segunda-feira, 12 jun 2017
Você trabalha em uma empresa e repentinamente é
demitido. De primeira, você fica aborrecido. Em vários casos, fica até mesmo
revoltado. Mas como você deveria agir?
O ideal seria que você apenas seguisse em frente,
com a cabeça erguida, procurando um novo emprego e uma forma de continuar
subindo na vida. Você olharia para trás e diria: "Quer saber? Essa demissão
foi, na realidade, uma coisa boa".
Possível? Totalmente.
A verdade é que ser demitido é uma das melhores
coisas que pode acontecer a você, desde que você saiba enxergar tudo da maneira
certa. Não há por que considerar o evento como o fim do mundo. Pode ser o
início de coisas verdadeiramente positivas.
Sim, tudo isso soa como um surrado clichê, mas realmente é verdade. Ser
demitido é algo que não apenas irá inspirar você a alcançar novos graus de
excelência, como também pode lhe ensinar lições importantes sobre os malefícios
de se tornar excessivamente apegado a uma empresa ou mesmo a um roteiro único e
pré-definido para a sua carreira.
Eis uma rápida história envolvendo um indivíduo que
eu demiti. Após avisá-lo de sua demissão, ele se revoltou e se comportou muito
mal, como algumas pessoas tendem a fazer. Isso é compreensível. Só que ele tinha talento. Isso
era perceptível. Ele simplesmente não havia conseguido se adaptar ao emprego,
principalmente porque aquele era o primeiro emprego de verdade que ele havia
conseguido.
Alguns meses depois, recebi um telefonema de uma
pessoa interessada em contratá-lo. Fui franco e sincero: sim, eu o havia
demitido, mas com motivos. "Entretanto", prossegui, "imagino que isso tenha
servido como um grande sinal de alerta para ele. Ele tem talento, e, como
consequência, você terá agora um empregado dedicado e disposto a realmente
trabalhar, e bem mais motivado. Eu fiz a parte difícil. Você colherá os benefícios."
Em resposta aos meus comentários, essa empresa o
contratou. E, como eu já imaginava, esse indivíduo se tornou extremamente bem
sucedido neste novo emprego. Ter sido demitido foi ótimo par ele. Do meu ponto
de vista, foi essencial. Hoje, ele pode olhar para trás e dizer: foi uma ótima
experiência.
O
trabalho assalariado é uma via de mão dupla
O segredo para se entender tudo isso é analisar a
natureza de um contrato de trabalho. Trata-se de um acordo baseado na
expectativa de uma cooperação mútua, a qual melhora a situação tanto do
empregador quanto do empregado. Caso não houvesse escassez no mundo, o
empregador iria preferir não contratar ninguém e fazer tudo sozinho. Isso não
apenas lhe pouparia recursos, como também, em todo caso, a maioria dos
empregadores imagina poder fazer um trabalho melhor do que qualquer pessoa que
venham a contratar. Eles apenas contratam porque sabem que não podem fazer tudo
sozinhos.
A própria existência de empresas que empregam mais
pessoas do que o número de proprietários é um fenômeno oriundo da necessidade
de se dividir o trabalho. A teoria da divisão do trabalho e das vantagens
comparativas mostra que, mesmo que o patrão seja o melhor contador, faxineiro,
comerciante, desenvolvedor de página de website e especialista em marketing em
todo o mundo, ele estará em melhor situação caso se especialize em apenas uma
área, e entregue as outras tarefas para outras pessoas, mesmo que estas pessoas
não sejam tão boas quanto ele nestas tarefas.
Cada empregador, portanto, considera cada decisão de
contratação uma combinação entre temor ("não quero desperdiçar dinheiro!") e
alívio ("finalmente poderei me concentrar em algo aqui!").
O empregado não está fazendo nenhum favor ao seu
patrão ao meramente trabalhar ali. Já o patrão não deve ser visto como um
generoso distribuidor de fundos, muito menos alguém sob uma obrigação moral de
fazer redistribuição de renda. O empregado está ali porque a natureza do mundo
e a escassez de tempo e recursos o tornam necessário.
Para que todo este arranjo funcione bem e
pacificamente, é necessário haver benefícios mútuos. Sempre.
A separação é fácil
Quando este benefício mútuo deixa de existir, passa
a ser do interesse de ambos os lados desfazer a relação. O empregado, que
deixou de ser útil para aquele patrão, estará livre para ir à procura de
melhores e mais agradáveis oportunidades. Já o patrão poderá parar de pagar a
esse empregado, que estava lhe oferecendo serviços que ele não mais acredita
serem benéficos para a empresa.
Ser demitido significa apenas que o empregador tomou
a iniciativa de parar de continuar financiando a relação. É claro que um dos
lados ou ambos os lados podem estar errados, mas toda e qualquer decisão humana
é especulativa; só agimos tendo por base as informações que temos (as quais são
imperfeitas). Mas a verdadeira questão é: por que você continuaria em um jantar
no qual você não é bem-vindo? Por que você continuaria em uma casa na qual não
é querido? O mesmo é válido para um contrato de trabalho. Se você não é querido
ali, você deve pedir para sair e, de imediato, se considerar em melhor situação
por causa disso. Sem processos trabalhistas, sem reclamações, sem fofocas, sem
rancor, sem amargura, sem atos de vingança. Apenas uma separação limpa e
amigável.
A razão por que você foi demitido importa? Não muito. O próprio empregador nem sempre sabe o
motivo. Ele
apenas sabe que, do ponto de vista dele, a relação não mais está funcionando. E
ele está em seu perfeito direito de terminá-la.
De novo: por que você iria querer continuar
trabalhando para alguém que não mais lhe quer?
Por
que eu fui demitido
Agora, deixe-me lhe contar sobre a vez em que eu fui
demitido.
Eu trabalhava em uma loja que vendia ternos feitos
sob medida. Fui considerado pela gerência o melhor vendedor da loja. Mas eu
raramente me encontrava pessoalmente com meu empregador.
Durante uma temporada de natal, o patrão disse a
todos os vendedores que, dali em diante, todos os pedidos de alteração nas
medidas das roupas só poderiam ser prometidos para três semanas após a data da
venda (quem fazia o trabalho de alfaiate era o próprio patrão).
Considerei aquele alongamento vergonhoso. Não era
necessário tanto tempo.
Como era de se esperar, menos de uma hora depois, um
cliente adentrou a loja e disse que compraria sete ternos caríssimos, mas com
uma condição: todas as alterações teriam de estar prontas em, no máximo, uma
semana.
Era de se esperar que eu fosse correndo até o padrão
e o avisasse. Ele teria dito que não, tenho certeza.
Logo, eu não fiz isso. Apenas fui adiante e prometi
ao cliente que as roupas estariam prontas em uma semana. Ao fim do expediente
daquele dia, meu patrão descobriu os recibos, ficou enfurecido, jogou todos os
sete ternos em cima de mim e exigiu saber "quem irá fazer as alterações neles?"
E então eu disse: "Eu irei". E imediatamente fui
para a máquina de costura e comecei a trabalhar. Quando eram 9 da noite, eu já
havia terminado todos os ternos. Imediatamente, levei todo o trabalho completo
para o patrão e disse que eu mesmo entregaria os ternos pessoalmente ao cliente
na manhã do dia seguinte.
Meu patrão, então, disse: "Ótimo." E completou: "Quando
você terminar da fazer isso, não mais precisarei dos seus serviços."
Justo ou injusto?
Ele estava certo
ou errado?
De um lado, ele estava errado ao imaginar que me
demitir seria bom para seus negócios. Mas ele estava certo ao não aprovar o
comportamento de um empregado desobediente.
Eis uma dica: se há uma atitude que irá seguramente
fazer de você uma pessoa não mais desejada por um empregador, essa atitude é a
insubordinação.
Mesmo de um ponto de vista puramente comercial, meu
patrão precisava de uma equipe que seguisse suas ordens, fossem elas corretas
ou erradas. Veja bem: esse não era meu estilo, mas era exatamente o estilo
daquela loja. Por que eu me senti no direito de alterar todo o padrão de um
empreendimento no qual eu não havia investido capital nenhum?
Após alguns dias, eu já havia conseguido um novo
emprego. Acabei virando gerente em outra loja de roupas, diretamente
concorrente à do meu antigo padrão. Dali em diante, minha loja superou a dele
em todas as temporadas seguintes.
Ser demitido não significa que todo o seu tempo dedicado
àquela empresa foi desperdiçado. Durante o período em que você trabalhou lá,
tanto você quanto seu empregador se beneficiaram de alguma forma. Uma alteração
nas condições não revoga essa realidade. O empregador ganhou um trabalhador. E
você ganhou uma valiosa experiência — e uma das mais valiosas e necessárias
experiências é o choque de ser demitido.
Em alguns casos, ser demitido é a melhor maneira de
progredir. Todos nós precisamos de estímulos e de aprimoramentos. Vivenciar a
experiência de uma rejeição direta é um pungente lembrete deste fato, e pode nos
fornecer um grande ímpeto a uma mudança.
Além de frustrado, você pode se sentir enraivecido e
até mesmo tomado pelo ódio. Você pode amaldiçoar seu patrão. É provável que
queira processá-lo (esta sempre tende a ser a primeira reação de todo mundo).
No entanto, o que você realmente deve fazer é algo
completamente contra-intuitivo. Respire fundo e diga aquilo que você realmente
não está a fim de dizer. Você tem de agradecer ao seu patrão por ele ter tido
confiança em você e por ter lhe dado a oportunidade de trabalhar lá. E você tem
de dizer isso da forma mais sincera possível. E quando, no futuro, você por
acaso se encontrar com seu ex-patrão em um supermercado ou em algum evento
esportivo, você deve tratá-lo com enorme dignidade, como se ele fosse um velho
amigo, e agradecê-lo novamente por tudo.
Se você fizer isso, pode acontecer de, no futuro —
e, com efeito, isso quase sempre irá acontecer —, esta pessoa estar na posição
de recomendar você para um emprego. A probabilidade de ele lhe recomendar e
dizer coisas positivas a seu respeito será muito maior se você agir assim. Com
efeito, ele poderá ficar tão positivamente impressionado com sua grandeza de
espírito e magnanimidade, que poderá até lhe oferecer seu emprego de volta. E
você pode, muito educadamente, recusar a oferta.
O ponto aqui é que não há absolutamente nada de
produtivo no ressentimento e no ódio. Tais sentimentos não farão de você uma
pessoa melhor e mais produtiva. Odiar seu ex-patrão faz tanto sentido quanto
odiar aquela padaria da qual você costumava comprar leite. Antes, você via aquela transação como benéfica para você.
Hoje, não mais. Grande coisa.
A
maioria dos trabalhadores tem uma dívida
Se isso facilita as coisas, vale relembrar que você quase
que certamente custou mais à empresa do que de fato contribuiu para ela. [N. do
E.: no caso do Brasil, em que um trabalhador custa ao seu
patrão o dobro do seu salário bruto, isso é ainda mais certo.]
Lembro-me de já ter tido como colega de trabalho um
néscio que se recusou a organizar os estoques no fundo da sala. "Com o salário
que ganho não irei fazer isso", dizia ele. E a verdade é que ele ganhava muito
mais do que gerava de valor (a propósito, ele foi demitido na mesma semana em que
fez isso).
Patrões frequentemente pagam salários antecipando uma
determinada produtividade futura do empregado. Ao fazerem isso, esperam estar
fazendo algum tipo de investimento para o futuro. Será somente mais tarde que você,
como empregado, irá se tornar produtivo o bastante para ser valioso para ele. Quando
isso ocorrer, ele irá aumentar seu salário, antecipando uma maior produtividade
futura.
Portanto, de certa maneira, todos estamos em dívida
para com nosso patrão.
A pior coisa que pode acontecer a um país é ter uma população
que parta do princípio que todos os empregos devem ser vitalícios. Na Europa,
isto é já é assim. Em um livre mercado, as pessoas mudariam de empregos sem
nenhum empecilho. Empregadores iriam livremente contratar e demitir, testando aquelas
pessoas mais aptas à vaga de trabalho oferecida. E os empregados fariam
exatamente o mesmo com seus patrões. Desta maneira, a probabilidade de satisfação
seria muito maior, e os locais de trabalho seriam mais alegres e menos
contenciosos. No entanto, não
há livre mercado nesta área.
O
direito de demitir e de sair
Nada é mais absurdo do que tentar restringir o
direito de demitir. Acordos voluntários valem para ambos os lados. O empregado
pode pedir para sair, e o empregador pode demitir. Qualquer outro arranjo, como
um que restringe um dos lados, representa um ato de coerção que diminui o
bem-estar de ambos os lados.
De maneira mais realista, pense em adolescentes e
suas primeiras experiências de trabalho. A maioria será demitida de pelo menos
um emprego — ou de vários — em seus primeiros anos no mercado de trabalho. Ser
demitido nos relembra de nossas obrigações, da natureza contratual do trabalho,
e da necessidade de haver consentimento, acordo e voluntariedade em todas as relações
sociais. O ato de ser demitido ressalta a existência da liberdade de associação,
a qual é a chave para a paz social e o pilar do crescimento econômico. Faça a
sua parte e saiba recebê-la também.
E o que fazer ao ser demitido? Absorva tudo o que você
aprendeu e siga adiante. Seja ainda mais impressionante em seu próximo emprego.
Agindo assim, a probabilidade de você se dar bem será muito maior. E aí você sempre
poderá olhar para trás e dizer com um sorriso no rosto: olha só o que aqueles
caras estão perdendo!
________________________________________________________
Leia também:
Alguns conselhos aos jovens que estão desempregados