segunda-feira, 18 jul 2016
Se houvesse uma disputa para ver qual é a ideia mais
ignara da política atual, minha escolha seria aquela que afirma que, se não
fosse o preconceito e a discriminação, todas as pessoas (homens e mulheres,
negros e brancos, gays e heterossexuais, cristãos, judeus, muçulmanos, ateus,
budistas etc.) seriam igualmente distribuídas em termos de renda, ocupação,
posição em empresas e premiações recebidas.
Cruzadas políticas, impérios burocráticos, e
lucrativas carreiras pessoais voltadas para a reclamação e exigência de mais
"direitos" já foram erguidos tendo exclusivamente por base essa suposição, a
qual praticamente nunca foi testada contra quaisquer fatos.
Peguemos o mais recente exemplo dessa obtusidade. Um artigo
do The New York Times viu como um
problema o fato de que mulheres estão extremamente sub-representadas no ranking
mundial dos melhores jogadores de xadrez.
Igualmente, vários artigos, reportagens de TV e lamúrias políticas já
foram produzidos tendo por base uma suposta "sub-representação" de mulheres no
Vale do Silício, algo visto como um grave problema que tem de ser urgentemente
resolvido.
Por acaso há um exército de meninas que estão ávidas
para jogar xadrez, mas que estão sendo negadas a esta oportunidade? Por acaso há um exército de mulheres com um
Ph.D. em ciências computacionais pelo Massachusetts Institute of Technology e
pelo Instituto de Tecnologia da Califórnia sendo friamente rejeitadas quando
vão ao Vale do Silício se candidatar a um emprego?
Será que meninos e meninas não podem ter interesses
distintos? Se as meninas tivessem o
mesmo interesse em xadrez que os meninos, mas fossem banidas dos clubes de
xadrez, aí sim haveria um argumento. Mas
isso seria algo muito diferente do fato de que elas simplesmente não têm o
mesmo interesse por xadrez que os meninos.
Quanto aos rankings de xadrez, não se trata de algo subjetivo: eles se
baseiam em quais jogadores (e suas respectivas pontuações) você já venceu e
perdeu para.
Por acaso não se deve permitir que mulheres e homens
tomem decisões diferentes em relação a como irão gastar seu tempo e viver suas
vidas?
Jogar xadrez não é o único empreendimento que pode exigir
uma grande parcela de tempo em sua vida, bem como um perseverante esforço, para
se chegar ao topo. Se você quer se
tornar um grande cientista, um sócio em uma grande firma de advocacia, ou o
executivo-chefe de uma grande corporação, você muito dificilmente conseguirá
tal façanha apenas trabalhando de 9 às 17h, tirando várias licenças para ter
filhos e criá-los.
Mas tudo pode piorar.
Aplicar essa mesma e infundada suposição sobre "diferenças
de representatividade" para diferentes grupos raciais e étnicos tornou-se hoje
uma política lucrativa: ela gera várias e ruidosas reclamações e cruzadas políticas,
além de milhões de dólares em processos judiciais acusando "discriminação" —
tudo sem uma única evidência senão números que não se encaixam nas pressuposições
dominantes.
E o fato é que você pode estudar inúmeros grupos, em
vários países ao redor do mundo, hoje ou mesmo ao logo dos séculos da história,
e não encontrará um único exemplo desses "resultados iguais" que possam ser utilizados
como referência para estipular que "está havendo discriminação".
Eis aí um fenômeno que não possui confirmação
histórica, um fenômeno que, não obstante uma ausência de qualquer exemplo
prático, é hoje presumido como sendo a norma: igualdade de realizações, de diferentes
grupos (de cor, etnia e gênero), em um dado período do tempo.
No entanto, o que mais temos hoje são grupos de
interesse e movimentos sociais apresentando estatísticas — que são solenemente
repercutidas pela mídia — alegando que, dado que os números de realização, premiação e representação
ocupacional não são aproximadamente iguais para todos, isso seria uma prova de
que alguém foi discriminatório com outro alguém.
E isso, segundo o salto lógico realizado por esses ideólogos,
seria uma comprovação de que os resultados seriam iguais para todos caso alguém
não tratasse mal outra pessoa.
O problema, só para começar, é que mesmo algo tão simples
e básico quanto diferenças de idade entre grupos pode arruinar qualquer pressuposição
de resultados iguais.
Se cada porto-riquense que vive nos EUA tivesse uma
renda idêntica à renda de cada nipo-americano de 20 anos de idade — e rendas idênticas
também para todas as outras idades —, o nipo-americanos ainda assim teriam, em
sua totalidade, uma renda média superior à dos porto-riquenses nos EUA. E seria assim porque a idade média dos
nipo-americanos é muito maior que 20 anos de idade. Há muito mais nipo-americanos com mais de 20
anos de idade do que porto-riquenses. Se
um grupo é formado por pessoas com mais anos de experiência de trabalho, então esse
grupo normalmente ganha maiores salários.
A média de idade na Alemanha e no Japão é de mais de
40 anos, ao passo que a média de idade no Afeganistão e no Iêmen é de menos de
20 anos. Mesmo que as pessoas destes quatro países tivessem absolutamente
o mesmo potencial intelectual, o mesmo histórico, a mesma cultura — e os
países apresentassem rigorosamente as mesmas características geográficas —, o
fato de que as pessoas de determinados países possuem 20 anos a mais de
experiência do que as pessoas de outros países ainda seria o suficiente para fazer
com que resultados econômicos e pessoais idênticos sejam virtualmente
impossíveis.
Pessoas com 20 anos a mais de experiência de
trabalho normalmente ganham maiores salários.
E diferenças etárias são apenas uma das várias diferenças entre os
grupos.
Mais ainda: uma igualdade geral de resultados jamais
foi testemunhada, em qualquer período da história, até mesmo entre aqueles
vários grupos que hoje são ajuntados e classificados como "brancos". Sendo assim, por que então as diferenças
estatísticas entre negros e brancos, ou entre homens e mulheres, produzem
afirmações tão dogmáticas — e geram tantas ações judiciais e trabalhistas por
discriminação — sendo que a própria história mostra que sempre foi comum que
diferentes grupos seguissem diferenciados padrões ocupacionais ou de comportamento?
Um dos motivos é que ações judiciais não necessitam
de nada mais do que diferenças estatísticas para produzir vereditos, ou acordos
fora de tribunais, no valor de vultosas somas monetárias. E o motivo de
isso ocorrer é porque várias pessoas aceitam a infundada presunção de que há
algo de estranho e sinistro quando diferentes pessoas, de diferentes cores, gêneros
e opções sexuais, apresentam diferentes graus de êxito pessoal.
O desejo de intelectuais de criar alguma grande
teoria que seja capaz de explicar padrões complexos por meio de algum simples e
solitário fator produziu várias ideias que não resistem a nenhum escrutínio,
mas que não obstante têm aceitação generalizada — e, algumas vezes,
consequências catastróficas — em vários países ao redor do mundo.
A vida é, sem dúvida nenhuma, injusta. Mas isso não é o mesmo que dizer que as injustiças
ocorreram exatamente em todos os lugares em que as estatísticas foram
coletadas. As origens das desigualdades
de resultados frequentemente remetem a diferentes ambientes familiares vividos
na infância ou a diferentes
arranjos geográficos e culturais para grupos e nações.
Essas diferenças entre nações, bem como as diferenças
entre indivíduos e grupos, refletem o fato de que o mundo jamais apresentou condições
equitativas para todas as pessoas em todos os lugares do mundo. O renomado historiador Fernand Braudel disse
que "Em nenhuma sociedade, todas as regiões e todas as partes da população se
desenvolveram de maneira uniforme e homogênea".
Por mais quanto tempo vamos continuar tratando como
se fosse uma regra algo que não apenas nunca ocorreu na história do mundo, como
também dificilmente virá a ocorrer?