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Filosofia

O que é o estado?

06/04/2009

O que é o estado?

Em todos os países democráticos, o debate sempre gira em torno de uma única questão: de que maneira o poder do estado deve ser expandido. 

A esquerda tem a sua lista específica; a direita, também.  Ambas representam uma grave ameaça à única posição política que é verdadeiramente benéfica para o mundo e seus habitantes: a liberdade. 

O que é o estado?  É um grupo dentro da sociedade que clama para si o direito exclusivo de controlar a vida de todos.  Para isso, ele utiliza um arranjo especial de leis que permite a ele fazer com os outros tudo aquilo que esses outros são corretamente proibidos de fazer: atacar a vida, a liberdade e a propriedade.

Por que uma sociedade, qualquer sociedade, permitiria que tal quadrilha desfrutasse incontestavelmente esse privilégio?  Mais ainda: por que uma sociedade consideraria legítimo esse privilégio? 

É aqui que a ideologia entra em cena.  A realidade do estado é inquestionável: trata-se de uma máquina de coerção, extorsão, encarceramento e assassinato -- tudo isso em larga escala.  Sendo assim, por que tantas pessoas clamam por sua expansão?  Aliás, por que sequer toleramos sua existência? 

A própria ideia da instituição estado é tão implausível por si só, que é necessário que ele, o estado, vista uma roupagem ideológica para que consiga apoio popular.

Na antiguidade, os estados tinham uma ou duas roupagens: ou eles prometiam lhe proteger contra inimigos externos ou eles eram ordenados pelos deuses.  Em maior ou menor escala, todos os estados modernos ainda empregam essa lógica, mas o estado democrático atual é muito mais complexo.  Ele utiliza uma vasta gama de argumentos ideológicos -- espertamente divididos entre esquerda e direita -- que refletem as prioridades sociais e culturais de certos nichos grupais, ainda que todos esses argumentos sejam contraditórios.

A esquerda quer que o estado redistribua riqueza, estabeleça a igualdade material (e até espiritual) entre todos, regule pesadamente toda a iniciativa privada, sustente todos os trabalhadores, alimente e abrigue os pobres, proteja o meio ambiente, imponha a sua cultura e nos dê uma identidade nacional de cunho secular.

A direita, por sua vez, quer que o estado puna os malfeitores (incluindo viciados e pessoas de outras religiões), apóie a família, subsidie estilos de vida que ela considera corretos, dê segurança contra inimigos externos, imponha a sua cultura e nos dê uma identidade nacional de cunho religioso.

Como todos esses interesses conflitantes são resolvidos?  Ambos os grupos se aglomeram, fazem conchavos e chamam o resultado de democracia.  Esquerda e direita concordam em deixar que cada uma tenha sua fatia do bolo, desde que nada seja feito para prejudicar seus respectivos interesses.  O truque é manter o equilíbrio.  Quem será o beneficiado da vez vai depender apenas de quem estiver no comando.  Desde que o revezamento de comando esteja garantido, ambas terão seus desejos assegurados.  E pronto. 

Temos aí uma descrição sucinta do estado moderno.  Trata-se apenas de uma disputa de poder entre quadrilhas, cada qual visando seus próprios interesses e os de sua base de apoio.  Quem está interessado apenas em liberdade, não apenas está sem representação como também é obrigado a sustentar ambos os grupos.  E caso você se rebele e resolva exercer sua liberdade -- isto é, parar de sustentar a quadrilha -- será condenado e encarcerado por algumas décadas, tão poderosa e ciosa de seus interesses essa quadrilha é.  Se você fugir de um assaltante de rua, você está livre.  Se você fugir do estado, você vai preso.

Os chefes supremos dos leviatãs atuais não necessariamente desfilam empertigados em uniformes militares.  Mas os poderes dos quais eles desfrutam fariam com que os Césares da antiguidade morressem de inveja.  O estado totalitário de hoje é mais calmo e ardiloso do que em sua infância -- que começou no período entreguerras --, mas de modo algum abandonou seu objetivo de poder supremo e indisputável.

Aqueles que se interessam pela liberdade têm o dever de se tornarem os dissidentes de nossa época, rejeitando todas as demandas de estatismo que advêm tanto da esquerda quanto da direita.  Pois é só nisso que ambas estão interessadas: no poder propiciado pelo controle do estado. 

E para lograrmos êxito é necessário desenvolver e promover um programa positivo sobre a liberdade, um programa que seja radical, estimulante, vigoroso e genuíno, como jamais foi.

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Sobre o autor

Lew Rockwell

É o chairman e CEO do Ludwig von Mises Institute, em Auburn, Alabama, editor do website LewRockwell.com , e autor dos livros Speaking of Liberty.

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