A escola austríaca e um tal Renatão
Um gentil leitor, que simpaticamente utiliza a alcunha de Renatão, mandou-me um e-mail pessoal com uma pergunta aparentemente provocativa. Respondi-lhe. Como Renatão não me retornou, creio que ele deve ter ficado satisfeito com a resposta que lhe dei.
Com a devida vênia do amigo (embora ele não ma tenha concedido), reproduzo aqui a nossa renatônica troca de informações.
RENATÃO:
Gostaria de saber dos senhores em qual lugar do globo essa tal de economia austríaca já foi aplicada com êxito, acabando com a pobreza. Gostaria de saber onde essa teoria iluminada já deu certo. Saudações e boa sorte.
MINHA RESPOSTA:
Prezado Renatão, obrigado pela pergunta e pelo genuíno interesse.
O termo economia austríaca é apenas o nome popular de uma escola de pensamento caracterizada pela sua resoluta defesa da propriedade privada dos meios de produção e do respeito aos direitos individuais, principalmente aos direitos de propriedade, os quais são inegociáveis.
Nenhuma outra escola de pensamento econômico faz uma defesa inflexível desses dois pilares da civilização.
Consequentemente, se analisarmos os países que mais perto chegaram do respeito a esses princípios, teremos a seguinte lista:
No continente americano: Canadá, EUA e, mais recentemente, Chile.
Na Europa: Reino Unido, Holanda, Bélgica, Alemanha, Suíça, França, Áustria, Dinamarca, Suécia, Noruega, Finlândia, além daqueles países do Leste Europeu que vêm se esforçando, como República Tcheca, Eslováquia, Polônia e Estônia.
Na África: nenhum.
Na Ásia: Japão, Hong Kong, Cingapura e, mais recentemente, Coreia do Sul e Taiwan.
Na Oceania: Austrália e Nova Zelândia.
Em todos estes países, cada um à sua época, houve uma substancial aplicação dos princípios de livre mercado defendidos pela Escola Austríaca. Como consequência, as pessoas se tornaram poupadoras, o que permitiu uma grande produção de bens de capital, os quais, por sua vez, possibilitaram um forte progresso científico e tecnológico.
Todo esse progresso foi resultado do vasto poder gerado pela divisão do trabalho, que nada mais é do que a cooperação e a coordenação espontânea do comportamento de milhões de pessoas. Tal nível de coordenação pode existir apenas em economias de mercado pouco (ou, de preferência, nada) regulamentado.
Em um livre mercado, as pessoas não apenas podem, como também são estimuladas a se especializar nas áreas em que possuem maiores conhecimentos e habilidades. Essa especialização ocorre exatamente pelo fato de que fazer isso é socialmente valorizado, no sentido de que aqueles que bem servem aos seus consumidores são recompensados com base no valor que seus consumidores dão aos seus produtos.
Desta forma, se as mudanças tecnológicas empreendidas se revelarem inúteis ou de pouca valia, então seus empreendedores irão fracassar no mercado. Já aqueles que souberem antecipar os desejos dos consumidores, satisfazendo suas demandas e necessidades com eficiência, tomarão o lugar daqueles que fracassaram. E foi esse processo de mercado que permeou todos esses países durante sua caminhada para o enriquecimento.
Esse arranjo permitiu que a produtividade da mão-de-obra aumentasse rapidamente, resultando em maiores ofertas de comida, vestuário e habitação per capita, bem como melhores ofertas de serviço de saneamento e higiene.
Como resultado, a mortalidade infantil diminuiu radicalmente, a expectativa de vida aumentou, o cidadão médio pôde se dar ao luxo de trabalhar menos horas por semana e o trabalho infantil foi progressivamente eliminado. Ademais, pela primeira vez na história da humanidade, o cidadão comum passou a ter acesso a livros, música, arte e educação.
Não fosse esse tremendo progresso havido, por exemplo, nos países europeus no início e em meados do século XX, eles não teriam hoje como manter suas vastas redes de proteção social das quais tanto se orgulham.
Por favor, caso ainda tenha mais alguma dúvida, não hesite em nos contatar novamente.
Abraços,
Leandro
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