quarta-feira, 22 nov 2017
Há aquela famosa estória
apócrifa de um engenheiro que, em visita à China, deparou-se com uma enorme
equipe de operários construindo uma barragem com pás e enxadas.
Quando o engenheiro disse
ao supervisor da obra que todo o trabalho poderia ser completado em poucos dias
— em vez de em vários meses — caso os trabalhadores utilizassem escavadeiras
motorizadas, o supervisor disse que não podia fazer isso, pois tal equipamento
iria destruir vários empregos.
"Ah", respondeu o
engenheiro, "pensei que você estava interessado em construir uma barragem. Se o
seu objetivo é apenas criar empregos, então por que você não coloca seus homens
para trabalhar com colheres em vez de enxadas?".
O "empreguismo" parece ser a principal política
dos governos
As políticas governamentais
e até mesmo a popularidade de um governo costumam ser avaliadas em termos de
quantos empregos foram criados.
Quantas vezes escutamos
políticos dizerem que irão fazer de tudo para "criar empregos"? Ou, mais ainda,
com que constância eles dizem que farão de tudo para "proteger os empregos do
povo"?
Ato contínuo, várias
medidas intervencionistas passam a ser defendidas com a justificativa de que irão
"criar empregos". Restringir importações é visto como uma maneira de proteger e
criar empregos domésticos. Subsídios e créditos tributários são frequentemente
justificados como uma maneira de aumentar empregos no setor favorecido. Empréstimos
baratos feitos por bancos estatais são defendidos por estimularem "o consumo e a
criação de empregos". Até mesmo o inchaço do funcionalismo público é visto como
uma maneira válida de criar empregos.
Presidentes apontam com
orgulho o número de empregos criados na economia durante seus mandatos. Supostamente,
quanto mais empregos criados, mais bem-sucedida foi a administração. Ao que parece,
nunca houve um programa de gastos governamentais cujos defensores não tenham ressaltado
que ele "criou empregos".
Em princípio, não há nada
de errado com a criação de empregos. Trabalhar em um emprego é uma maneira
importante por meio da qual as pessoas criam riqueza. Assim, a ênfase na criação
de empregos é compreensível.
O problema é que as
pessoas se esquecem de que ter um emprego não é um fim, mas apenas um meio. O que
realmente queremos é criar mais riqueza, e empregos são apenas um meio para
este fim.
Quando este fato elementar
é esquecido, torna-se mais fácil ludibriar as pessoas com argumentos que elevam
a criação de empregos a um fim em si mesmo. E o que é pior: esses argumentos
frequentemente são utilizados para defender políticas que destroem a riqueza.
Criar empregos não é o problema
Qual é objetivo de
qualquer atividade produtiva? Produzir a maior quantidade de valor possível utilizando
os recursos escassos (inclusive o esforço humano) disponíveis.
Não importa o quanto
tentemos revogar a escassez, ela nunca será abolida. Vivemos em um mundo de
escassez. Nada é infinito. Dado que nenhum bem ou serviço é encontrado pronto
do nada — todos eles precisam ser criados e trabalhados —, a escassez para
sempre irá nos impedir de conseguir as coisas que desejamos. Por isso, sempre haverá
trabalho a ser feito. Sempre haverá uma demanda a ser saciada.
Logo, criar empregos não é
o problema. Esse é o ponto da estória do engenheiro na China. O problema é
criar empregos nos quais as pessoas produzam o máximo de valor.
Se o objetivo de uma
economia fosse apenas empregar a maior quantidade possível de pessoas, então a
receita seria muito simples: bastaria o governo decretar a destruição de todas
as máquinas do país e fechar completamente as fronteiras para as importações.
Por exemplo, se o governo
banir os tratores e todos os modernos equipamentos agrícolas amanhã, ele
criaria milhões de novos empregos no campo. Se o governo banir as máquinas e
outros avançados processos automatizados de produção industrial, ele criaria milhões
de novos empregos na indústria. Se o governo proibir todas as importações, ele
criaria milhões de empregos na indústria, no campo e no setor de transportes. Se
o governo banir ferramentas mecânicas e equipamentos modernos para a construção
civil, outros milhares de empregos seriam criados.
Podemos ir além e abolir o
uso de caminhões, trens, aviões e automóveis. Toda a carga teria de ser
transportada no lombo de cada indivíduo. O número de empregos criados iria
superar com ampla margem o número de empregos perdidos na indústria de transportes.
Não há dúvidas de que tamanha
regressão compulsória na tecnologia geraria um grande número de postos de
trabalho. Não é nenhum exagero dizer que, neste cenário, a taxa de desemprego
seria zero. Consequentemente, desocupação é algo que não mais ocorreria com a
população deste país. Todo e qualquer indivíduo estaria completamente atarefado
tendo de produzir e transportar absolutamente todos os bens de consumo
necessários para continuar vivendo. O "fantasma do desemprego" nunca mais
assombraria esta população.
Sensacional, não?
Mas fica a pergunta: essa
criação de empregos por acaso deixou a população mais rica? Aumentou seu bem-estar? Melhorou
seu padrão de vida?
Criar valor é o segredo
É por isso que se
concentrar apenas no número de empregos criados e ignorar o valor que está
sendo criado por esses empregos é uma prática deletéria para a economia. Pode perfeitamente
ser o caso de estes empregos estarem destruindo riqueza (como é o caso de
vários cargos no serviço público).
Eis a verdade
politicamente incorreta: todo o progresso econômico resulta do aumento da
produtividade. Isso significa que o progresso econômico ocorre quando nos
tornamos capazes de ofertar os mesmos — ou melhores — bens e serviços com menos trabalhadores.
Ao usar menos
trabalhadores para produzir a mesma quantidade de bens e serviços, estes
trabalhadores dispensados são liberados para aumentar a produção em outros
setores econômicos, tendo agora novos empregos mais produtivos.
A incapacidade de
compreender este fato como sendo a fonte de crescente prosperidade explica a
enorme simpatia de políticos e pessoas comuns por políticas públicas
destrutivas.
Na prática, ao recorrerem
à justificativa da "criação de empregos", políticos frequentemente implantam legislações
que aumentam o esforço e o custo necessários para se produzir a mesma
quantidade de bens e serviços.
Por exemplo, um dos
argumentos para se restringir as importações é que isso irá criar (ou proteger)
empregos domésticos. Pode até ser verdade — embora os estudos indiquem
que não —, mas a realidade incontornável é que uma restrição nas importações
irá encarecer a obtenção de produtos de maior valor (afinal, este é exatamente
seu objetivo). O único motivo de um país importar produtos é que esta é a
maneira mais barata de adquiri-los. São necessários menos trabalhadores para
obter os produtos importados do que para produzi-los diretamente. Desta maneira,
o livre comércio funciona como um avanço tecnológico, libertando os
trabalhadores de empregos improdutivos e permitindo que eles aumentem a produção
de bens e serviços naquelas áreas cuja demanda dos consumidores ainda não está
saciada.
Por isso, restrições às importações
criam empregos da mesma maneira que dinamitar ferrovias, explodir fábricas e
exigir que trabalhadores usem enxadas em vez de escavadeiras motorizadas também
criam empregos: com grande destruição de valor, riqueza e bem-estar.
De novo: o segredo do
progresso não está na criação de empregos, mas sim na criação de valor. O segredo é criar riqueza, isto é, produzir bens
e serviços de valor para os consumidores.
A destruição natural de empregos é algo
positivo
Um dos grandes erros das
políticas públicas que visam à criação de empregos é que elas não reconhecem
que a competitividade e o progresso requerem uma maciça destruição de empregos
A perda de empregos,
quando ocorre naturalmente, deveria ser tratada como uma medida de grande
sucesso, e não de fracasso de uma economia. Quando a indústria, a agricultura e
os serviços aumentam acentuadamente sua produtividade e passam a ser capazes de
produzir cada vez mais com menos trabalhadores, tamanha eficiência deve ser
comemorada, e não lamentada.
Nenhuma economia rica se
desenvolveu "protegendo empregos", pois a destruição de empregos representa o
próprio sinal do progresso.
Se a ideia de "proteger
empregos" houvesse prosperado lá atrás, não haveria nem carros (que acabaram
com empregos na indústria de carroças), nem tratores (que acabaram com empregos
manuais na agricultura), nem computadores (que não só acabaram com empregos na
indústria de máquinas de escrever, como provavelmente destruíram mais empregos
do que qualquer outra inovação tecnológica na história da humanidade), nem luz
elétrica (que acabou com empregos na indústria de velas), nem smartphones (que
a acabou com a indústria de telefones fixos e de celulares obsoletos) nem
praticamente nada de moderno que existe hoje.
Por isso, automações e
mecanizações maciças que tendem a tornar obsoletos determinados postos de
trabalho não devem ser condenadas, mas sim abraçadas. Elas representam aumento
da eficiência e redução dos custos de produção.
Ter um canteiro de obras
repleto de peões que fazem o mesmo serviço que apenas um homem com uma máquina
seria capaz de fazer não é um exemplo de economia pujante ou rica, mas sim de
desperdício de recursos. A taxa de desemprego seria baixa, mas essa
economia não estará criando riqueza de forma eficiente.
Conclusão
Economias ricas são aquelas
cujos empregos produzem, utilizando o menor esforço possível, os bens e serviços
que os consumidores desejam. Logo, de certa maneira, o objetivo nacional
adequado seria ter o menor número possível de empregos — isto é, utilizar a
menor quantidade de trabalho e esforço possíveis para produzir a maior
quantidade de produtos.
É um erro tratar empregos
como um benefício quando, não verdade, empregos são um custo de produção. Por
isso, uma economia rica não é aquela que cria empregos como uma finalidade em si mesmos, mas sim
aquela que cria empregos que geram valor. Criar empregos como um fim em si
mesmo não agrega valor à economia. O objetivo não deve ser meramente criar empregos,
mas sim criar empregos produtivos.
E os únicos indivíduos capazes
de criar empregos produtivos são os empreendedores atuando em um arranjo de
livre mercado, guiados pelo sistema de preços, buscando lucros e evitando prejuízos,
e sempre tentando antecipar as demandas dos consumidores.
Quando empresas são
bem-sucedidas em criar valor — isto é, satisfazem as demandas dos
consumidores, que voluntariamente decidem adquirir os bens e serviços
produzidos por essas empresas —, elas auferem lucros. Com lucros, elas podem
investir mais para produzir mais. Haver cada vez mais empresas auferindo mais
lucros e fazendo mais investimentos para expandir sua produção gera uma maior
quantidade de bens e serviços a preços mais acessíveis. O benefício para o
consumidor é direto. E, como efeito colateral, haverá um aumento genuíno da
demanda por mão-de-obra. Quanto mais as empresas auferem lucros, investem,
crescem e se expandem, mais mão-de-obra elas demandam e maiores salários elas
podem pagar.
Essa é a dinâmica de uma criação de empregos natural
e saudável.
Sendo assim, para estimular essa criação de
empregos, a única coisa que o governo deve fazer é não atrapalhar: não
tributar, não regular, não burocratizar, e não encarecer artificialmente a
contratação da mão-de-obra. Acima de tudo, não implantar políticas públicas que
visem à "criação de empregos".