segunda-feira, 13 fev 2017
Agora que 2016 já se foi e Barack Obama é coisa do
passado, podemos analisar quanto os gastos do governo federal cresceram sob sua
administração.
E os dados são interessantes: durante seus oito
anos, Obama jamais conseguiu superar os enormes aumentos dos gastos
governamentais ocorridos durante os governos Reagan e George W. Bush. Com efeito,
Obama nem sequer chega perto.
Quando examinamos a trajetória dos gastos federais sob
Obama, descobrimos que estes aumentaram 15,8%, saindo de 3.3 trilhões de dólares
no último ano de Bush (2008) e indo ara 3,8 trilhões no último ano de Obama
(2016).
Utilizando este mesmo método, descobrimos que os
gastos federais aumentaram incríveis 33,3% desde o último ano de Bill Clinton
(2000) até o último ano de Bush (2008).
O primeiro gráfico mostra quanto os gastos federais
cresceram — em termos percentuais e já descontada a inflação de preços —
durante o mandato de cada presidente desde Nixon.

Gráfico
1: aumentos percentuais nos gastos federais, já descontada a inflação de preços,
durante o mandato de cada presidente americano desde Nixon (Fonte: US Office of
Management and Budget, Federal Reserve, ajustado para a inflação utilizando
o CPI para consumidores urbanos)
O democrata Lyndon Johnson — o predecessor de Nixon
e que assumiu a presidência no final de 1963 após o assassinato de John Kennedy
(ficando até o final de 1968) — é disparado o maior gastador desde a Segunda
Guerra Mundial. Ele aumentou o orçamento federal em 40% durante seus 5 anos de
governo — uma façanha impressionante.
Johnson combinou aumentos maciços nos gastos
militares (com a guerra no Vietnã) e nos gastos sociais (com a criação da sua Grande Sociedade). Conjuntamente,
ambas as políticas levaram a uma enorme expansão no tamanho e no escopo do
governo federal.
Logo após o democrata Johnson, os republicanos Gerald
Ford, Ronald Reagan e George W. Bush aparecem como os mais pródigos presidentes
dos EUA, com W. Bush, de certa maneira, copiando a agenda de Johnson, ampliando
tanto os gastos bélicos quanto os sociais — nos EUA, tal política é conhecida
como guns and butter (armas e
manteiga).
Foi George W. Bush, afinal, quem ampliou
estrondosamente o programa Medicare
— programa de responsabilidade da Previdência Social americana que reembolsa
hospitais e médicos por tratamentos fornecidos a indivíduos acima de 65 anos de
idade, e que, sob Bush, passou a subsidiar a compra de remédios —, o qual foi criado exatamente por Johnson.
E foi também W. Bush quem quis ser conhecido como o "presidente
da educação", chegando a mais
do que duplicar os gastos do Ministério da Educação (que os republicanos
haviam jurado abolir), algo que nenhum outro presidente jamais havia feito.
Enquanto isso, os gastos bélicos do governo Bush —
com a invasão do Afeganistão e do Iraque — aumentavam anualmente, e a
um ritmo alucinante.
Ademais, a maior parte desse crescimento nos gastos
ocorreu quando o Partido Republicano controlava tanto o Congresso (Câmara e
Senado) quanto a Casa Branca, de 2001 a 2006. Durante este período de seis
anos, os gastos federais aumentaram 26%.
Já com Obama, no entanto, os gastos federais se
mantiveram relativamente estáveis entre 2009 e 2016. Grande parte daquele
aumento de 15,8% durante os dois mandatos de Obama pode ser atribuída ao grande
salto nos gastos federais que ocorreram no final de 2008 em decorrência da crise financeira.
Vale lembrar que, nos EUA, o ano fiscal de um
presidente só começa 8 meses após a
sua posse. Sendo assim, quando Obama assumiu a presidência em janeiro de 2009,
ele ainda teve de trabalhar com um orçamento aprovado pelo governo Bush e que
vigorou até 30 de setembro de 2009. Portanto, em termos práticos, Obama só
assumiu o controle do orçamento em outubro de 2009.
Isso significa que estes cálculos de certa forma amplificam
os gastos de Obama e atenuam os gastos de Bush. Foi Bush quem implantou os
grandes pacotes de "estímulo" — como o socorro às montadoras americanas —, os
quais foram incluídos no orçamento de 2009, mas que realmente foram criados em
1º de outubro de 2008, ainda antes da eleição de Obama. Por motivos de
simplicidade, todos esses gastos serão atribuídos ao governo Obama, uma vez que
eles aparecem no ano fiscal de 2009. No entanto, mesmo fazendo isso, o
crescimento dos gastos sob Obama, de 15,8%, o coloca em quarto lugar, atrás de
Reagan, W. Bush e Ford.
O gráfico abaixo mostra os gastos federais —
corrigidos pela inflação — para cada ano, com o último ano do mandato de cada
presidente sendo destacado.

Gráfico
2: total anual dos gastos federais, já descontada a inflação de preços, durante
o mandato de cada presidente americano desde 1968 (Fonte: US Office of
Management and Budget, Federal Reserve, ajustado para a inflação utilizando
o CPI para consumidores urbanos)
Só de correr o olho no gráfico é possível notar que há
óbvios períodos de crescimento mais robusto nos gastos federais, especialmente
durante os anos Reagan e George W. Bush. O crescimento tem sido praticamente ininterrupto,
com apenas alguns anos mostrando uma redução ou contenção pontual, como
1986-1987, 1992-1993, 2006-2007. Já
de 2011 a 2014, a redução foi contínua.
Por fim, tambem é possível ver que a taxa de
crescimento média anual dos gastos durante o mandato de Obama também é menor
que a dos governos Reagan e W. Bush, com este último assumindo a liderança com
uma taxa de crescimento médio anual de 3,6%. (Bush, no entanto, está bem abaixo
de Ford, que em seu curto mandato aumentou os gastos a uma taxa média anual de
9%). Embora Obama tenha começado seu mandato com um enorme aumento de 18% em
2009 (implantado por Bush ao final de seu governo), as reduções nos anos
posteriores fizeram com que o aumento percentual médio fosse de apenas 2%.

Gráfico
3: taxa média de crescimento anual nos gastos federais durante o mandato de
cada presidente
Ademais, em termos da dívida, dado que quem faz praticamente todo o orçamento do primeiro ano de um
presidente eleito é o presidente anterior (como explicado acima), temos que o legado Bush inclui a
dívida de 2009. E esta estava
em 12 trilhões ao final de 2009.
Ou
seja, quando Bush assumiu o governo, a dívida era de 6 trilhões. Quando ele
saiu, era de 12 trilhões. Atualmente, ela
está em 20 trilhões.
Em
porcentagem do PIB, Bush elevou a dívida
de 57% para 87%. E Obama, de
87% para 104%. (Reagan elevou de 32,2%
do PIB em 1981 para 52,9% em 1989, o maior aumento percentual de todos).
Se essas tendências — especialmente a dos anos
George W. Bush e Reagan — servirem como indicadores futuros, então todos devem se preparar
para grandes aumentos dos gastos federais durante o governo Trump.
Afinal, Trump não forneceu qualquer indicação de que
irá cortar gastos federais. Durante sua campanha, corte de
gastos nunca figurou em sua plataforma. Com efeito, ele falou apenas em
elevar os gastos, seja para projetos de infraestrutura
ou para novos
programas militares.
Recentemente, Trump anunciou que está planejando
cortar impostos. Mas isso apenas redireciona o fardo dos gastos governamentais
para os pagadores de impostos futuros, que terão de arcar com o aumento da
dívida, e para os detentores de dólares americanos, que terão seu poder de
compra reduzido em decorrência da inflação resultante de maiores déficits orçamentários.
Ademais, e tão importante quanto, os gastos do
governo são, por si sós, um fardo sobre a economia, independentemente do nível dos
impostos. (Ver a explicação
detalhada aqui).
Obviamente, os gastos governamentais não são a única
medida pela qual um presidente deve ser julgado. As regulações estatais sobre
as empresas aumentou incomensuravelmente durante os dois mandatos de Obama, o
que fez com que empregos pagando bons salários deixassem de ser criados,
empresas deixassem de ser abertas, e investimentos deixassem de ser
concretizados. Regulações estatais destroem escolhas, oportunidades e riquezas.
Adicionalmente, os ataques governamentais às liberdades civis — como a guerra às drogas e os
programas de vigilância dos cidadãos americanos —, ambos intensificados pelo
governo Obama têm de ser considerados, bem como as desastrosas políticas externas
de todos esses presidentes, como as guerras e intervenções externas que criaram
a atual horda de refugiados e revigoraram o radicalismo islâmico.
Se o governo Trump de fato for bem-sucedido em fazer
retroceder as regulações governamentais, tornando mais fácil abrir e manter um
negócio nos EUA, bem como ter um emprego e um salário, isso pode vir a ser o
raio de esperança que muitos de seus apoiadores vêem em Trump. É bastante improvável
que ele venha a cortar gastos. E caso ele de fato eleve tarifas de importação e
aumente os déficits do governo, esse raio de esperança dificilmente irá se
concretizar.
Conclusão
Por fim, vale ressaltar essa falácia, tão frequentemente
repetida, de que o Partido Republicano é um partido conservador que defende um
governo pequeno e restrito. Essa mentira é repetida tanto por republicanos —
como auto-engano — quanto por democratas, que ainda parecem acreditar que o
Partido Republicano está comprometido com cortar os programas sociais e deixar
os aposentados sem remédios e pensões.
Ao se analisar o comportamento dos gastos federais,
é fácil notar que o mito de que presidentes republicanos querem governos
restringidos e defendem cortes de gastos e orçamentos equilibrados é apenas
isso: um mito.
Quem ainda acredita que candidatos republicanos representam
reduções nos gastos do governo, equilíbrio fiscal e mais "responsabilidade pessoal"
é alguém que vive em outra dimensão desde a década de 1970. É simplesmente impossível
inferir isso olhando o histórico.
Ao final, a impressão que se tem é a de que
republicanos são apenas democratas desonestos. Os democratas ao menos têm a
hombridade de dizer na cara dos eleitores: odiamos a liberdade e o livre
mercado, e queremos um estado inchado e provedor; portanto, mandem-nos para
Washington para que possamos acabar com ambos. Já os republicanos falam
bastante sobre o quanto defendem a liberdade, o individualismo, a
responsabilidade pessoal, um governo enxuto e limitado, e um orçamento equilibrado.
E, no entanto, quando vão para Washington, alimentam a besta e a fazem crescer
muito mais do que os democratas.
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Para
entender por que o governo Clinton foi economicamente o melhor, veja este
artigo:
Governos de esquerda que
adotam reformas liberais