segunda-feira, 1 fev 2010
Nota
do IMB: o artigo a seguir faz parte do concurso de artigos promovidos pelo
Instituto Mises Brasil (leia mais aqui). As
opiniões contidas nele não necessariamente representam as visões do Instituto e
são de inteira responsabilidade de seu autor.
Há várias críticas fortes contra a ajuda internacional a
países de terceiro mundo, como a de que grande parte do dinheiro é absorvida
pela corrupção enquanto que apenas uma pequena parte chega até as pessoas
necessitadas; e que, além disso, esse dinheiro vai parar em mãos de ditadores
que o usam para perpetuar seus regimes decadentes que já teriam acabado há
muito tempo, piorando ainda mais a situação do povo. E, é claro, há também aquela pequena questão
de que um governo de um país rico não tem direito de forçar os seus habitantes
a doar dinheiro para países pobres, ameaçando de prisão os rebeldes.
Esses são argumentos fortes usados pelos críticos da ajuda
internacional, sendo um deles o famoso investidor, Jim Rogers. Porém ele comete um erro grave. De seu livro, "Adventure Capitalist", tiramos
os seguintes trechos:
"Roupas de todos os tipos são doadas pelos Estados Unidos aos
pobres da África, mas quando elas chegam lá, são vendidas como um produto
comercial. Não só elas enriquecem os
empresários envolvidos nesse tráfico, como também desempregam os alfaiates
locais. Eles não conseguem competir, nem
as pessoas que tecem ou plantam algodão. Na África você costumava ver alfaiates em todo
lugar, você os via no lado das ruas com suas máquinas de costura; porém, agora,
você raramente os vê. Como eles poderiam competir com um produto que o
empresário consegue virtualmente de graça?"
"Claro que se nós deixássemos os alfaiates na África
permanecerem em seus negócios, se nós os ajudássemos a se tornarem produtivos e
auto-suficientes, poderíamos estar importando os produtos que eles produzem. Mas é melhor dar a eles camisas e acabar com
seu emprego, para então darmos mais camisas, do que ameaçar o emprego de um
trabalhador na Carolina do Norte, que está doando as suas camisas usadas para a
igreja [a qual doa as camisas para países africanos] e acabando com o emprego
dos alfaiates africanos".
Escondido nesses trechos está a falácia clássica de que
importar produtos estrangeiros baratos é ruim para a economia. Ela diz que se um país for mais produtivo em
tudo do que o outro, o país menos produtivo será altamente prejudicado se
comercializar com o país mais produtivo e terá todas as suas indústrias
destruídas. O erro nesse argumento é
respondido pela lei da associação, que diz que cada participante se
especializará naquilo em que ele é mais comparativamente mais eficiente.
Por exemplo, usando um cenário simplista, se um país "A"
consegue produzir 50 unidades de X ou 100 unidades de Y, enquanto que um país
"B" consegue produzir 40 unidades de X ou 10 unidades de Y, teremos que o país
"A" se especializará em produzir Y e o país B se especializará em produzir X, e
ambos se beneficiarão mais comercializando entre si do que se eles tentassem
produzir sozinhos tudo o que precisam.
Considerando que as doações não sejam interceptadas por
ditadores, que as usariam para oprimir ainda mais o povo, e que elas não sejam
forçadas pelo governo, elas são benéficas para quem as recebe e para a sua
economia, e são benéficas para os doadores que ganham com a satisfação pessoal
de ter feito a doação.
Com as doações, os beneficiados gastam muito menos em
vestimenta e têm mais dinheiro para gastar em outros itens, aumentando a
demanda por essas outras mercadorias que poderão agora ser produzidas, por
exemplo, pelos alfaiates que não precisam mais trabalhar com roupas.
Jim Rogers acerta em muitas outras críticas feitas contra as
ajudas internacionais, mas não nessa.