impacto da soma de muitas e pequenas ações humanas no clima do planeta em que nos encontramos, pois isso é inteiramente consistente com a escolha por viver. Outra coisa bem diversa é presumir que estamos todos condenados a não ser que, o que quer que seja que estejamos fazendo, paremos de fazê-lo agora mesmo.
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Traduzido por Natan Cerqueira
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