Logo após a aprovação na Câmara dos Deputados, o dólar caiu para R$ 3,71, exatamente como o previsto.
Mas aí, por infortúnio, logo em seguida veio uma série de fatores que desalinharam tudo:
1) O Banco Central começou a reduzir a SELIC com muito mais intensidade que o previsto. A previsão inicial era de que, ao fim de julho, ele reduziria 0,25 ponto percentual e que o Fed reduziria 0,50 ponto percentual; só que aconteceu exatamente o inverso; e o BACEN prometeu levar a SELIC para 4,50%, algo totalmente impensável em julho. Começa uma fuga do real.
2) No dia seguinte, recomeçou a guerra comercial entre os governos de EUA e China, o que gerou tensão e nova fuga para o dólar
3) No mesmo fim de semana, houve o "surpreendente" resultado das eleições na Argentina. Nova fuga.
4) Em uma semana, o dólar saltou de R$ 3,75 para R$ 4,05
5) Como já estava claro que o BC nada faria para proteger o real, todo mundo fez o que era racional: abandonou a moeda e foi para o dólar. Óbvio: a partir do momento em que a própria autoridade monetária, a suposta "guardiã da moeda", deixa explícito que não está interessada em protegê-la, então o mais lógico a se fazer é sair correndo dela. E foi o que todo mundo fez.
6) Ao final de agosto, o dólar bateu em R$ 4,18, e aí, finalmente, o BC viu que a coisa estava começando a ficar perigosamente fora de controle, e fez um leilão supresa.
7) Tal medida foi extremamente efetiva para impor um teto ao dólar. Do fim de agosto até meados de novembro, o dólar nunca superou os R$ 4,18. Especulador ficou com medo de comprar dólar a este valor e o BC fazer um leilão surpresa, o que o levaria a perder dinheiro.
8) Ao fim de outubro, com a previdência aprovada no Senado, com as coisas mais calmas, e com a perspectiva de uma grande entrada de dólares para o leilão do pré-sal, o dólar caiu para R$ 3,97 (e a tendência era de mais queda).
9) Mas aí o leilão frustrou as expectativas, e os prometidos dólares não vieram. Para piorar, dois dias depois, Lula foi solto. Junte-se a isso a baderna no Chile, na Bolívia, no Equador, e a situação argentina, e temos que a cotação do dólar, em três dias, saltou de R$ 3,97 para R$ 4,18 (observe que o teto ainda era respeitado).
10) Aí, para ferrar tudo de vez, Guedes vem a público e deixa claro que um dólar a R$ 4,30 "não era problema nenhum". O recado foi claro: comprem dólar sem medo. E aí a coisa desandou geral: o dólar encostou em R$ 4,28, e o BC, muito tarde, fez dois leilões-surpresas (mas a um volume muito baixo). Pelo menos um novo teto foi imposto.
11) Nesta última semana, por causa dos bons números do PIB do terceiro trimestre (muito influenciado pelo excelente mês de julho) e por causa de um renovado otimismo externo, o dólar fechou a R$ 4,14. Parece bom, mas as commodities, em dólares, se encareceram bastante, pois a economia americana continua aquecida e agora há uma boa perspectiva quanto ao fim da guerra comercial.
12) Ou seja, as commodities, em reais, mesmo com a queda do dólar, não baratearam muito (veja
aqui) Isso é um problema. O dólar terá de baratear bem mais para que as commodities voltem aos preços de outubro.
Aguardemos.