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Economia

Fim da ilusão: o desastre econômico da Venezuela é reconhecido pelo próprio governo socialista

Seu Banco Central veio a público admitir que a situação é de descalabro - até para os bandidos

06/06/2019

Fim da ilusão: o desastre econômico da Venezuela é reconhecido pelo próprio governo socialista

Seu Banco Central veio a público admitir que a situação é de descalabro - até para os bandidos

Fazia três anos que o Banco Central da Venezuela não publicava nenhuma estatística oficial sobre a evolução da atividade econômica, dos preços e do comércio exterior do país.

Este apagão estatístico, obviamente, não se devia a um exercício de modéstia: não é que o governo socialista não quisesse ofuscar seus países vizinhos com seus resplandecentes resultados. A realidade era exatamente o contrário: o regime tinha necessariamente de esconder a miséria de sua economia, não para seus próprios cidadãos (que sofrem na pele o fragoroso empobrecimento vivenciado pelo país nos últimos anos), mas sim para seus sabujos ideológicos espalhados por todo o planeta, os quais, até então, podiam se escudar até o momento na falta de dados oficiais para opinar sobre a calamidade que vive este falido experimento socialista.

Por mais inacreditável que possa parecer, ainda há pessoas que dizem que a situação da Venezuela é uma ficção inventada pela mídia. (Confira três exemplos constrangedores aqui, aqui e aqui).

No entanto, e felizmente, este apagão informacional chegou ao fim. E não por uma boa fé do regime chavista -- o qual, sem dúvida, teria preferido continuar ocultando a desastrosa realidade de seu feudo bolivariano, como vinha fazendo nos últimos três anos --, mas sim por pressões do FMI, que exigiu que o regime voltasse a publicar estatísticas básicas da contabilidade nacional sob pena de perder seus direitos de voto dentro do organismo.

Foi necessário, portanto, pressão internacional sobre o regime venezuelano para que ele aceitasse publicar alguns dados que já existiam, mas que eram ocultados pelos chavistas por pura vergonha.

O Banco Central da Venezuela finalmente divulgou os dados econômicos do país.

Colapso total

E o que nos dizem esses dados? Que o desmoronamento da economia venezuelana é absoluto.

No terceiro trimestre de 2018, o PIB era 52% menor que o do terceiro trimestre de 2013.

pib-de-venezuela.jpg

Gráfico 1: PIB trimestral da Venezuela (primeiro trimestre de 2013 = 100)

A moeda, o bolívar, perdeu simplesmente 99,96% do seu valor durante este mesmo período.

valor-del-bolivar.jpg

Gráfico 2: Evolução do valor do bolívar (2012=100)

As exportações e importações desabaram 70%.

relaciones-comerciales-de-venezuela.jpg

Gráfico 3: Relações comerciais da Venezuela (em milhões de dólares)

Além disso, ainda segundo o próprio Banco Central venezuelano, neste mesmo período, o setor da construção civil caiu 95%; o setor industrial, 76%; e as instituições financeiras, 79%.

E, por fim, a taxa de inflação de preços de 2018 ficou em 130.060% (cento e trinta mil por cento).

E, vale ressaltar, estas são estatísticas do próprio governo socialista, sem nenhuma auditoria. Não é desarrazoado imaginar que os números reais sejam muito piores.

Ou seja, em apenas cinco anos, a economia venezuelana vivenciou um dos maiores colapsos econômicos da história (desastres comparáveis a este são encontrados apenas em economias em guerra): os venezuelanos produzem as metades dos bens e serviços que produziam em 2013, sua moeda simplesmente deixou de existir, não há mais obras no país, indústrias e bancos foram dizimados, e suas relações comerciais com o resto do planeta se tornaram quase inexistentes.

Vale lembrar, ademais, que o colapso econômico da Venezuela é muito anterior às sanções impostas pelo governo americano. Até meados de 2017, não havia nenhuma sanção econômica contra a Venezuela. Havia, isso sim, sanções pessoais contra alguns membros da alta hierarquia do governo venezuelano (sanções essas que envolviam congelamento de ativos e proibição de entrada nos EUA). Sanções deste tipo só podem afetar apenas os indivíduos almejados. Não há como elas terem um efeito sobre toda a economia venezuelana.

Foi somente em agosto de 2017 que o governo americano implantou uma medida que pode ser razoavelmente considerada uma sanção econômica: cidadãos americanos foram proibidos de comprar de títulos do Tesouro venezuelano, bem como títulos emitidos pela PDVSA, a estatal petrolífera venezuelana. Um ano depois, a proibição foi estendida para outras estatais. E foi só.

Já no final de abril de 2019 -- ou seja, um mês atrás --, o governo americano de fato embargou a compra de petróleo da estatal petrolífera PDVSA pelos americanos.

Será interessante alguém explicar que o colapso econômico vivenciado entre 2013 e 2018 foi causado por uma sanção imposta em abril de 2019.

Mas, incrivelmente, há quem o faça.

Causas e consequências

Obviamente, o colapso econômico da Venezuela se deve inteiramente à política econômica desenvolvida pelo socialismo bolivariano.

E no que consistiu essa nefasta política econômica do socialismo bolivariano?

Primeiro, entre 2004 e 2008, desenvolveu-se uma economia baseada na monocultura do petróleo, com o governo utilizando as receitas desta indústria estatal para criar uma extensa rede assistencialista com o intuito de tornar os cidadãos dependentes do poder político.

Em seguida, a partir de 2009, quando estas receitas entraram em colapso (tanto por causa da péssima e corrupta gestão da estatal PDVSA quanto pela queda global do preço do petróleo), optou-se por manter este arranjo clientelista por meio do endividamento público.

Quando apenas o endividamento não mais funcionava, isso já em 2013, o governo passou a imprimir dinheiro livremente para bancar estes gastos. Tal medida empurrou o país para a hiperinflação.

Sob uma hiperinflação, o governo impôs controles de preços que desestruturaram por completo o resquício de economia privada que ainda existia no país.

Quando esses controles de preços provocaram desabastecimentos generalizados, o governo estatizou as indústrias privadas e colocou os militares para cuidar da distribuição de alimentos, que passaram a ser intensamente racionados.

Sob hiperinflação, preços controlados e indústrias estatizadas, aboliu-se por completo qualquer perspectiva de investimento privado dentro do país.

Para culminar, o país que detém as maiores reservas de petróleo do mundo vive hoje um racionamento de gasolina: os motoristas só podem comprar 30 litros de combustível por semana, e de acordo com o número das placas dos veículos.

O total colapso da economia provocou, por sua vez, o colapso do estado, que se tornou incapaz de garantir o mínimo de ordem pública. A taxa de homicídios do país disparou de 73 assassinatos por 100.000 pessoas em 2012 para 91,8 assassinatos por 100.000 pessoas em 2016. Ao mesmo tempo em que enfrenta manifestações civis -- nas quais os manifestantes são assassinados pelo estado --, o governo também recorre aos colectivos, que são as infames unidades paramilitares pró-governo que assassinam pessoas consideradas inimigas do regime. 

Ao menos um alívio

Mas nem tudo é terrível. Há pelo menos um pequeno alívio cômico. A situação econômica ficou tão ruim, que até mesmo os criminosos estão tendo problemas.

O preço de uma munição no mercado negro é de 1 dólar. Um carregador de pistola tem capacidade para 15 munições. Ou seja, são necessários 15 dólares para um bandido ter uma pistola totalmente carregada. Mas o salário médio no país é de 6,50 dólares (menos da metade de um salário médio cubano, que é de 22 dólares).

Como as vítimas de assalto simplesmente não têm dinheiro ou objetos de valor para serem roubados, não há como os bandidos conseguirem dinheiro para comprar munições. E sem munições, torna-se arriscado assaltar. Como lamentou um bandido, "disparar uma bala agora virou atividade de luxo no país."

Por isso, os assaltos no país estão em queda. Os bandidos estão sem dinheiro para comprar munições porque não há pessoas com dinheiro para serem assaltadas.

Consequentemente, os bandidos estão saindo do país.

Para concluir

Sem uma ditadura explícita, a manutenção da ordem pública sob o socialismo é impossível.

Quando o socialismo não consegue estabelecer uma ordem castrista -- uma ditadura ao estilo cubano ou norte-coreano -- sobre a economia, ele provoca uma total decomposição da sociedade.

Este foi exatamente o resultado de décadas de chavismo na Venezuela.


Sobre o autor

Juan Ramón Rallo

É diretor do Instituto Juan de Mariana e professor associado de economia aplicada na Universidad Rey Juan Carlos, em Madri.

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