Uma crença que sempre ressalto, dia após dia, é que
estamos em guerra — não uma guerra física, que envolve tiros e bombardeios,
mas uma guerra suscetível a se tornar tão destrutiva e custosa quanto.
A batalha pela preservação e avanço da liberdade é
uma batalha não contra pessoas, mas sim contra idéias contrárias. O autor francês Victor Hugo certa vez disse:
"É possível resistir a uma invasão de exércitos; mas é impossível resistir à
invasão de idéias".
Essa declaração é frequentemente reformulada como "Existe
uma coisa mais poderosa que todos os exércitos: uma idéia cuja oportunidade
chegou."
Idéias possuem consequências abaladoras e impactantes. Foram elas que determinaram o curso da
história.
O feudalismo existiu por milhares de anos porque, em
grande parte, os professores, intelectuais, educadores, sacerdotes e políticos
da época propagavam e defendiam as idéias feudalistas. A noção de "uma vez servo, para sempre servo"
fez com que milhões de pessoas jamais questionassem a situação estacionária de
suas vidas.
Sob o mercantilismo, o conceito amplamente aceito de
que a riqueza do mundo era fixa e pré-determinada levou indivíduos a roubar
tudo aquilo que queriam de outros, o que culminou em uma longa série de guerras
sangrentas.
A publicação, em 1776, do livro A Riqueza
das Nações, de Adam Smith, representou um marco na história do poder
das idéias. À medida que a mensagem de
Smith sobre o livre comércio foi se espalhando, as barreiras políticas à
cooperação pacífica (via transações voluntárias de mercado) foram entrando em
colapso, e praticamente todo o mundo decidiu, pela primeira vez na história,
tentar a liberdade.
Marx e os marxistas queriam nos fazer crer que o socialismo era inevitável. Com mesma certeza que temos de que o sol
nascerá amanhã a leste, eles afirmavam que o socialismo é uma ideia que, no
futuro, seria implantada em todo o mundo.
No entanto, enquanto os indivíduos forem dotados do livre arbítrio (o
poder de preferir o certo ao errado), nada que envolva a escolha humana pode
ser inevitável. Se o socialismo vier,
será porque os indivíduos optaram por abraçar seus princípios.
Mas embora o socialismo seja um fracasso completo e comprovado, suas idéias
constituem a principal ameaça atual à liberdade. A meu ver, o socialismo pode ser decomposto
nas seguintes cinco idéias.
1.
As síndromes do "deveríamos criar uma lei para" e "o governo tem de fazer
alguma coisa!"
Criar uma lei ou exigir que o governo "faça algo"
são medidas que aparentemente se tornaram um passatempo entre políticos,
intelectuais e ativistas.
Um setor da economia está mal? O governo deve lhe conceder subsídios ou
então aumentar a tarifa de importação sobre os concorrentes estrangeiros. Pobreza?
Criemos um projeto de lei para aboli-la.
A educação está ruim? Que se crie
um projeto de lei que obrigue o governo a destinar ainda mais dinheiro para os
sindicatos dos professores. A cultura
nacional é fraca? Uma lei que dê mais
dinheiro para a classe artística é impreterível. Os taxistas estão descontentes? Uma lei proibindo a Uber é urgente.
Quase que invariavelmente, uma nova lei significa:
(a) mais impostos para financiar sua imposição e administração; (b) aumento no
quadro de funcionários públicos para regular algum aspecto da nossa vida que
até então não era regulado; e (c) penalidades a quem violar essas novas leis.
Mais leis significam mais controle governamental,
mais poder a políticos, e mais coerção.
Que não haja dúvidas quanto ao significado de coerção: força, espoliação, compulsão, restrição. Sinônimos para a forma verbal da palavra são
ainda mais instrutivos: impingir, exigir,
subjugar, extorquir, extrair, arrancar, intrometer, distorcer, coagir, obrigar,
pressionar.
Quando o governo intervém na economia, burocratas e
políticos passam a maior parte do tempo tentando corrigir as consequências
inesperadas de suas intervenções anteriores.
E fazem isso por meio de novos projetos de lei. Para corrigir os danos causados pela
providência A, eles criam o dispositivo B.
Mas como B também gera consequências não-previstas, eles concluem que,
para corrigir essas distorções causadas pelo dispositivo B, é necessário criar
a cláusula C. Como C também cria
desarranjos, é necessário então aprovar a provisão D. E assim vai, até que todo o alfabeto, em
conjunto com nossas liberdades, seja exaurido.
As síndromes do "deveríamos criar uma lei para" e "o
governo tem de fazer alguma coisa!" evidenciam uma fé irracional no processo
político e uma confiança plena na força e na coerção, coisas que deveriam ser
anátema em uma sociedade livre.
2.
A fantasia de que é possível conseguir algo do governo
O governo, por definição, não tem nada para
distribuir que antes não tenha confiscado das pessoas. Impostos não são doações.
Esse fato tão básico é solenemente ignorado pelos
clamores de melhores remunerações para o funcionalismo público, mais programas
assistencialistas, mais "serviços públicos e gratuitos", mais incentivos ao
lazer e à cultura.
Se você acredita que o governo pode lhe dar algo que
você não conseguiria adquirir voluntariamente, faça a si mesmo esta pergunta:
"De que bolso está saindo isso? Estaria
eu sendo roubado para pagar por esse benefício, ou o governo está roubando
outra pessoa para me privilegiar?".
Frequentemente, a resposta é "as duas coisas".
O resultado dessa fantasia é que todas as pessoas
estão com as mãos nos bolsos de outras pessoas.
3.
A psicose do "quero mais"
Recentemente, nos EUA, uma mãe que vivia de
assistencialismo estatal escreveu uma carta para o Ministério responsável pelo
programa e demandou: "Estou grávida do meu sexto filho. O que vocês farão a respeito?"
Um indivíduo se torna vítima da psicose do "quero
mais" quando ele deixa de se enxergar como o único responsável por si
mesmo. A mentalidade é: "Meus problemas
não são realmente meus; são da sociedade como um todo. E se a sociedade não resolvê-los, e rápido,
então teremos problemas!".
O socialismo prospera com o abandono da
responsabilidade individual. Quando os
indivíduos perdem seu espírito de independência e de iniciativa, quando perdem
a confiança em si próprios, eles se tornam mera massa de manobra nas mãos de
tiranos e déspotas, que adoram pessoas sem iniciativa e com espírito
derrotista.
4.
A aflição do "eu sei o que é melhor para você"
Essa é a característica central da ideia
socialista.
O "eu sei melhor" é o tirano que se intromete na
vida dos outros. Sua atitude pode ser
expressa desta forma: "Eu sei o que é melhor para você, mas não me satisfaço em
apenas tentar convencer você de quão certo eu estou; o que realmente quero é
obrigar você a adotar as minhas medidas."
O "eu sei melhor" é a perfeita encarnação da
arrogância e da intolerância.
No linguajar governamental, o refrão do "eu sei
melhor" segue este raciocínio: "Se eu não pensei nisso antes, então não pode
ser feito; e já que não pode ser feito, tenho de proibir qualquer um que queira
tentar". Como um exemplo prático, o
governo proíbe empresas privadas de atuar no serviço de correios com o
argumento de que tal serviço não pode ser operado de maneira lucrativa (uma vez
que os Correios estatais só operam com prejuízo).
O milagre do mercado é
que, quando os indivíduos são livres para tentar, eles podem — e realmente
conseguem — alcançar grandes feitos. Se
simplesmente aceitarmos que não deve haver restrições artificiais às energias
criativas dos seres humanos, a aflição do "eu sei melhor" seria prontamente
rejeitada e escarnecida.
5. A inveja obsessiva
A cobiça pela riqueza e
renda de terceiros foi exatamente o que deu origem à esmagadora maioria das
legislações de cunho socialista que são criadas hoje. A inveja é o combustível que alimenta o motor
da redistribuição. Os vários clamores
para que se "tribute
mais os ricos" têm suas raízes na inveja e na cobiça.
O que acontece quando as pessoas são obcecadas em
sua inveja? Elas dizem que seus
problemas são causados por aqueles que estão em melhor situação financeira do
que elas. Elas atribuem a causa de suas
frustrações a quem tem mais posses.
Para tais pessoas, a sociedade está fraturada em
classes, e cada facção se alimenta daquilo que rouba da outra. A história está repleta de exemplos de
civilizações que se esfacelaram sob o peso da inveja e de todo o desrespeito à
propriedade privada gerado pela inveja.
Um
aspecto em comum
Há algo em comum em todas essas cinco idéias
socialistas. Todas elas apelam aos
instintos mais primitivos e sombrios do indivíduo: o lado não-criativo,
preguiçoso, dependente, desmoralizante, improdutivo e destrutivo da natureza
humana.
Nenhuma sociedade pode perdurar por muito tempo se
sua população se entregar, sem resistência, a tais noções suicidas.
Agora, veja a filosofia da liberdade. Trata-se de uma filosofia edificante, motivadora,
criativa, regenerativa e estimulante. Ela
recorre às — e depende das — qualidades mais nobres da natureza humana, como
a responsabilidade individual, a autoconfiança, a iniciativa própria, o
respeito à propriedade privada, e à cooperação voluntária.
O resultado dessa batalha entre liberdade e servidão
dependerá inteiramente de quais idéias terão maior aceitação nos corações e
mentes dos indivíduos. O júri ainda está
deliberando.